há mais de 2000 anos já se sabia!

Cuidado! Vê o que acontece se não participares. Já Platão o sabia. Quantos mais milhares de anos serão necessários para tu também o saberes?

A injusta repartição da riqueza!

Consideras justa esta repartição da riqueza? Então o que esperas para reinvindicares uma mais justa? alguém que o faça por ti? Espera sentado/a!

Não sejas mais um frustrado/a!

Não há pior frustração do que a que resulta da sensação de que não fizemos tudo o que podiamos!

Praticamente...nada!



Zé Manel, o mais perfeito exemplar de um antropóide da categoria nacional mais representativa, o Homem Light, ou como diria Saramago, o Homem Duplicado, nas suas diversas verborreias de café, lar ou trabalho, sempre que questionado, até num mero fórum Internet, sobre a sua (In) consciência religiosa, responde sempre:

- Sou Católico, Não Praticante!

É engraçado! Desde o Zé Manel da tasca ao Zé Manel da festa Jet 7, cuja tromba sai escarrapachada na revista “Trombas” ou na “Nova (Indi)gente”, de acordo com o princípio Universal da lei do Mais Fácil, a resposta a esta pergunta é sempre igual, :

- Sou Católico, Não Praticante!

Até custa a crer que ovelhas destas, muitas delas tão tresmalhadas que só se lembram que são do rebanho quando, numa manhã de sobriedade pós crepúsculo festivo, se dão conta de que estão dentro de uma igreja, numa qualquer festinha de casamento, baptizado ou funeral, onde são capazes até de largar uma lágrima ou duas, se auto denominem de Católicos, com toda a sua muito limpinha, brilhante e assinada lãzinha.

Claro que se calhar não são só Católicos Praticantes. Se calhar, se formos bem a ver, são apenas…Praticamente Não Católicos! Digamos que, para que toda a gente possa pertencer ao rebanho de carneirada que age por reflexo condicionado, a igreja católica decidiu criar duas categorias de ovelhas:

  • Os católicos praticantes, ou seja, os Beatos
  • Os católicos não praticantes, ou seja, os católicos light ou os Praticamente Não Católicos.

Numa era da superficialidade, do faz de conta, do diz que disse e do que parece mas não é, até deus parece que existe. Para todos os querem parecer bem, agradáveis à vista, dá um jeitaço haver uma categoria de Católicos Light. Se até há chocolate light! E manteiga light! Porque não um Católico light? Afinal, Católico Não Praticante é isso mesmo, é Na Prática Não Se Ser Católico. Uma espécie de “Sou Católico, Mas Na Prática Não Sou” ou melhor ainda “Sou Católico Mas Não Sou”. Contradição? Nem por isso. Tudo o que parece ser…não o é. Aparentemente uma regra, com algumas aparentes excepções, mas mesmo assim, pelo menos, aparentemente, uma regra.

Já viram se a igreja não tivesse uma versão Católico Light, uma espécie de Aparentemente Católico? O que seria dela? A regra Católica é tão dura que não sobraria nenhum, nem o Papa se safava. Pelo menos é o que parece, quando vemos o estado da Igreja Católica e dos seus ministros.

Zé Manel da Tasca, o Católico não praticante, de dia católico, à noite ateu, dos mais ateu que se pode ser, teria de prescindir do seu vinho diário, da porrada na Maria, da fuga aos impostos, da Inveja do vizinho do lado, do gosto desmesurado por tudo o que envolve dinheiro, do consumismo, da conivência com a injustiça, da cobardia no trabalho… A sua Maria teria de prescindir da novela com cenas quase pornográficas, das cusquices sobre a vida alheia…Os dois teriam de prescindir das aparências, das ilusões, da inveja e da língua também.

Já o Zé Manel do Jet 7, incluindo aqueles Zés Manueis que tudo fazem para vir a pertencer a este Jet 7, ou pelo menos, que tentam fazer parecer que pertencem ao Jet 7, teria de prescindir da superficialidade da sua vida em detrimento de um conceito mais espiritual, mais esotérico, ou…alegadamente, mais cristão. Teriam de prescindir da cultura do corpo, para passar à cultura do espírito. Teriam de prescindir do consumismo compulsivo, das festas regadas a álcool e parece que a açúcar branquinho, a prescindir do mixing sexual, das mentiras, dos bicos de pés, da inveja, do gosto desmesurado por tudo o que envolve dinheiro, das novelas com cenas quase pornográficas, da palmadinha nas costas… As Marias também teriam de prescindir disto tudo, mais da cusquice (os Zés do Jet 7 também) e de outras coisas sem fim que, aparentemente, de cristão e católico nada têm.

Já perceberam? Ser Católico Light é poder fazer isto tudo e muito mais. Pode roubar-se, matar-se, violar-se, mentir-se, burlar-se, defraudar-se, tudo está ao alcance de um Católico Light. Basta olhar para os nossos conterrâneos católicos (se calhar não estão lá muito católicos). Desde a Tasca ao T-club, passando por aquelas casas de maus hábitos que são o Palácio de S.Bento e da Ajuda. Nestes, os Light misturam-se com os Hard e vejam o que sai de lá. Alegadamente, uma grande hipocrisia, cinismo, corrupção, Tráfico de influências, Lavagem de dinheiro, peculatos e outros actos de correspondência quantitativamente quase perfeita, em termos éticos, à crença que dizem possuir por deus, por Cristo e pelo espírito santo.

