há mais de 2000 anos já se sabia!

Cuidado! Vê o que acontece se não participares. Já Platão o sabia. Quantos mais milhares de anos serão necessários para tu também o saberes?

A injusta repartição da riqueza!

Consideras justa esta repartição da riqueza? Então o que esperas para reinvindicares uma mais justa? alguém que o faça por ti? Espera sentado/a!

Não sejas mais um frustrado/a!

Não há pior frustração do que a que resulta da sensação de que não fizemos tudo o que podiamos!

Vamos Hibernar



Uma notícia interessante que registei no início desta semana e que me deu logo vontade de a aplicar, foi o facto de na revista de ciências Science Magazine ter sido publicado um artigo sobre a indução de um estado de hibernação num pequeno roedor.

Através da utilização de um gás como o sulfito de hidrogénio, foi possível reduzir a temperatura do sangue dos ratinhos até aos 5 graus centígrados. Esta redução fez com que estes mamíferos entrassem num estado de hibernação induzida em tudo semelhante ao estado de hibernação dos mamíferos que o fazem naturalmente.

Mas, o mais interessante da notícia foi a declaração do cientista responsável do projecto, o Dr.Mark Roth. Este afirmou que este estado é passível de ser induzido a qualquer mamífero, sim, a qualquer um, incluindo o ser humano.

E é aqui que a notícia ganha ainda mais interesse. Para que é que um ser humano precisa de hibernar? O Dr. Mark Roth adiantou algumas aplicações desta tecnologia:

• Em viagens longas, como a Marte, em que as pessoas vão a dormir, sem necessidade de alimentação e oxigénio, acordando quando lá chegam.

• Para o tratamento de variadas doenças, como o AVC, pois pode parar-se o organismo e tratar o problema

• Para tratamento de doenças como o cancro, pois ao reduzir a dependência de oxigénio das células normais, estas ficam menos vulneráveis à radiação química.

Mas estas são aplicações médicas e científicas. Sem me querer colocar ao nível deste eminente cientista, também eu, num plano mais social, tenho algumas propostas para utilização da hibernação induzida nos seres humanos:

• Quando não temos dinheiro para comer, resolve-se o problema da fome com a indução da hibernação. Tipo, estou com fome, vou mas é hibernar, assim não preciso de gastar dinheiro em comer.

• Quando os nossos filhos estão muito chatos no fim de um dia de trabalho, pomo-los a…hibernar. Pelo menos não são intoxicados pela televisão, PSP’s etc.

• Quando atravessamos um período de crise como este, em que tudo nos revolta e não sabemos como sair desta agonia…hibernamos. Pode ser que quando acordemos as coisas estejam melhores. Claro que neste país, se calhar, ficaríamos a hibernar para sempre.

• É preciso ter cuidado com os patrões, pois em vez de recorrerem ao Lay-off ainda introduzem uma alteração na lei laboral, para colocar os trabalhadores a hibernar. Para eles tem a vantagem de não terem de lhes pagar seja o que for durante esse período.

• Já os sindicatos passariam a reivindicar a inclusão nas faltas justificadas, do estado de hibernação. Até para o emprego era bom. Pois, metade da população activa hibernava enquanto a outra trabalhava.

• Quando estamos fartos do nosso chefe que passa a vida a chatear-nos a cabeça, colocamo-lo a hibernar. Com a vantagem de nunca mais o acordarmos, claro está!

• Quando a nossa mulher nos chateia muito a cabeça…hibernamos. E depois esquecemo-nos de acordar.

• Temos de emagrecer? Vamos hibernar. Olha se a industria da moda se lembra disto?

Portanto, estão a ver que estas são apenas algumas das aplicações possíveis para a hibernação, mas cada uma poderia utilizá-la para o que quisesse, para descansar, fugir, desaparecer, esconder-se, era um espectáculo. Quando perguntávamos por alguém, teríamos de adicionar o estado de hibernação a todos os outros possíveis. Então onde é que está o Manuel? Foi hibernar.

Ah..., com a vantagem de podermos hibernar fora do Inverno, passaríamos a veranear, Outonear ou Primaverear. Era só escolher a altura e deixar a mensagem no telemóvel ou no e-mail: “Estou em estado de hibernação até o dia 15, deixe mensagem que quando acordar…se acordar…contactá-lo-ei”.

Agora vejam as vantagens disto. Se houvesse uma escala de hibernação para cada indivíduo resolviam-se uma carrada de problemas civilizacionais. O do emprego, pois os que estavam acordados substituíam os que estavam a hibernar. Com este estado de hibernação colectiva o trânsito melhorava, o ambiente agradecia. O ser humano vivia mais tempo porque se desgastava menos, a segurança social só pagava a reforma sobre o tempo em que estávamos acordados, os patrões tinham que distribuir ainda menos, pois só precisavam de pagar salários a metade dos trabalhadores de cada vez, havia menos bandidagem, porque metade estavam a hibernar, eram necessárias menos escolas, menos hospitais etc. Já viram bem? Era um mundo de vantagens. Mas a vantagem maior de todas é que apenas era necessária metade dos políticos! Já viram o que se poupava no Orçamento de Estado?

Já sei! É na hibernação que está o futuro do nosso país. Assim poderemos atingir alguns dos elevados índices de desenvolvimento da Europa. Temos muita corrupção? Colocam-se metade dos políticos a hibernar e a taxa de corrupção desce para metade. Há muitos acidentes rodoviários? Se metade da população estiver a hibernar, só teremos metade. Há muitos acidentes de trabalho? Se só trabalharem metade….Há muito desemprego? Metem-se os desempregados a hibernar. O rendimento per capita é mais baixo? Metem-se a hibernar os que ganham menos. Temos uma taxa de qualificações mais baixa que os outros países. Metem-se a hibernar os mais desqualificados. Já viram se o governo se lembra de uma coisa destas? Para cumprir promessas eleitorais não há do melhor. Também só haveriam metade das promessas. Só haviam metade dos políticos.

