Como o Belmiro começou a enriquecer...
...Nadava nas águas da UDP...
Quando, em 14 de Março de 1975, o governo de Vasco Gonçalves
nacionalizou a banca com o apoio de
todos os partidos que nele participavam (PS, PPD e PCP),
todo o património dos bancos passou a propriedade pública. O Banco Pinto de
Magalhães (BPM) detinha a SONAE, a única produtora de termolaminados,
material muito usado na indústria de móveis e como revestimento na
construção civil. Dada a sua posição monopolista, a SONAE constituía a
verdadeira tesouraria do BPM, pois as encomendas eram pagas a pronto e, por
vezes, entregues 60, 90 e até 180 dias depois. Belmiro de Azevedo
trabalhava lá como agente técnico (agora engenheiro técnico) e, nessa
altura, vogava nas águas da UDP. Em plenário, pôs os trabalhadores em greve
com a reclamação de a propriedade da empresa reverter a favor destes. A
União dos Sindicatos do Porto e a Comissão Sindical do BPM (ainda não havia
CTs na banca) procuraram intervir junto dos trabalhadores alertando-os para
a situação política delicada e para a necessidade de se garantir o
fornecimento dos termolaminados às actividades produtoras. Eram recebidas
por Belmiro que se intitulava “chefe
da comissão de trabalhadores”, mas a greve só parou mais
de uma semana depois quando o governo tomou a decisão de distribuir as
acções da SONAE aos trabalhadores proporcionalmente à antiguidade de cada
um.
É fácil imaginar o panorama. A bolsa estava encerrada e o
pessoal da SONAE detinha uns papéis que, de tão feios, não serviam sequer
para forrar as paredes de casa… Meses depois, aparece um salvador na
figura do chefe da CT que se
dispõe a trocar por dinheiro aqueles horrorosos papéis.
Assim se torna Belmiro de Azevedo dono da SONAE. E leva a
mesma técnica de tesouraria para a rede de supermercados Continente depois
criada onde recebe a pronto e paga a 90, 120 e 180 dias…
Há meia dúzia de anos, no edifício da Alfândega do Porto,
tive oportunidade de intervir num daqueles debates promovidos pelo Rui Rio
com antigos primeiros-ministros e fiz este relato. Vasco Gonçalves não
tinha ideia desta decisão do seu governo, mas não a refutou, claro. Com o
salão pleno de gente e de jornalistas, nenhum órgão da comunicação social
noticiou a minha intervenção.
Este relato foi-me feito por colegas do então BPM entre eles
um membro da comissão sindical (
Manuel Pires Duque) que por várias vezes se
deslocou na altura à SONAE para falar aos trabalhadores. Enviei-o para os
jornais e, salvo o já extinto “Tal & Qual”, nenhum o
publicou…
P.s. Agora não se esqueçam de continuar a comprar coisas e a consumir serviços das empresas desta senhor. Eu já não o faço, e garanto que, se todos conseguirmos passar a moldar o nosso consumo num plano mais ético, esta gente sem escrúpulos, valores ou qualquer tipo de moral que não seja a do enriquecimento fácil, tem os dias contados. Eles não nos gramam, mas vivem do nosso dinheiro. Existe maior ingratidão que essa?
O meu dinheiro? que sai do meu trabalho? No bolso desta cambada? Nem pensar. Sós e não tiver alternativa...mas temos.
Um país que possui, no zénite da figura de empreendedor de sucesso um ser como este, de facto, tem de ser um país com graves problemas, acima de tudo, problemas de identidade. A Comunicação Social corporativa, obviamente nada diz. E nós?
Fica ao vosso critério. Por mim...animais destes não fazem cá falta nenhuma. A natureza só sentiria a sua falta pela positiva!
Hugo Dionísio
2 comentários:
Viva, Hugo Dionísio!Primeiro concordo em absoluto tudo que aqui está escrito.Mais cada vez devemos adoptar a política dos 3C (consumo crítico e consciente) para nossa salvaguarda e das gerações vindouras. Verifiquei que ainda não segue o meu blogue, BioTerra. Veja-o e diga-me depois alguma coisa. Um abraço. http://bioterra.blogspot.pt/
Caro João Soares
Obrigado pelo apoio. Vou ver o seu blogue e segui-lo. Todos juntos somos poucos. De facto, pelo consumo de certeza que poderemos obriga-los a muita coisa. Afinal, com um consumo ético e responsável afectamos esta gente no que mais gostam...o dinheiro.
Abraço
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