Se Católico Light é não ter de fazer Jejuns (Já não há Jejuns na Igreja Católica? Mas havia). Jejuns? Agora basta não comer carne de animal terrestre na 6ª feira Santa. Ser Católico Light é não ter de viver em função do espírito e fazê-lo em função corpo e da matéria (principalmente do vil metal). Aparentemente até ainda temos a a bula das indulgências. Basta dar dinheiro à Igreja e praticar a caridadezinha. Ser Católico Light é não ter de fazer sexo apenas para procriar (já não é assim? Basta só não usar preservativo). É não ter de ir à missa ao domingo etc. Aparentemente, desde que se reze, penitencie e confesse, podemos prescindir de qualquer plano ético de sobrevivência. É pecado? Não interessa, aparentemente, basta o arrependimento De facto, que Deuzinho tão bom!

Mas há mais. Um católico light até pode, quando está com os copos, emitir grunhidos satânicos e sacrilégios diversos. Pode até ser pedófilo (Ai, os católicos Hard também?). Podem explorar o próximo, desde que seja para obter lucro etc. As Santas casas da misericórdia, as Legiões, As boas vontades, estão cá par ajudar com a cardidade, a limpar o lixo para debaixo da cama. Afinal, basta parecer que se está limpo, porque arrependendo-se, até deus se engana.

Espera aí, estou a constatar que a própria Igreja Católica é uma Igreja Light quanto baste para se poder dizer…sou católico não praticante! Como é que alguém pode ser algo que na prática não é? Se calhar a Igreja Católica é que é light e os católicos não praticantes, são…Católicos Diet. Ou Católicos Slim, ou Mini-Católicos. Uma espécie de Meia ovelha, meio lobo.

Afinal, tudo isto não importa, porque seja que tipo de católico for, do Light ao Diet, afinal só tem de se arrepender. Se se arrepender, deus perdoa, se não deus não perdoa. Ou seja, podemos cometer toda a espécie de barbáries, podemos mesmo renunciar à nossa humanidade e à nossa consciência (aliás, todos os dias ouvimos as ovelhas dizerem: - Que Inconsciência!), porque no fim, basta, em consciência, arrependermo-nos. Estamos perdoados e vamos para o céu.

Ora porra! O que ando eu aqui a fazer com problemas de consciência? Respeitar o próximo, ajudar o próximo? Vou mas é ser Católico Light, Diet, Mini ou seja o que for, pois tudo será mais fácil, a consciência dos meus actos nem precisa de ser a minha. Basta a consciência de Deus, é ele que me perdoa no fim. O peso de consciência é Dele. Que jeito que isto dá a tanta gente. POR isso há tanta Inconsciência. Ah! Portugal, depois de tudo, afinal…basta o arrependimento.

Viva a era do Light, até já há religião Light para pessoas Light.


Hugo Dionísio


Ilusões de invisibilidade


Laureni Santori, famosíssimo estilista da moda mundial, reconhecido pela sua “fineza” estética (e corporal) é o patrão da associação mundial das empresas de moda. Este senhor, amante do bonito e do belo, duas das qualidades imprescindíveis para quem anda nestas lides (embora muitas vezes não se saiba bem a que bonito e belo de referem) é o responsável pela sobrevivência e expansão da indústria da moda.

A indústria da moda, como indústria da aparência é também a indústria da ilusão. A ilusão de que qualquer um pode chegar aos estereótipos criados e difundidos. Alguns, só por via da ilusão de óptica, é verdade, pois a sua aparência não lhe permite outro tipo de ilusão mais materializável, mas mesmo assim, também têm o direito a acreditar de que um dia, com muitíssimo esforço, farão parte desse mundo de hologramas e efeitos de photoshop, que é o mundo da moda.

Um desses estereótipos, mais difundidos por Laureni Santori, é o da magreza extrema. As modelos e os modelos são cada vez mais magros, aliás, qualquer dia, quem ficar de lado nos desfiles, não vê os manequins, mas isso é um pormenor muito pequeno, em função do pormaior que levou Laureni Santori a querer difundir (ao contrário da moda dos anos 20 e 30 que difundia a ideia de mulher redondinha, trigueirazinha, forradinha…Aí que saudades desse tempo!) a ideia de magreza em que assenta a ilusão da moda actual.

E que pormaior é esse? Pois é, já pensaram em quem ganha com essa ideia de magreza extrema? Vamos fazer a lista:

• Os psicólogos e pedopsicólogos, ao tratarem os jovens e adultos com problemas de anorexia e bulimia. Se o estereótipo apontasse para pessoas mais “normais”, já viram o dinheiro que o estado poupava em Saúde Mental? E as pessoas andariam muito mais satisfeitas, não?

As conversas das mulheres em vez de – Então Maria, já se nota um pneuzinho, tens de emagrecer. Seriam – Então Maria, não tens pneuzinho nenhum? Tens de engordar! (até a agricultura e a industria alimentar se desenvolviam mais). Ou ainda: - Então Maria, a gravidez deixa marcas, não é? Ainda vais levar tempo a voltar ao lugar! E em vez disso: - Então Maria, a gravidez fez-te muito bem! Está mais bonita! (até a natalidade subia, o que era bom para contrariar o envelhecimento da população).