Mas a Constituição passava a ter no seu primeiro artigo: “A Republica Portuguesa é soberana, baseia a sua existência na democracia, na igualdade e na obrigatoriedade do cumprimento do dever de hibernação com vista ao progresso social dos nossos cidadãos”.

Ah! Isto é que ia ser um país desenvolvido. Sempre em primeiro nos índices todos. Qual avestruz de cabeça na areia. Não é que às vezes não estejamos em estado de hibernação, pois alguém me consegue explicar que evolução teve este país nos últimos anos? Não teve? Se calhar a hibernação já começou. Lá que o Português gosta de se esconder, lá isso gosta. Hibernar vinha mesmo a calhar.

Não me digam que não vos apetecia hibernar um bocadinho?

Hugo Dionísio






Sobrevivente qualificado

Não concordo minimamente quando dizem que o povo português é um povo pouco qualificado. Afinal, como demonstrarei, tudo se resume ao facto de distinguirmos se estamos a falar de qualificação formal, obtida nos estabelecimentos de ensino, ou de qualificação informal, baseada na experiência do dia a dia. É que nesta última, meus caros, nesta última…os portugueses são com toda a certeza o povo mais qualificado do mundo!

Até nas chamadas ciências exactas, o português desenvolve, no seu dia a dia, um nível de qualificações de tal forma altíssimo, que, se avaliação houvesse às mesmas, chegar-se-ia facilmente à conclusão de que o Português é, afinal, muito bom na matemática. Talvez não se esteja a utilizar a metodologia de aferição mais correcta.

Foquemos as atenções nos pais e mães de família que, dias após dia, mês após mês, têm a necessidade de se acertarem continuamente com as exigências de sobrevivência impostas pela nossa impessoal sociedade. É preciso muito saber.

Entre contas ordenado, cartões de débito, cartões de crédito, cartões de débito-crédito, cartões de crédito ao consumo do Jumbo, Worten, Fnac, Sportzone, empréstimos Cofidis, renegociações de crédito, renegociações de spread, renegociações de prazos, agrupamentos de créditos e uma multiplicidade de produtos financeiros nos quais, incontornavelmente, o português médio vai suportando a sua sobrevivência. Ninguém melhor que ele domina estes produtos, as suas regras de funcionamento, possíveis conjunções (tapa de um lado e destapa do outro) e regras de incumprimento. Nesta vertente da sua vida, o português é o mais dotado do mundo em títulos de crédito, produtos financeiros e gestão de carteiras de…passivos (pensavam que eram activos, não!). Esta competência baseada na experiência do dia a dia é importantíssima. Ainda para além de fazer destas pessoas umas máquinas de calcular humanas, nas quais a operação matemática de subtrair ao orçamento disponível, ou a operação de somar ao saldo negativo da conta bancária se faz quase automática e instintivamente. Se a matemática for só somar e subtrair, os melhores matemáticos do mundo são portugueses. E assim se compreende porque é que os bancos são os que mais lucram no nosso país. Com tanta mão-de-obra altamente qualificada disponível, a produtividade e competitividade são enormes.

Outra matéria na qual o português é muito bom e experiente é na cronometragem e contagem de tempos. A corrida contra o tempo faz-nos comportar como autênticos relógios, para que não cheguemos atrasados ao trabalho ou à escola. Qualquer segundo que se consiga reduzir no corte da barba, no banho ou nas cosméticas, é importante para  ultrapassar-se o primeiro obstáculo do dia, o de sair de casa sem nos esquecermos de nada. Casos há em que se conhecem pessoas que saem sem sapatos, casaco ou mesmo calças, mas também podem ser coisas mais usuais como, o telemóvel, as chaves, a mala, entre outras coisas. Sem carro…humm…sem carro…é que não conheço ninguém que saia de casa sem essa importante peça de mobiliário, vestuário e de transporte, que confere um estatuto social imprescindível a qualquer português.

Mas é aqui que surge o maior paradoxo de todos, é que o facto de andarmos sempre de automóvel não faz de nós excelentes condutores. Se fizesse, ganhávamos todas as corridas de alta competição, mas não, somos mas é campeões de acidentes rodoviários.

Contudo há uma ou duas coisas em que somos muito bons com carros e nas quais temos muita prática. Estacionar é a primeira, estacionamos nos locais mais impossíveis de imaginar e chegamos a pensar que os passeios são para os carros e as estradas para os peões. A outra é limpar e lavar o carro, havendo pessoas que passam horas infindáveis, fins-de-semana inteiros de volta do seu namorado ou namorada de quatro rodas. A outra é o equilibrismo de falar ao telemóvel enquanto se conduz. Nesta modalidade malabarística somos os maiores do mundo! Como adoramos conduzir de telemóvel ao ouvido, ou então, a falar para o ar como maluquinhos que falam com vozes que pairam na sua cabeça. É um paradoxo enorme, aliamos aquele que queremos que seja o nosso maior objecto (o carro) com aquele que queremos que seja o menor (o telemóvel). É o derradeiro paradigma existencial português. Já não bastava português pequenino em carro grande, agora temos português pequenino em carro grande com telemóvel minúsculo! É uma espécie de oito ou oitenta num mesmo ser.


Outra competência ou qualificação importante surge no caminho para o trabalho. Novamente a matemática ocupa o espírito do português. A necessidade de utilizar este conhecimento científico surge na primeira bomba de gasolina. Quanto combustível comprar para esse dia? Bem, se desligar o motor nas descidas, nas filas e semáforos, talvez consiga fazer o percurso com 5 euros. Conduzir torna-se um desafio enorme mas com vantagens para a sociedade a diversos níveis, poupa-se combustível, emitem-se menos gases e o meio ambiente agradece. O condutor treina o cálculo matemático, principalmente ao nível das médias simples ou ponderadas e torna-se especialista em cronometragem de calibragem de tempo/acção. Conduzir assim, passa a ser um meio de auto formação universal. Num país onde as empresas não querem formar os trabalhadores, esta é uma forma nada desprezível de cada um o fazer. Afinal, o facto de cada um levar o seu carro todos os dias tem a sua utilidade!

