Caçador de Tesouros

Uma das histórias e fantasias que mais me fascinava quando era miúdo era a Caça ao Tesouro. Eu pensava na piada que tinha andar a vasculhar algo, sempre na perspectiva de encontrar a fortuna que nos faria ricos, ou pelo menos, mais ricos.

Contudo, algo que me fazia fantasiar ainda mais era a adrenalina que deveria sentir alguém durante uma caça ao tesouro. Para alguém com uma vidinha normal como eu, mecânica e pré-determinada como as funções de uma máquina de lavar, torcer de dia e lavar à noite porque o lavar faz menos barulho, o acto de vasculhar, procurar, desbravar, perseguindo sempre o sonho de encontrar o tesouro da nossa vida, reveste-se de grande importância.

Ao longo da minha vida tenho aprendido que os tesouros existem, mais do que qualquer um pode pensar. Mas não tanto os tesouros clássicos, como as jóias, dobrões de ouro e outras coisas. Os tesouros que existem são personalizados, cada um procura o seu próprio tesouro, cada um persegue a sua própria fortuna. Tanto assim é que o maior caçador de tesouros que conheço não é nenhum  daqueles arqueólogos clássicos ou modernos, como o Custeau. Para mim o maior caçador de tesouros que conheço é um sem abrigo lá da minha rua que, noite após noite, caixote do lixo após caixote do lixo, nunca desiste. Quando chego do trabalho lá está ele, à caça do seu tesouro. Será que encontra algo? Talvez. Algo de valor intrínseco elevado? Talvez não. Mas o homem não desiste, ele desbrava a selva urbana, de cimento e lata, chafurda na nossa lama, esburaca os nossos restos e mergulha nos depósitos dos nossos  desperdícios, sempre com uma motivação e uma preserverança que faz inveja a qualquer grande aventureiro do passado. E ele não desiste, é a adrenalina do procurar que o motiva e não o contentamento do encontrar, isso sim é perseguir um sonho!

Digam lá que este caçador de tesouros não desenvolve a sua actividade num mundo bem mais agreste do que aqueles que o fazem naquelas selvas idílicas, naquelas praias de sonho ou naquelas àguas de prata? É preciso coragem, não?

Ele é o meu anti-heroi. O caçador de tesouros moderno.


Hugo Dionisio

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