• Os investidores em Centros de plásticas e estética corporal. Quem quereria bandas gástricas e lipoaspirações? Em vez disso, far-se-iam “extensões gástricas” e “lipointroduções” para os mais magrinhos.

• Os investidores em ginásios, spas e health centers. Não haveria lugar para vícios do desporto e da actividade física extrema. O desporto voltaria a ser visto como algo de saudável e com vista ao desenvolvimento humano e não como um caminho sem fim para a magreza extrema.

As conversas seriam: - Então, foste ao ginásio hoje? Vê lá se não voltas lá amanhã! Tanto ginásio põe-te fora de forma!

• Os empresários de pastilhas e comprimidos dietéticos. Quem os tomaria? Voltariam os tempos em que se iria à farmácia pedir umas vitaminas porque se andava sem apetite. Hoje em dia, a maioria das pessoas, quando não têm apetite, saltam de contentes.

• Os empresários de comida light. Quem pediria um queijo da serra light? Ou uma compota light? Ou um pacote de leite com chocolate light? Ou um chouriço light? Em vez disso, a industria alimentar tradicional seria o orgulho da nação, sem preconceitos e sem terem de viver com a consciência pesada de ter de enganar o público em geral, tendo de chamar light a coisas que de light nada têm.

• Os nutricionistas e outros. Quem iria ao nutricionista? Só quem queria engordar.

• Os fabricantes de cremes para criar a ilusão de que se emagrece. As pessoas compram esses cremes, colocam-nos todos os dias, várias vezes ao dia e até aprece que fazem efeito, porque basta ter a ilusão que fazem.

• Os fabricantes de espelhos em que as pessoas parecem mais magras.

Pois é, vou registar a patente de um espelho destes, afinal, num mundo de ilusões tanto faz ser magro, como parecer magro. Não?

Agora vejam, como Laureni Santori merece o Nobel da economia. Já viram que indústria da magreza existe por causa do seu estereótipo? Até custa a crer que alguém tenha pensado nisto não?

Laureni Santori não existe…ou talvez sim...

Hugo Dionísio


Mais Biblia

Continuando com os católicos, diz a Sociedade Bibliográfica Portuguesa, a propósito do lançamento de “Caim”, o livro novo do nosso prémio Nobel, José Saramago, que a Bíblia é o “livro mais traduzido, mais lido e mais vendido, de sempre”.


Engraçado, utilizar este critério como um critério de qualidade, já agora utilizemos este critério a outros propósitos:
• Sócrates foi o político Português mais votado


• Cavaco foi o candidato presidencial mais votado

• Quim Barreiros é o artista mais ouvido nas semanas académicas

• Salazar foi o mais votado para figura Portuguesa do Século XX

• As ruas de Lisboa são as que têm mais buracos do mundo

• Portugal é um dos países com mais corrupção de Europa

• Portugal está entre os países mais pobres da Europa

• Portugal é o país com mais analfabetismo da União Europeia

• Portugal tem o maior fosso económico entre ricos e pobres da EU

• Margarida Rebelo Pinto é a escritora Portuguesa que mais tem vendido nos últimos anos
Se a isto juntarmos:
• A Bíblia Sagrada é o Livro mais presente nas casas Portuguesas
Só me resta dizer, que país mais maravilhoso que este não existe!

 
Hugo Dionisio
Metodologias de Estudo

Hoje, na TSF, uma jornalista mostrou, de forma inequívoca, se dúvidas existiam, que o centro de estudos da Universidade Católica Portuguesa está muito “à frente”, tanto nos resultados obtidos, como nas metodologias supostamente utilizadas, para a produção dos resultados.



A jornalista dizia, então, que o vício do jogo (cartas, slot machines…) faz cada vez mais vítimas em Portugal. Foram, nas suas palavras, “inquiridas 500 pessoas”, destas 500 pessoas, “16%” revelaram, segundo o estudo, estar dependentes do jogo. Destes 16% de dependentes, “20% declararam não estar condicionados pelo jogo”, “24% referiram já ter tido problemas no trabalho”, “ 15% divorciaram-se e registam-se mesmo 2% de suicídios”.

2% De suicídios? Como é que terão chegado a este número? Inquiriram os mortos? Inquiriram as pessoas na fase pré suicida? Leram as cartas de despedida? Eu não digo que os métodos da Católica são muito “à frente”? Pelos menos para a jornalista.

Hugo Dionísio
Quintalinhos Partidários


Com certeza já repararam, ou talvez não, que os partidos políticos dividem a sociedade em quintais, cada um correspondendo, potencialmente, a uma classe social com características muito próprias.

Da direita para a esquerda, passando pelo centro, há o partido dos ricos e Salazaristas, há o partido dos nazis e homófobos, há o partido dos meninos betinhos das camisas aos quadradinhos e liberais, há o partido de uma certa burguesia social democrata, há o partido dos iluminados de esquerda, homosexuais, consumidores de drogas leves, transexuais e outros grupos mais ou menos classificáveis, como dos adolescentes armados em rebeldes e radicais da MTV (imaginem se os adolescentes votassem!), há o partido dos operários, trabalhadores, lutadores, libertários e, segundo alguns, dos velhos e há o partido dos ambliopes, vesgos, míopes, estrábicos e outros demais!? Admiração? Passo a explicar.