Outra competência é treinada, sensivelmente duas horas depois, principalmente quando já se está cansado de cálculos, cronometragens, sinaléticas gestuais e vocábulos de bola vermelha, quais grunhidos de fera ferida pelas complicações da vida. O desafio que leva ao conhecimento e à qualificação é o estacionamento da viatura, funcionando como uma espécie de módulo 2 da auto formação diária. Já ouviram falar de formação em contexto de trabalho? Esta é a formação em contexto de vida. A melhor forma de formação para quem não gosta de frequentar formação. Se calhar isto até dá jeito às empresas…Se calhar elas até pensaram nisto quando não investem em formação. O que é que elas têm a ver com isso? O mesmo que aquele patrão do Porto que dizia que pagava salários baixos aos seus trabalhadores, porque no norte, as pessoas têm sempre uma pequena hortinha para plantar alguns víveres. Chama-se a isto, conciliar o trabalho com a vida familiar. Os patrões preocupam-se com isto, estão a ver?

Então ao estacionar, têm de resolver-se vários problemas:

Problema 1: O cálculo de área. Com a corrida que existe aos lugares sem marcação EMEL, cada vez mais tem de estacionar em locais cada vez mais pequenos. Aqui, a imaginação do português médio chega a ser surpreendente, consegue colocar objectos em áreas, cujo tamanho fazia prever que tal não fosse possível. O português torna-se especialista em dominar as leis da física a seu bel-prazer. Entre riscos, empurrões safanões, voltas e reviravoltas, até Einstein se revolta no seu túmulo. Quem é que diz que somos maus a físico-química?


Problema 2: O controle do tempo e metodologias de amostragem e observação. Depois de estacionado há que prever de quanto em quanto tempo passa o polícia da câmara. Pois como o local não está marcado pela EMEL, o mais provável é que lá nem se deva estacionar, pelo que, e aqui o cálculo das médias volta a ser indispensável, também sendo necessário calcular a probabilidade de bloqueio do automóvel. E a conta não é fácil, pois é preciso cruzar o que se pagaria diariamente por um lugar num espaço de parquímetro, com o que se paga mensalmente para mandar retirar o bloqueador da roda do automóvel. Mas aqui, nesta ultima solução há uma vantagem que faz mandar às malvas a maioria das regras, sabem qual? É que enquanto o estacionamento do parquímetro tem de ser pago na hora e no local, o pagamento para retirar o bloqueador das rodas pode ser pago com cartão Visa. Ou seja, dá para mandar a conta lá para o futuro, que já está mais do que hipotecado, logo, não se notará a diferença. E nesta competência o português não é grande coisa, a da futurologia, pois as suas previsões falham sempre. O melhor é fazer como o outro, prognósticos só no fim!

Problema 3: Estudo das alternativas e solução de problemas (problem solving): Caso só existam lugares pagos, há que inventar estratégias de gestão que permitam contornar alguns custos perante uma despesa tão incontornável como a que está associada ao uso do automóvel. Pode optar-se por dar uma moeda ao arrumador e assim, deixa-se o vidro do automóvel um pouquinho aberto, permitindo ao arrumador lá colocar o título respectivo, em caso de passagem dos fiscais da EMEL. Outra alternativa é a do cálculo do tempo versus probabilidade. Coloca-se a menor quantia possível logo antes da passagem do fiscal e depois volta-se a fazer o mesmo aquando do seu retorno e por aí fora. O problema é se a escala muda. Nesse dia há bloqueador, mas mesmo assim compensa largamente o pagamento sério e completo. Muitas outras alternativas poderão ainda ser estudadas, pois as barreiras da sobrevivência tornam o português um ser arguto, esperto e tremendamente criativo. Já viram se Portugal usasse esta criatividade para aspectos da vida menos incontornáveis mas mais indispensáveis? Pensem nisso.

Problema 4: Defesa pessoal: Na maior parte dos dias a coisa vai só com umas bocas, algumas asneiras e às vezes meras ameaças de ofensa à integridade física. Mas dias hão em que a competição pelo lugar de estacionamento é tanta que há que puxar dos galões da defesa pessoal. Este é o local de treino favorito do português. Exercita-se e treina os dotes de lutador. É o exercício diário da manhã. Ainda dizem que os portugueses fazem pouco desporto.

Ora, quando se chega ao trabalho, já se praticou economia, gestão, finanças, alguma física, muita engenharia e até luta livre. Ah, já me esquecia, a sua argúcia em contestar coimas da EMEL e da Polícia, também o fazem praticar algum direito. Já não lhe falta quase nada para ser Doutor. E ainda dizem que os Portugueses têm poucas qualificações. Basta substituírem os critérios de medição. Qualificações para quê? Para a vida ou para o trabalho? É uma questão de conciliar uma coisa com a outra!

Dizerem que os portugueses são pouco qualificados é que é um erro que políticos, patrões e outros tubarões cometem. Num pais caótico os portugueses mandados conseguem sobreviver. Os outros não conseguem fazer sobreviver o país em que mandam. Será melhor trocar então!