Foi no domingo, dia de eleições autárquicas, que após um retorno às tarefas do escrutínio, nas urnas que escondem os anseios e expectativas da nossa fraca democracia, me dei conta de que um partido, para o qual sempre tive dificuldade de encontrar um espaço na sociedade, para além do espaço que ocupa o corpo do seu secretário geral, ocupa de facto o espaço dos vesgos, míopes, ambliopes e demais insuficientes visuais.

A verdade é que, durante o dia, enquanto presidente da mesa de voto, 6 pessoas com alguma idade e com dificuldades visuais mais ou menos evidentes, me pediram ajuda sobre o local onde deveria colocar a cruz que viria a indicar a sua opção partidária. Um dos aspectos que estas 6 pessoas tinham em comum era o facto de todas as 6 verem mal demais para poderem garantir que a sua cruz viria realmente a traduzir a sua opção partidária. O facto é que infelizmente, a lei e a democracia tem destas coisas, não as pude ajudar. Não interessa.

À noite, por volta das 19 horas, iniciámos a contagem dos votos, e a verdade é que eu e a minha equipa encontrámos seis boletins de voto, com cruzes meio enviesadas, demonstrativas da insuficiente visão dos votantes.

Pensámos logo nas seis pessoas que por verem mal nos pediram ajuda, a qual, infelizmente, não pudemos prestar. Ainda bem, porque essa impossibilidade fez-me avançar nas minhas rotulagens sócio-político-partidárias. A verdade é que todos esses votos eram no PCTP-MRPP?!

Pois é, o PCTP-MRPP está por mim classificado, de ora em diante, do partido dos insuficientes visuais,e, com todas as desvantagens que essa situação possa ter para outros partidos, este não deixa de ser um espaço legítimo a ocupar, mesmo que algo, digamos, inconsciente. Afinal, não estamos sempre a dizer que há muita falta de consciência política?

Já agora, um dos votantes, nos seus 3 boletins de voto (Assembleia de freguesia, Câmara e Assembleia Municipal) fez a seguinte opção. 1 voto para o PNR, um voto para o MMS, um voto para o MEP!

Querem catalogar? Serão estes os partidos dos anões (talvez estas pessoas não consigam ver onde votam)? dos anões políticos pelo menos?

Este portugal é muito engraçado, lá isso é, ainda há pessoas que dizem que não gostam de política!
Se eu fosse Taxista




Os responsáveis pelo desemprego seriam os…..........................................Emigrantes



Os responsáveis pelos assaltos à mão armada seriam os................................…Emigrantes



Os responsáveis pela miséria seriam os…..................................................Emigrantes



Os responsáveis pelo car-jacking seriam os.................................................…Emigrantes



Os responsáveis pela Gripe A seriam os.........................................................…Emigrantes



Os responsáveis pela prostituição seriam os…............................................................Emigrantes



Os responsáveis pelos assaltos a bancos seriam os….............................................................Emigrantes


Os responsáveis pelo trânsito seriam os…............................................................................................Taxistas


Como seria simples a minha vida!
Hugo Dionisio

O "Desempregador Implacável"

Martim Albuquerque, cabelo lambido, fatinho azul-escuro, mocassins, camisinha Triple Marfel de colarinho branco, botãozinho de punho de ouro e botões do casaco dourados, é gestor e MBA da empresa de “consultoria” de gestão, PMSERV SA. Claro que Martins há muitos por esses meios de comunicação social de “referência”e por essas empresas de “consultoria” ou “management consulting”. Mas pretensos Martins, infelizmente, ainda há mais. Daqueles que mostram isto tudo mas…não mandam nada.


Estes seres como o Martim, sempre muito estudiosos, Frequentam cursos nos EUA como “Business Strategic Planning”ou “Business Risk Assessment”. Sempre cursos muito ricos e inovadores, onde se aprende muito e se importam soluções inovadoras para problemas iguais. Claro que os pretensos Martins não vão aos EUA, ficam-se por Lisboa e bebem da sabedoria de pessoas como os…Martins, que lhes transmitem soluções sempre muito inovadoras. Há que estar sempre actualizado.

Imaginem que Martim, pela manhã, foi chamado a dar o seu parecer a uma empresa cliente. Esta empresa, confrontada com o decréscimo das vendas do seu produto, decréscimo este, relacionado com a competitividade imposta pela globalização, pediu a Martim que lhe fornecesse uma estratégia para sair da crise. E que solução propõe Martim e tdoso os Martins deste país, deste mundo ou até…deste sistema planetário?

“Perante um cenário tão adverso, imposto pela Globalização, é fundamental que a vossa empresa aposte na Inovação, Qualidade e Excelência do seu produto. Desta forma a solução que proponho é reduzir o custo com o trabalho em 30%, pelo que os senhores têm de despedir 250 “colaboradores”.

Estes Martins e os outros todos são efusivamente aplaudidos, as empresas clientes pagam milhões pelos seus serviços inovadores. Os patrões em dificuldade vão-se embora satisfeitos, afinal a culpa é da globalização e dos trabalhadores e agora…agora é só despedi-los.

Agora imaginem também que o Martim, os Martins todos e os outros, Gestores, Economistas, financeiros e Contabilistas reconhecidos vão, à tarde, a uma entrevista para uma rádio de âmbito nacional. O Jornalista, economista também, perguntou-lhe o que devem as empresas Portuguesas fazer para recuperar da crise, e a resposta, seja que Martim for, é a seguinte:

- As empresas Portuguesas devem acima de tudo, apostar na Qualidade, na Inovação e no alto valor acrescentado dos seus produtos, mas o problema disto tudo é que o Código laboral é muito rígido e não deixa despedir pessoas sempre que o empresário julga ser necessário. È uma maçada, pois só baixando o valor da mão-de-obra é possível dar competitividade às nossas empresas.