 Viva a verdadeira qualificação ao longo da vida

 Hugo Dionísio
Uma nova geração de desportistas


Longe vão os tempos de Rosa Mota e Carlos Lopes, incontornáveis maratonistas do desporto mundial, que, à falta de um centro de alto rendimento desportivo em Portugal, tinham de deslocar-se a Espanha para aplicar determinadas metodologias de treino.
Nos dias que correm, é visível a evolução neste campo. Portugal, pode orgulhar-se de, actualmente, conseguir formar, dentro das suas fronteiras, toda uma estirpe de atletas de altíssimo nível competitivo que, em alguns casos consegue mesmo exportar para as mais altas instâncias internacionais.
E digo isto, não por ironia, mas por crer que as manobras praticadas são de tal forma arriscadas e radicais, que nalguns casos a queda é inevitável, embora este país tenha certas redes que, também elas de elevado nível, nunca cedem. Digamos que, a tecnologia de suporte tem acompanhado a técnica que se pratica.
Como nestas coisas nunca é bom generalizar, sob pena de sermos alvo de alguns imponderáveis desaguisados, por parte de pessoas, que pela sua humildade, consideram não ser justa nem merecida a sua inclusão neste rol de excelência, pois o Português, algo que preza muito é o mérito, assim, passarei a enumerar os exemplos mais emblemáticos da grande evolução atlética do nosso amado país:
• Salto à Vara. Armando de sua graça, tão bom que o apelidam de Vara, é o exemplo máximo do atletismo de salto em Portugal. Qual Évora qual carapuça. Nem Évora é nome de desporto, nem o salto dele se compara com o de Armando. Se um no triplo salto chega aos 18 metros, e ainda se queixa de não ter uma pista própria para seu treino, o Armando, que nunca se queixou, saltou muito mais do que 18 metros, e não foi de cumprimento, foi de altura! De caixa de um banco a Ministro da Administração Interna! Quantos metros vão? Então…e se for…de caixa de um banco a n.º 2 do Conselho de Administração do BCP, maior banco português? Se calhar ainda são mais metros! Ou, noutro campo, também ele de grande virtude, neste caso, nos domínios da performance mental, que tal…saltar desde o nível secundário para a pós graduação directamente? Com Varas destas não há altura que aguente…
• Trapézio. Este exemplo é admirado pela sua persistência quase doentia. Este homem salta de nível em nível, ininterruptamente, passando dos mais altos para os mais baixos e quando pensamos que vai cair de vez, qual triplo mortal ou dupla pirueta, é vê-lo agarrar-se ao último baloiço que por ali, por acaso passava, enviado por um qualquer protector divino. Vindo de Santana para se chamar Lopes, ele mesmo, Santana Lopes. De suposto jurista a presidente do SCP, saltando para Figueira, passando para Lisboa, pelo meio o PSD e até para 1.º Ministro, por entre secretário de estado e consultor da EDP, Santana apanha sempre o último baloiço e não há rede que se lhe rompa, tanto faz, porque ele não cai.
• Montanhismo/Escalada. Não se pode ser Mole para se chegar ao Topo do Mundo. Logo, a sua graça só poderia ser Durão, Durão barroso. Já lhe chamaram de peixe, mas se peixe for, de certeza é fora de água. Mais parece um pássaro, pois a sua escalada da base ao topo é sem dúvida de se lhe tirar o chapéu. De simples militante do PSD, fez a sua primeira escalada, chegando logo a Ministro. Depois, foi só esperar, e a subida ao cume da mais alta montanha nacional foi demasiado rápida para se ter feito a pé e a trepar, pelo que, umas viagens a Angra dos reis terão ajudado a recuperar o fôlego. A voar, talvez, porque este senhor tem meios que os fins desconhecem, lá chegou ao topo da estrela, a 1.º Ministro. É claro, que Durão queria mais, ele queria a montanha mais alta de todas, ainda não a conseguiu, mas como homem preparado para a guerra que é, já chegou à mais alta da União Europeia. Mas, todos sabemos, que pela sua dureza e pela estrutura competitiva que comporta, outros voos mais altos estarão na forja, rumo ao cume mais alto de todos, mais alto ainda que o Everest. Pode ser que entretanto lhe falte o oxigénio, ou congele a língua, a sua principal arma voadora!
• Jogging. Pode não ser o mais rápido, mas não é de certeza o mais lento. Pode não ser o mais forte, mas não é certamente o mais fraco. Pode não ser também o melhor, mas não é o pior. Tem nome de pensador, e só o nome talvez o ajude na táctica, pelo que, qual maratonista, correndo por detrás, chegou-se à frente e agora não há quem o aguente. José Sócrates. Cedo começou na JSD, mas como nestas coisas se escolhem os melhores atalhos, lá mudou para o PS. Foi secretário de estado, ministro e concorrente à liderança do PS, e, tacticamente perfeito, aparece na altura certa para cortar a meta como 1.º Ministro. Todos sabemos que talvez abusará do doping, mas ainda não foi apanhado! Também sabemos que falsifica os tempos, mas não existem provas! Sabemos até, que colocará algumas barreiras no caminho de adversários, mas não se sabem bem quais! O que conta é que ele ganha e vamos a ver se não é com record.

• Full-Contact. Para ele vale tudo e não há adversário que resista. Do maior ao mais pequeno, esta pessoa parece sempre levar a melhor e mesmo quando parece definhar, qual peixeiro que sem peixe só lhe resta a voz, para vender o que não tem, lá vem ele dos confins da obscuridade para nos bater a todos, violentamente e sem dó nem piedade. Este também dá com o que não tem. Não tem honestidade, mas bate-se com a honestidade, tem seguranças, mas fala da insegurança, é rico, mas fala dos pobres, devia estar preso, mas fala como se fosse inocente, tem horror a pobreza mas não sai lá do meio. Para ele vale todo o tipo de golpe e em qualquer parte do corpo. Quando achamos que está KO, lá aparece ele numa qualquer feira a treinar o corpo a corpo e como um murro no estômago, damos conta de que está OK. Paulinho para uns, Portas para outros, não há golpe que não conheça, nem conhecimento que não utilize. Não tem corpo para tal, mas como luta com o que não tem, não interessa, está sempre em combate.
Estes exemplos podem ao menos dar-nos uma motivação. Se eles lá chegam, porque não havemos de lá chegar nós? Só nos falta a rede, pois eles quando dão um trambolhão, normalmente são amparados, sabe-se lá por que braços de qual polvo, e nós não usufruímos disso, para nós é tudo muito mais difícil. Mas lá que Portugal tem um centro de alto rendimento para estes desportistas, lá isso tem.

Hugo Dionísio
Para assuntos da população, gente sem vocação!



Desemprego. São economistas, advogados, médicos e outros doutores, todos com altos cargos e no topo da vida. Portadores de vários contratos de avença, empreitadas, consultas processos e que tais em fim. Precisavam da ubiquidade, mas desse dom não parecem usufruir. Ninguém está mais habilitado do que eles para abordar a problemática do desemprego. Como é bom ouvi-los a dizer em voz bem alta: - JÀ NÂO EXISTEM EMPREGOS PARA TODA A VIDA!

Salários. Por entre jornalistas, analistas e outros “show” makers, principescamente remunerados, o tema mais discutido é o dos elevados salários do país que não deixam a economia nacional disparar. De salários baixos também estes podem falar. Como dá gosto ouvir dizer, com ar de quem domina a ciência: - AUMENTOS NA FUNÇÂO PUBLICA ESTE ANO TÊM DE SER CONGELADOS!

Pobreza. Tudo gente bonita, bem vestida e temente a deus. Homens e mulheres de legiões de ajuda aos pobrezinhos. Sortudas e sortudos de uma vida caridosa, encostados à sorte que outros construíram, mas que alguns roubaram, furtaram ou que oportunistamente aproveitaram, que dedicam o seu tempo livre a ajudar pobrezinhos. Eles sabem como ajudar. Pobreza é lá com eles. E com ar de entendidos disparam: - PARTICAR A CARIDADE É UM DEVER DA CRISTANDADE!

Insegurança. Senhores de motorista, rodeados de seguranças, uns, de capangas, outros. Em redomas de aço transparente, onde a realidade não toca nem contagia. Senhores e senhoras, com voz na televisão e na rádio queixam-se da insegurança. Disso percebem eles. É como ouvir Portas, num mercado a vociferar: - MAIS POLÍCIA SE FAZ FAVOR, TEMOS DE ACABAR COM A CRIMINALIDADE (como lhe dou razão!).

Discriminação de mulheres. Ministro da Igualdade. Senhor presidente da comissão para a igualdade. Comissário para a luta contra a desigualdade. De discriminação de mulheres, de certeza que percebem. E percebem tanto que já os ouço dizer: - É NECESSÀRIO PARTILHAR O PODER COM ELAS!

Menores e crianças. Juízes, advogados, sociólogos e psicólogos, todos preocupados com a tutela. Tutela este, tutela aquela, tutela assim, tutela assado. Tutelo eu, tutelas tu. De tutelados e tuteladas percebem eles. Já estou farto de ouvi-los dizer: - É PRECISO DECIDIR NO INTERESSE DA CRIANÇA!

Estrangeiros e emigrantes. Portugueses, nacionais genuínos, nunca saídos, nunca migrados, imigrados ou emigrados. Falantes da mais comum língua de Camões. Das línguas de outros escritores geniais, nem ouvidas nem faladas. De problemas de integração, acolhimento e igualdades de tratamento, do que eles, ninguém sabe mais. E dizem em bom português para estrangeiro ouvir: - É PRECISO GARANTIR IGUAIS DIREITOS AOS EMIGRANTES. Outros temos que também dizem: - A CULPA DISTO TUDO É DOS EMIGRANTES!

Sexualidade. Preservativos e outros meios contraceptivos? Padres, Priores, Bispos e Cardeais, absolutamente misericordiosos e castos também. São os mais aptos a falar de sexualidade, com toda a certeza. E com ar santo dizem: - RELAÇÔES SEXUAIS SÒ PARA REPRODUZIR! (que o diga o padre Frederico).


Finanças Públicas. Gestores, empreendedores, investidores e outros aproveitadores de públicos subsídios, entendidos em livre iniciativa e em mercado aberto, são grandes comentadores de assuntos de estado. Quando se trata de despesa pública, normalmente ouvimo-los dizer: - O ESTADO TEM DE CORTAR NAS DESPESAS SOCIAIS!

Segurança Social. Outra vez Gestores, empreendedores e investidores, mas também governadores e outros credores, acumuladores de várias prestações de reforma, adquiridas de passagem sem permanência em locais de distribuição de riqueza de acessibilidade ultra-limitada, costumam dizer: - É NECESSÀRIO BAIXAR A TAXA SOCIAL ÙNICA DA SEGURANÇA SOCIAL! AS PESSOAS TÊM DE SER RESPONSÀVEIS PELA SUA PRÒPRIA REFORMA!

Direitos dos trabalhadores. Programas de televisão, programas sem televisão, todos e sempre na discussão do que se convencionou de apelidar de privilégios, regalias e oferendas. Como se não houvesse precariedade e exploração, patrões, empregadores, empreendedores e Investidores, levantam e bandeira dos trabalhadores e com ar de que com eles se preocupam dizem a toda a voz: - É PRECISO MAIS FLEXIBILIDADE! A LEI É MUITO RÌGIDA! COM TANTOS DIREITOS NÂO È POSSÌVEL TRABALHAR!

Política. Oportunistas, vendedores da banha da cobra, amigos do alheio, trapaceiros de toda a espécie, reúnem-se, nalguns locais muito mal afamados. Frequentadores de antros de vício e perdição que ninguém respeita, dizem, como se nós acreditássemos: - È PRECISO CONFIANÇA! NÒS VAMOS DESENVOLVER O PAÌS!

Serviços públicos. Outra vez…gestores, investidores e empreendedores, alguns deles grandes estupores, responsáveis por falências fraudulentas, falências genuínas, insolvências e outras incompetências, em uníssono, é ouvi-los lamentar da sua sorte desgraçada: - HÀ QUE DAR OPORTUNIDADE À INICIATIVA PRIVADA! A GESTÂO PRIVADA È MELHOR DO QUE A PÙBLICA!