O Jornalista da rádio aplaude e regozijando-se com a resposta, pergunta se os despedimentos são necessários para dar competitividade à economia, ao que Martim responde:

- O diagnóstico dos problemas da nossa economia, meu caro, são sobejamente conhecidos, falta formação à nossa mão-de-obra, falta inovação às nossas empresas e falta um enquadramento institucional que permita atribuir competitividade às nossas empresas. Portugal é o país onde as empresas pagam mais impostos. Portugal é um país onde as empresas têm muitos custos com o trabalho pois o Código Laboral é muito rígido, é o mais rígido do mundo. Os “colaboradores” em Portugal têm regalias que já não são comportáveis com uma economia competitiva. Para se conseguir gerar emprego, primeiro tem de se despedir. Ao despedir-se as empresas aumentam a competitividade e a produtividade e assim já podem gerar emprego.


O programa de rádio é um sucesso. Martim, seja qual Martim for, nas palavras do editor, trouxe ao programa um conjunto de ideias modernas e inovadoras, que revelam a sua coragem, pois normalmente ninguém tem a coragem de assumir estas ideias em público.

Imaginem que de seguida, Martim saiu do programa e foi para o seu escritório, tinha ainda de escrever um artigo para uma revista de Economia e Gestão. Um artigo sobre ideias para uma economia de futuro em Portugal.

Martim inicia a redacção do artigo e decide atribuir-lhe o seguinte fio condutor:

“Portugal tem de fazer reformas estruturais. Portugal tem de se colocar ao nível das economias mais desenvolvidas a nível mundial. E o que fazer? Portugal tem de apostar na Qualidade, no Rigor, na Inovação e na Competência. Mas como fazê-lo com um Código Laboral tão rígido? Como podem as empresas fazer face à crise se não puderem despedir e com isso melhorar a sua performance empresarial?”

Martim apresentou o artigo e o Editor da revista congratulou-se com o facto de ter entre mãos um artigo tão inovador. Martim era um grande estudioso, sem dúvida. Um homem que tem soluções e sabe fundamentá-las. Tem soluções diferentes, arrojadas, modernas e corajosas. Martim não é um patrão, Martim é um empresário.


Martim, os outros Martins e os pretensos Martins, estudam muito, muitos anos, para poderem dar sempre, sempre, estas soluções. Não está ao alcance de qualquer um.

No outro dia de manhã, Martim tinha mais uma empresa a pedir-lhe o seu conselho. Afinal já não se sabe como começou o seu sucesso. Nas rádios, revistas ou TV’s onde participa ou nas empresas para as quais dá as suas soluções inovadoras.

A empresa em causa perguntava-lhe o que fazer perante um cenário em que estava a perder quota de mercado devido aos produtos da concorrente serem mais baratos e de melhor qualidade, aliados a um política de imagem mais eficaz. Mais um caso para aguçar a perspicácia e conhecimento científico de Martim.

- Meus caros, após um Business Risck Assessment à vossa empresa, dei conta de que Vºs Exªs possuem um capital humano ultrapassado e uma forma de o gerir bastante arcaica. Têm de melhorar o vosso produto, do ponto de vista da qualidade, imagem e preço e para isso precisam de competência, rigor e inovação. Assim, proponho-vos desde já o despedimento de 500 “colaboradores” e a instituição de prémios de produtividade para ver se aumentamos a produtividade sem aumentarmos os custos com o trabalho, já de si elevados.

Martim cobra 10 mil euros pelo serviço. Martim representa o alto custo da Mão-de-obra em Portugal. Mas Martim é mais do que isso:

Martim é um estudioso com soluções inovadoras, Martim tem sempre soluções iguais para perguntas diferentes. É muito saber. É muita modernidade. É muito à frente.
Martim, os outros Martins e os pretensos Martins são o “Desempregador Implacável”.
Quem nos acode?



Nota: Definição de Martim – pessoa liberal, neo-liberal, economista, gestor, financeiro ou contabilista, de personalidade autista, que se considera o dono da verdade e que mostra um desprezo enorme pelos “lambões” dos “colaboradores” que só querem direitos e não deveres. Martim, personificado em seres como Camilo Lourenço e outros economistas comentadores da nossa praça, são daqueles que estudam muitos anos mas a solução é sempre a mesma, mais despedimentos.



Ver também sucedâneo de Martim- Pessoa vendida que quer ser Martim mas por infortúnio da vida não o é. Leva com a lavagem na Universidade e quando sai cá para fora ainda é mais implacável que os Martins. Quando toca ao despedimento é, normalmente, o último a ser despedido pois os Martins utilizam-no para o trabalho sujo.

Princípios da Cartilha Política “Moderna”


Existem um conjunto de princípios de cartilha transmitidos pelos professores aula a aula, seminário a seminário, conferência a conferência, sem qualquer piedade ou misericórdia, aos alunos de Gestão, Economia, Finanças ou Contabilidade (já para não falar de outros).
Estes princípios dogmáticos, qual religião, qual ideologia política, são transmitidos ininterruptamente a fazer lembrar as K7s de outros. Depois desta deformação profissional, de que só esta é a forma correcta de ver a realidade, os incautos alunos, muitos virgens intelectualmente, vêem a sua ingenuidade política violada sem dó nem piedade.
Então que mandamentos fundamentais, universais, arquetípicos e irrefutáveis são estes, que livros e professores professam tão solene e veementemente?

1. O Estado ocupa demasiado espaço na economia, há que reduzir o tamanho do estado na economia

2. Há que reduzir os impostos e libertar a economia das amarras da fiscalidade estatal

3. O sector privado gere nem, o sector público gere mal

4. Há que deixar o sector privado dominar sectores fundamentais como a saúde e educação, pois fazem-no muito melhor que o sector público

5. Nunca denominar um “assalariado” de trabalhador. Os “assalariados” são Colaboradores

6. O Código Laboral é muito rígido, há que flexibilizar as relações laborais.

7. O emprego público em Portugal tem mais peso do que no resto da Europa.

8. O Código Laboral português é o mais rígido da Europa e um dos mais rígidos do mundo.

9. As empresas Portuguesas são das que têm mais encargos fiscais e sociais da Europa e do mundo.

10. Um estado com os sectores fundamentais da economia é um estado ultrapassado que não contribui para o desenvolvimento económico.



Ai do jovem estagiário, à procura de primeiro emprego, de uma das áreas referidas que não aplique no seu palavreado estes 10 mandamentos da “Ciência Política” Moderna (nem que seja para alguém que tenha vivido o século XIX). Estaria condenado ao Ostracismo.

 
Hugo Dionisio










Sempre me interroguei como se penteariam estes meninos de direita ou que pretendem ser de direita. Já que não só os conhecidos, só os  que mandam e são ricos, também há os pretensiosos..
Este cabelinho, grandinho, coladinho à cabecinha...




Acho que já sei!


Será assim?





Faz todo o sentido! Uma lambidelazinha de vaca. Já sei porque é que eles gostam todos de touradas...

Hugo Dionisio

Surfar nos "indices"!


Anthony entrou no hall em passo acelerado. Tanto que, quando se enfiou na porta rotativa da sede da sua Corporation, deu duas voltas à mesma sem dela conseguir sair, tal a velocidade a que ia.

Anthony, é um daqueles quadros intermédios que, a troco de algum dinheiro, um carro, telemóvel, gabinete, retribuição “on stock” e algum estatuto dentro da empresa (almoça com os chefes e não na cantina com os outros “colaboradores”, ou com o restante “capital humano”), deu a sua alma, o seu tempo e o seu coiro. Neste momento já está em dívida e da sua vida já nada tem (alugam-se córpos? pensa). Anthony não é um trabalhador, Anthony é um Colaborador. Pode ser também um funcionário, empregado, contratado, trabalhador é que não. Esta palavra foi banida das universidades de economia, gestão, finanças…

Como dizia, Anthony entrou no hall da EasyFire Co., a corporation onde “colabora” na condição de “assalariado” como Executive Adviser, na área da economia, gestão financeira, gestão estratégica, engenharia financeira e outros ofícios competitivos. Como de costume, este rapaz respira dinheiro. Ele são títulos, índices, taxas, spreads, profits, budjets, finanças, números, recursos, capital…

Anthony entrou para o elevador, o hiper-rápido elevador (senão era despedido, que foi o que aconteceu ao anterior, mais bonito, mas mais lento) da sede da multinacional, e preparou-se para o “briefing” semanal.

Peter Halls, “chairman” da EasyFire Co. esperava impaciente pelo seu Adviser, fazendo sala aos membros do CEO.

Aquela reunião dependia de Anthony e o bem-estar dos conselheiros também. Aquele era o dia da apresentação do Account report do último trimestre. Anthony prepara o seu “laptop” e inicia a apresentação. O que lá vinha não era nada de bom. O Índice de crescimento da taxa de lucro tinha descido em relação ao trimestre anterior. A “corporation” continuava a dar enormes lucros, mais do que algum ser humano ou alien algum dia conseguiria gastar, mas o índice, a linha no gráfico anual tinha descido.

Anthony, ainda novato nestas coisas, ficou admirado com a reacção dos presentes. Ele era suores, espasmos, arrepios, e isto por entre gritos e gemidos de dor. Não era razão para tanto, pensou ele.

No entanto, preocupado com o rumo dos acontecimentos, decidiu apresentar um “problem solving”, vamos tomar medidas para que as nossas acções subam e assim realizar algum capital. Assim permaneceremos competitivos.

A reunião acabou e Peter Halls, o seu chefe chamou-o ao seu escritório e perguntou-lhe o que fazer, dizendo-lhe que, desde logo, fizesse o que fizesse, o índice de crescimento da taxa de lucro teria de subir a pique no próximo trimestre.

Anthony, olhou para o mapa-mundi à sua frente, cheio de pionés, cada um representando uma unidade produtiva individual e inquiriu Peter Halls sobre qual era a sua opinião para resolver o problema, afinal era fundamental que não perdessem competitividade. Era fundamental que permanecessem competitivos.

Peter Halls pegou em dois pionés e disse: - vamos anunciar o fecho destas duas fábricas.

Anthony perguntou: - Quais? Ao que Peter voltou a responder: - Sei lá! Tirei duas ao calha, depois os meus advisers, como tu, dirão e verão quais são.