Não há dúvida que neste país, são sempre os mais interessados a tomar conta das coisas com as quais estão menos identificados!

Hugo Dionísio
Sons da Alma



Estou num café, mas podia ser num teatro, numa reunião, numa sala de formação ou num transporte público, porque o Português não perdoa…

De em lado ouço um pouco do último hit anglo-saxónico popularucho em primeiro no Top das vendas discográficas. Raio de país este que confunde quantidade com qualidade, aparência com substância e harmonia com melodia. Este complexo de acharmos que o estrangeiro é sempre melhor que o nacional…

Passado algum tempo ouço um pouco de jazz, de Miles Davos a Coltrane e agradeço aos meus pais terem-me concebido e feito nascer neste culto e evoluído país, amante de gostos requintados e extravagantes…

Mais alguns segundos e já estou a ouvir a última do Quim Barreiros, e praguejo contra a ignorância, a imbecilidade e a incultura que continuam a grassar neste país 35 anos após o 25 de Abril…

Ainda não acabei os insultos e já ouço uma Kizomba. Que país alegre e com ritmo, vazio…vazio, mas mesmo assim colorido de forma tão berrante quanto a altura do som que ouço…

Por entre coloridos e floridos chego mesmo a ouvir a última do Tony Carreira e logo retrocedo na cor e na alegria. Nesse momento chego mesmo a chorar, tal a tristeza de pensar onde chegámos sem querer saber para onde vamos, tipicamente português. Que coisa mais fácil de ouvir não existe!

De repente, vindo não sei bem de onde, como um trovão, ressoa, qual martelo pneumático, uma sonda metálica que perfura os meus ouvidos sem dó nem piedade. Alguém é capaz de ouvir isto? Será isto rebeldia? Será isto querer marcar a diferença? Não chego a perceber.

Logo depois ouço, ao longe, vindo de forma subtil, uma sonoridade tribal, meio étnica, a fazer lembrar o retorno às origens e penso que talvez neste país ainda haja quem ame a natureza e a paz de espírito…

Ainda me encontro em meditação, mas acordo de repente do estado letárgico em que entrei para ouvir o mais alto, desclassificado e tradicional toque de campainha. Que raio de falta de gosto, que cinzentismo, que falta de ambição, de espírito, de capacidade criativa…

O concerto segue com musica electrónica que me faz entrar na era espacial. Chego a pensar que deixei este país em direcção ao futuro. Uma coisa e outra não são, claramente, compatíveis. Algo parece deslocado naquele som. O futuro aqui deve ser uma qualquer discoteca onde todos se olham, tocam e no fundo…nem se vêm. As aparências enganam…

A meio da viagem sou travado por um sons animalescos, burros, cães, cavalos e outras bestas que me fazem lembrar imediatamente algumas pessoas…

Ouço, entretanto, uma guitarra portuguesa, portuguesinha de todo, acompanhando uma voz tão triste quanto magnifica, tão doce como deprimente, tão bela como escura, tão cinzenta como pacífica e penso…que raio de fado o nosso!

Estes telemóveis podiam ser espelhos…
Hugo
Parasitas



Na ânsia da modernidade, do progresso e do desenvolvimento, Vila de Cegos, uma pequena cidade, cujo nome mais não reflectia do que a incapacidade para se utilizar o instrumento óptico para ver e não para olhar, ficou muito contente quando descobriu que o seu monte mais alto e volumoso, de verdejantes pastos e poiso de plantas, aves e animais de todas as cores e tamanhos, por mão humana ou divina, possuía um filão enorme de minério.

Estamos ricos! Estamos salvos! Finalmente vamos sair da pobreza! Estas eram conversas reinantes nos mais variados espaços públicos. Foram dias e dias de festas, boas disposições e ilusões. Finalmente iria haver emprego com fartura, desenvolvimento, progresso e evolução. Uma empresa multinacional já tinha garantido a concessão da exploração e as perspectivas eram animadoras. Finalmente os filhos de Vila de Cegos iriam ter acesso a uma vida melhor.

Vila de Cegos, com o seu rio de águas prateadas, de peixes saborosos que se apanhavam à mão, de solos abundantes, onde o poisio era uma miragem porque desnecessário, de ares e aguas termais, onde a saúde era uma obrigação e uma imposição, considerava-se, estranhamente, uma vila pobre. Diziam os seus habitantes que lhe faltavam os néons, os automóveis, as buzinas, as rotundas, os semáforos e até o cinzento do cimento em altura. Faltavam-lhe os prédios e as estradas, faltava-lhe vida, ao que diziam. Vila de Cegos era, naturalmente, uma vila sem artificialidade.

Passado algum tempo, nunca a vidinha tinha ido tão bem. Carros cada vez maiores circulavam na vila, é claro que nenhum era dos seus habitantes, mas ao vê-los passar, todos pensavam que um dia poderiam lá chegar. Casas e mais casas, com esgotos e mais esgotos, o espaço humanizado massificava-se e tirava forma à natureza.

Era o progresso, a modernidade e a sofisticação. A empresa mineira, extraía de dia e noite, sem parar, em turnos rotativos que esgotavam aqueles que neles se integravam. Valia a pena, pensavam, por um futuro melhor, valia a pena, mesmo que o presente prometido ainda não se estivesse bem a ver. Mas, como se costuma dizer, o sonho comanda a vida e a esperança é a última a morrer. Mesmo as famílias das vítimas de acidentes e doenças continuavam a pensar que valia a pena.


Subitamente, o minério começou a escassear. Tinham passado muitos anos sob o ritmo de uma exploração cada vez mais desenfreada e intensiva. Não fazia mal, o que importava era produzir mais e mais riqueza. O problema é que, para além da abundância de ritmo, havia abundância de gente, de casas, de carros, de estradas, de rotundas, de sinais e de…centros comerciais.