Anthony, estupefacto, mas já habituado a este tipo de comportamento, competitivo, disse: - Mas… com isso irão milhares de pessoas para o desemprego!

Peter respodneu: - Ai sim? Deixa lá, muitas mais há no mundo que essas milhares! O que é fundamental é a sobrevivência da empresa! Não dramatizes. Isto é apenas um “downsizing”. O tão normal, conhecido e inofensivo “downsizing”. Mas que raio de economista és tu?

Anthony, meio atónito (só meio), retorquiu: - Sobrevivência? Mas nós estamos a dar lucros! Muitos milhões! Para quê um “downsizing”?

- Pois é, mas o índice está a descer e eu quero vê-lo subir e basta fechar duas destas, se não terão de ser mais, para aumentar o valor das acções e com isso criar uma dinâmica de crescimento e optimização da performance empresarial que levará à subida do índice.

- Mesmo que milhares fiquem na miséria? Perguntou, consciencioso, Anthony.

- Meu caro Anthony, capital já tenho eu demais e não me serve de nada, agora o que está a dar é fazer surf nos índices de crescimento! Quanto maior o índice, maior o pico, maior a onda! É melhor que sexo! Retorquiu Peter.

- Mas…, você está viciado no índice! Descobriu Anthony

- Pois estou. Olhe, estou aqui a ver o Bloomberg e as nossas acções já estão a subir e bastou mandar o nosso corrector espalhar o rumor dos despedimentos! Até já me estão a passar os suores, os arrepios…

Moral da história:

Já sabem a causa das deslocalizações, despedimentos ou downsizings. Isto é obra de viciados, como no jogo! É o “cold índex”!

Hugo Dionísio

Linhas Tortas

Grande azáfama ia no forte militar do contingente norte americano Iraque, mais concretamente em Sadr city, cidade de Bagdad. Eram filas e filas, cada vez maiores, de Iraquianos de todos os credos, sexos, idades e estatutos que se juntavam nas proximidades da entrada do forte. Uma coisa pelos menos conseguiram estes americanos, criar uma unanimidade junto de gentes de diferentes proveniências, xiitas e sunitas, unanimidade esta que nem maomé ou mesmo Alá conseguiram.

As filas sucediam-se ao ritmo dos disparos. Os Iraquianos em filas mais ou menos ordenadas forçavam a entrada no forte, a pé. Os americanos, sempre tão solícitos como incultos e arrogantes lá iam dizendo: - Stop right there! Os Iraquianos prosseguiam a caminhada, ao que os americanos, nervosos, replicavam perante tão absurda determinação: - If you don't stop I'll shoot you! E os Iraquianos, nada! Prosseguiam, até que o soldado, finalmente, fazendo uso da sua desgastada AK (compradas ao ex-inimigo pela sua durabilidade), lá descarregava mais um cartucho na pele dasqueles desgraçados que, paradoxalmente, enfrentavam as balas com tanta determinação que até metia inveja a qualquer americano que combate pela democracia.

Os americanos, sem saberem o que fazer, tentavam, nas imediações do forte, interrogar os Iraquianos que por aí circulavam e se acumulavam. Não obtinham qualquer resposta. Era ouvi-los perguntar: - Ei man, why are you doing this? Os Iraquianos respondiam com um simples encolher de ombros. Este gesto era interpretado pelos americanos como um acto obstinado de desafio da sua autoridade, ou então, o medo que tinham das bombas levava-os a matar mais um e mais outro, por pensarem que se calhar o gesto servia para accionar algum dispositivo explosivo.


E isto ia sucedendo de dia para dia, até que, num novo contingente, acabadinho de chegar chegou um soldado americano de origem Portuguesa, que, ao contrário dos americanos, já estando há alguns meses no Iraque, já ia conseguindo dizer algumas alarvidades em árabe. Assim, no dia seguinte, dia em que, para variar, mais Iraquianos se juntavam no mesmo local, familias inteiras caminhando para a morte, o portuga lá foi para o meio da fila e perguntou o que se passava, pois o que lhe tinham dito era que ia para ali para libertar os iraquianos e não para os matar. O iraquiano interragado respondeu: - Sabe, desde que vocês aqui chegaram as condições de vida têem-se degradado de dia para dia e cada vez estamos mais desesperados! O soldado portuga, confuso, tentou explicar que o que estava ali a fazer era a libertá-los. O Iraquiano respondeu: - Nem eu digo o contrário! Por isso é que aqui estamos! Afinal somos todos suicidas e o que queremos é matar-nos para nos libertarmos da tirania e anarquia que vocês aqui trouxeram, por isso aqui estamos! Sabendo que os americanos têem o cérebro ligado ao dedo indicador e pensam mais com o cano da metralhadora do que com a cabeça, os iraquianos sabiam que bastaria a aproximação do forte para que fossem mortos (não, abatidos, quando são Iraquianos, diz-se, abatidos). Não se enganaram e agora já sabemos duas coisas. Uma é a razão pela qual os americanos têm assassinado tanta gente, outra é que o conceito de libertação pode ter vários sentidos e assim já percebemos o que queria Bush quando falou em libertar o Iraque.

O soldado Português atónito e perplexo com a explicação, ficou, contudo, contente com a sua missão, afinal estão mesmo a libertá-los, só que do inferno que eles próprios causaram. Mas não faz mal, pensou. Deus, Alá ou quem quer que seja, escreve direito por linhas tortas não é? Então, continuemos com a matança.


Hugo Dionisio

Caçador de Tesouros

Uma das histórias e fantasias que mais me fascinava quando era miúdo era a Caça ao Tesouro. Eu pensava na piada que tinha andar a vasculhar algo, sempre na perspectiva de encontrar a fortuna que nos faria ricos, ou pelo menos, mais ricos.

Contudo, algo que me fazia fantasiar ainda mais era a adrenalina que deveria sentir alguém durante uma caça ao tesouro. Para alguém com uma vidinha normal como eu, mecânica e pré-determinada como as funções de uma máquina de lavar, torcer de dia e lavar à noite porque o lavar faz menos barulho, o acto de vasculhar, procurar, desbravar, perseguindo sempre o sonho de encontrar o tesouro da nossa vida, reveste-se de grande importância.

Ao longo da minha vida tenho aprendido que os tesouros existem, mais do que qualquer um pode pensar. Mas não tanto os tesouros clássicos, como as jóias, dobrões de ouro e outras coisas. Os tesouros que existem são personalizados, cada um procura o seu próprio tesouro, cada um persegue a sua própria fortuna. Tanto assim é que o maior caçador de tesouros que conheço não é nenhum  daqueles arqueólogos clássicos ou modernos, como o Custeau. Para mim o maior caçador de tesouros que conheço é um sem abrigo lá da minha rua que, noite após noite, caixote do lixo após caixote do lixo, nunca desiste. Quando chego do trabalho lá está ele, à caça do seu tesouro. Será que encontra algo? Talvez. Algo de valor intrínseco elevado? Talvez não. Mas o homem não desiste, ele desbrava a selva urbana, de cimento e lata, chafurda na nossa lama, esburaca os nossos restos e mergulha nos depósitos dos nossos  desperdícios, sempre com uma motivação e uma preserverança que faz inveja a qualquer grande aventureiro do passado. E ele não desiste, é a adrenalina do procurar que o motiva e não o contentamento do encontrar, isso sim é perseguir um sonho!

Digam lá que este caçador de tesouros não desenvolve a sua actividade num mundo bem mais agreste do que aqueles que o fazem naquelas selvas idílicas, naquelas praias de sonho ou naquelas àguas de prata? É preciso coragem, não?

Ele é o meu anti-heroi. O caçador de tesouros moderno.


Hugo Dionisio

Sensibilidade Artística

No outro dia fui com um amigo meu a uma exposição na Festa do Avante. Sabíamos que lá havia uma exposição plástica e fotográfica relacionada com a arte neo-realista, realista, arte urbana e alguma pop-arte. Esse meu amigo, o Laurêncio é um fulano que para além de engraçado é também, como dizer, algo sui generis. Sim é isso, sui generis. E alguém que vê arte em todo o lado, que tem uma sensibilidade emocional enorme e que se emciona com qualquer obra artística humana (e se calhar não humana também...).

Sabem aqueles tipos que estão num espectáculo de música contemporânea a ver outros tipos em cima de um palco a bater com um pau nuns vidrinhos, latinhas, pauzinhos e outras coizinhas, olhando para estes com um ar culto, com um ar que transmite uma sabedoria quase espacial? E nós pensamos:  "pá! que inteligentes devem ser estes tipos, que sensibilidade, que cultura"... Pois é, o meu amigo Laurêncio é desses. Jás os pais eram assim. Dizia-se até, na sua casa, que o avô que trabalhava no ferro, na construção civil, também era um verdadeiro artista. Não havia casa que ficasse de pé!

Mas enfim. Ele lá sabia daquele acontecimento de fim de semana e lá fomos nós. Entrámos na festa, percorremos todo um espaço que nos transporta para um romantismo político, para uns passado, para outros futuro, e entrámos no pavilhão onde se desenvolvia a exposição em causa. Por entre pinturas lindas de ver, outras nem por isso e outras que de lindas não tinham nada e até custava a crer que tinham sido pintadas por mão humana, mas para as quais o Laurêncio olhava ainda mais extasiado (eu não digo que ele também aprecia arte inumana?) e que me levavam a pensar o que ele sentiria se visse as pinturas do meu filho quando tinha um ano de idade, também havia lá umas coisas em ferro bastante esquisitas. Alguém as apelidava de esculturas. Engraçado não? Quantas e quantas esculturas haverão aí por esses estaleiros fora?


Mas o mais engraçado mesmo, foi umas fotos que vi onde só apareciam umas canalizações e para as quais o meu amigo Laurêncio olhava fixamente e dizia: - Olha, isto significa o fluir da vida nas condutas da natureza... Tudo isso? Ele vê lá tudo isso?

Depois da visita ao pavilhão, saímos e foi quando eu olhei para uma estrutura de ferro e reparei que o meu amigo Laurêncio nada dizia, nem sequer reparava. E eu disse-lhe: - Então Laurêncio, já reparaste que nesta exposição as esculturas de ferro começam logo cá fora? Ao que me respondeu: - Burro, isso é o andaime que suporta o pavilhão!  Estupefacto com a ignorância que o Laurêncio revelava tive de lhe responder: - Burro eu? Então não vês que isto representa os alicerces do futuro do homem, sobre os quais assenta uma sociedade mais justa? Não percebes nada de Neo-realismo!


Hugo Dionisio