Do rio espelhado e prateado, dos campos frescos e verdejantes, dos solos reprodutores sem fim, do ar e águas revitalizadoras já ninguém se lembrava, tinham caído no profundo esquecimento dos mais velhos. Os tempos eram outros, diziam os mais novos.

Na sequência da crescente escassez de minério, a produtividade começou a descer, de repente o gráfico da rentabilidade começou a apresentar uma tendência de evolução decrescente. Não é que não desse lucro, não é isso, o problema é que o lucro já não subia de ano para ano, agora, descia de ano para ano, mas ainda existia.

E a empresa começou a prospectar noutros locais e a mais aterradora e antes imprevisível das notícias surgiu. A empresa ia deslocalizar-se. A empresa tinha encontrado minério noutro local, muito minério para explorar. Um novo local, onde o gráfico iria voltar a crescer.

O emprego foi-se, o ordenado foi-se. A população teria de virar-se novamente para o passado, teria de virar-se novamente para as actividades tradicionais.


Tal como o emprego se tinha ido, também a juventude havia tido o seu tempo, somente os doentes e velhos sobraram. A mina tinha feito as suas vítimas. Mas também tinham ido as águas prateadas do rio, os seus peixes morrido envenenados de metais pesados libertados pela mina. Os solos poluídos de metais não menos pesados, agora…nem com pousio lá iam. Igualmente os campos verdejantes estavam secos e os ares e águas rejuvenescedores tinham envelhecido como tudo o demais. Vila de Cegos estava mais pobre do que nunca. Melhor, agora, Vila de Cegos não era pobre, era miserável. Dezenas de anos de mina e no fim, para além de ninguém ter acumulado o suficiente para sobreviver, o pouco que tinham deixaram de ter.

A ilusão do progresso, da modernidade e da sofisticação deu lugar à depressão. Tanto trabalho, tanto esforço, tanta exploração e Vila de Cegos encontrou-se mais miserável que nunca.

Vila de Cegos mudou de nome, talvez se tenha passado a chamar Vila de Vistas e assim talvez possa ver uma luz no fim do túnel. Pelo menos algo aprendeu. A riqueza só vale a pena, se for para ser distribuída.

Até quando continuaremos a ter empresas parasita?

Hugo Dionísio
Da casa de banho à política vai o passo de um casamento!




Numa tomada de posse de uma pequena junta de freguesia, a lista maioritária, composta por dois partidos, conseguiu eleger 4 representantes em 9. O partido que ficou em segundo lugar elegeu 3 e outros dois partidos elegeram mais um cada.

Até aqui tudo bem. Nas semanas subsequentes ao acto eleitoral para as autárquicas, e antecedentes à tomada de posse, iniciaram-se as movimentações com vista à constituição de um executivo, com 4 elementos e que teria de ser aprovado por maioria simples na primeira sessão da assembleia de freguesia, que nesse dia e local tomava posse.

Facto 1. O partido maior da coligação, ao enumerar os membros que queria colocar no executivo, não incluiu um membro do partido mais pequeno. Do tipo, primeiro usámo-los e agora deitamo-los fora! Ou melhor…Casei contigo e agora quem manda sou e se falas muito…corto-te o pio!
Facto 2. O partido mais pequeno da coligação, sentindo que o acordo não estava a ser cumprido, decidiu retirar-se da coligação. Divórcio? Nem pensar, o pretendido era mais uma espécie de envenenamento fulminante!

Facto 3. O partido maior da coligação, decidiu contactar os restantes partidos com vista à celebração de um acordo pós-eleitoral que lhes garantisse a aprovação do executivo da junta na assembleia de freguesia. Para tal, prometeram o cargo que não haviam atribuído ao partido com quem tinham o acordo de coligação pré-eleitoral. Adultério? Antes morto à pedrada!

Facto 4. Nenhum dos outros partidos aceitou o cargo ou acordo, pelo que, no dia da tomada de posse, ainda não era garantido que se conseguisse aprovar um executivo para a junta. Afinal todos ouvimos falar de famílias desestruturadas e mono parentais.

Na sequência destes acontecimentos, os nervos andavam à flor da pele. Por entre telefonemas de bastidor, conversas nos cantos e recantos, promessas cumpridas e comprometidas, mas que, pela lógica, não eram para cumprir, os vários partido lá iam fazendo o seu jogo político, qual jogador de poker sem cartas, mas com uma lata imensa para o bluff.

Aliás, as estratégias delineadas, pela capacidade de improviso fariam corar o melhor dos estrategas. A verdade, é que à chegada ao local da tomada de posse, logo me confrontei com o cheiro nauseabundo a política de trazer por casa, mas não por qualquer casa, de trazer por… casa de banho.

Pelo que, a sucessão dos factos que em seguida enumerarei não mais será do que o desenrolar de um rolo de papel, daquele papel que todos sabemos para o que serve e com o qual fazemos coisas mais limpas do que a sujidade que abunda na consciência de alguns daqueles que, infelizmente, se constituem (pelo menos é o que eles acham) como a reserva político-estratégica da nação. O que dava vontade de fazer era puxar autoclismo e vazar tudo, desinfectar de seguida e voltar a fazer outra vez, a ver se desta saía algo mais limpo.

Mas vamos lá ao “rolo” de acontecimentos:

Volta 1: quando cheguei, na qualidade de membro de uma das listas concorrentes, deparei-me com uma reunião de emergência, em plena rua. Aquele que se me apresentou como o “núcleo duro” do partido mais pequeno que havia concorrido à coligação, tinha ido ter com todos os partidos da oposição, pedindo-lhes que votassem contra a constituição do executivo a apresentar mais tarde, pelos seus, até aí, parceiros de coligação, na já muito desgastada assembleia de freguesia (ainda nem tinha tomado posse, a assembleia);

Volta 2: É claro, que nenhum dos outros partidos revelou qualquer compaixão pelo partido vítima de violação dos deveres conjugais (È sempre a parte mais fraca que se lixa, mas, quem os manda casar por interesse?), e nesse sentido, mantiveram a mesma perspectiva quanto ao sentido de voto que pretendiam evidenciar algum tempo mais tarde;

Volta 3: Enquanto isto, andava o marido da coligação, também de roda dos partidos da oposição (principalmente dos que haviam eleito só um representante), oferecendo o que havia negado à mulher, o cargo de 1.º secretário da junta. Os partidos da oposição, por não quererem meter a colher entre homem e mulher, não aceitaram a oferta, não acreditando em ofertas natalícias antes de 25 de Dezembro;

Os ânimos iam ficando cada vez mais pesados e agressivos. A violência doméstica era eminente. Nunca uma luta por um lugar numa casa de banho tinha ido tão longe. De violência física não me lembro, não presenciei, mas também não nego a sua existência, provavelmente terá ficado fechada entre as quatro silenciosas, surdas e mudas paredes do lar conjugal. Mas violência verbal, moral e ética, meus caros, essa ia crescendo como os lucros das gasolineiras que nos furtam o nosso dinheirinho diariamente.

Os corredores do Centro de Dia para Idosos, inaugurado nesse próprio dia, estrearam-se com aquelas que deverão ser as conversas mais animadas, mal criadas e mal intencionadas do resto dos seus dias. A não ser que seja um Centro de Dia para políticos reformados, aí, já não digo nada.

Ele eram ameaças de quebra da coligação ao nível nacional, ele eram ameaças de se desfazer uma amizade que já prevalecia, entre interesses mesquinhos e egoísticos, há mais de trinta anos (pelas palavras dos eleitos, é óbvio), ele eram ameaças de divórcio sem retorno possível, condenando os cônjuges à mais violenta das solidões políticas, uma espécie de viuvez antecipada, sentida mas não concretizada.

No meio disto tudo, populares havia que, presenciando todo este espectáculo circense, mas daqueles circos de carroça, em que o carroceiro é tratador dos burros, monta a tenda e no fim é palhaço (até aqui a similaridade é enorme, coincidência? Não, este palhaço é honesto, os outros, nem por isso), dizia, populares havia que iam abandonando a sala, revoltados com o espectáculo, pois o bilhete vendido e o programa entregue não faziam prever aqueles números.

Mesmo assim, numa sala cheia de curiosos, que resistiram até ao último momento para ver como acabaria a desgraça, lá se deu início à tomada de posse. É durante o discurso do novo presidente da junta (acompanhado de demasiado perto pelo anterior presidente, que depauperou os cofres da junta e se prepara, mesmo assim, para lá ficar como assessor, qual amante cuja paixão é mais forte do que o medo de ser apanhado) que se dá a reviravolta no enredo deste Sketch do “Gato Fedorento”. Durante o seu discurso, o anterior presidente (cessante mas não cessado) vai falar com o “núcleo duro” do partido mais pequeno da coligação e diz-lhe que afinal aceita colocar o seu eleito no executivo da junta. Ah ah?! È aqui que a violência doméstica acaba. Afinal há lugar para os dois naquela casa de banho!

Na sequência do retrocesso verificado ao nível do abuso de posição dominante (diz a bíblia que Eva tem de obedecer e servir a Adão), o senhor “Núcleo Duro” decide chamar o representante eleito do seu partido, já sentado por entre os outros representantes. E não é que, esse representante é o seu filho? Engraçado não é? Coincidência? É que numa democracia não há sucessão dinástica, ao que dizem.

Então, lá vem o filho do casal (pois o pai é que tinha consumado o casamento, pois, afinal, também é eleito cessante mas não cessado da anterior assembleia de freguesia que acabava ali as suas funções) chamado pelo papá, e recebe a instrução final: - Vota sim, que já tens lugar no executivo, prometido pelo presidente cessante mas não cessado!

Bem, se algum dia tiver dúvida do que é uma expressão de alívio, lembre-se ou imagine a expressão que terá manifestado este filho, que finalmente conseguiu aliviar-se de toda a tormenta que lhe tolhia os intestinos e para qual já tinha o rolo de papel à espera. Vejam agora, o que vai ser de desenrolar de papel higiénico naquele executivo!

Então o fulano que tinha pedido para votar contra, agora vai votar a favor, uma parca meia hora depois? Bem, é verdade que meia hora é pouco tempo para a resolução de uma desavença conjugal, mas é muito tempo para a resolução de um problema de trânsito intestinal.

Então, por verborreias e diarreias, lá foi votado o executivo e com a abstenção de um dos partidos que tinha eleito só um representante, lá passou o novo executivo, constituído pelos novos membros mais os membros cessantes e não cessados.

A verdade é que depois de queixas à PJ por desvios de verbas dos cofres da junta, o partido que as desviou lá continua com o seu novo presidente, com o seu velho presidente, com o seu novo executivo, com o seu velho executivo (aquele que não tiveram lata de fazer aparecer nas listas eleitorais) e com todas as intenções futuras, previstas em papel de propaganda, mas não concretizadas nem concretizáveis nas cabeças propagandeadas e propagandeadoras. Enfim, é o velho desfasamento entre a promessa e o que é realizado, tal como em qualquer casamento, o noivo nunca é à medida, ou em qualquer problema de trânsito intestinal, o que sai, não é de perto nem de longe, correspondente ao tamanho daquilo que a vítima desejaria ter saído.

Cheira mal esta política? Pois cheira. Mas isto é numa junta de freguesia, agora vejam numa câmara, num governo. O mal, é que muitos dos nossos políticos são extremamente coerentes nas suas acções, fazem na política o mesmo que sempre fizeram na sua…casa de banho!

Já agora, a título de informação, a coligação era entre o PSD e o CDS, os outros partidos eram o PS, CDU e BE. Se calhar, nem todas as sanitas são receptáculo do mesmo tipo de material!

Hugo Dionísio