Para assuntos da população, gente sem vocação!



Desemprego. São economistas, advogados, médicos e outros doutores, todos com altos cargos e no topo da vida. Portadores de vários contratos de avença, empreitadas, consultas processos e que tais em fim. Precisavam da ubiquidade, mas desse dom não parecem usufruir. Ninguém está mais habilitado do que eles para abordar a problemática do desemprego. Como é bom ouvi-los a dizer em voz bem alta: - JÀ NÂO EXISTEM EMPREGOS PARA TODA A VIDA!

Salários. Por entre jornalistas, analistas e outros “show” makers, principescamente remunerados, o tema mais discutido é o dos elevados salários do país que não deixam a economia nacional disparar. De salários baixos também estes podem falar. Como dá gosto ouvir dizer, com ar de quem domina a ciência: - AUMENTOS NA FUNÇÂO PUBLICA ESTE ANO TÊM DE SER CONGELADOS!

Pobreza. Tudo gente bonita, bem vestida e temente a deus. Homens e mulheres de legiões de ajuda aos pobrezinhos. Sortudas e sortudos de uma vida caridosa, encostados à sorte que outros construíram, mas que alguns roubaram, furtaram ou que oportunistamente aproveitaram, que dedicam o seu tempo livre a ajudar pobrezinhos. Eles sabem como ajudar. Pobreza é lá com eles. E com ar de entendidos disparam: - PARTICAR A CARIDADE É UM DEVER DA CRISTANDADE!

Insegurança. Senhores de motorista, rodeados de seguranças, uns, de capangas, outros. Em redomas de aço transparente, onde a realidade não toca nem contagia. Senhores e senhoras, com voz na televisão e na rádio queixam-se da insegurança. Disso percebem eles. É como ouvir Portas, num mercado a vociferar: - MAIS POLÍCIA SE FAZ FAVOR, TEMOS DE ACABAR COM A CRIMINALIDADE (como lhe dou razão!).

Discriminação de mulheres. Ministro da Igualdade. Senhor presidente da comissão para a igualdade. Comissário para a luta contra a desigualdade. De discriminação de mulheres, de certeza que percebem. E percebem tanto que já os ouço dizer: - É NECESSÀRIO PARTILHAR O PODER COM ELAS!

Menores e crianças. Juízes, advogados, sociólogos e psicólogos, todos preocupados com a tutela. Tutela este, tutela aquela, tutela assim, tutela assado. Tutelo eu, tutelas tu. De tutelados e tuteladas percebem eles. Já estou farto de ouvi-los dizer: - É PRECISO DECIDIR NO INTERESSE DA CRIANÇA!

Estrangeiros e emigrantes. Portugueses, nacionais genuínos, nunca saídos, nunca migrados, imigrados ou emigrados. Falantes da mais comum língua de Camões. Das línguas de outros escritores geniais, nem ouvidas nem faladas. De problemas de integração, acolhimento e igualdades de tratamento, do que eles, ninguém sabe mais. E dizem em bom português para estrangeiro ouvir: - É PRECISO GARANTIR IGUAIS DIREITOS AOS EMIGRANTES. Outros temos que também dizem: - A CULPA DISTO TUDO É DOS EMIGRANTES!

Sexualidade. Preservativos e outros meios contraceptivos? Padres, Priores, Bispos e Cardeais, absolutamente misericordiosos e castos também. São os mais aptos a falar de sexualidade, com toda a certeza. E com ar santo dizem: - RELAÇÔES SEXUAIS SÒ PARA REPRODUZIR! (que o diga o padre Frederico).


Finanças Públicas. Gestores, empreendedores, investidores e outros aproveitadores de públicos subsídios, entendidos em livre iniciativa e em mercado aberto, são grandes comentadores de assuntos de estado. Quando se trata de despesa pública, normalmente ouvimo-los dizer: - O ESTADO TEM DE CORTAR NAS DESPESAS SOCIAIS!

Segurança Social. Outra vez Gestores, empreendedores e investidores, mas também governadores e outros credores, acumuladores de várias prestações de reforma, adquiridas de passagem sem permanência em locais de distribuição de riqueza de acessibilidade ultra-limitada, costumam dizer: - É NECESSÀRIO BAIXAR A TAXA SOCIAL ÙNICA DA SEGURANÇA SOCIAL! AS PESSOAS TÊM DE SER RESPONSÀVEIS PELA SUA PRÒPRIA REFORMA!

Direitos dos trabalhadores. Programas de televisão, programas sem televisão, todos e sempre na discussão do que se convencionou de apelidar de privilégios, regalias e oferendas. Como se não houvesse precariedade e exploração, patrões, empregadores, empreendedores e Investidores, levantam e bandeira dos trabalhadores e com ar de que com eles se preocupam dizem a toda a voz: - É PRECISO MAIS FLEXIBILIDADE! A LEI É MUITO RÌGIDA! COM TANTOS DIREITOS NÂO È POSSÌVEL TRABALHAR!

Política. Oportunistas, vendedores da banha da cobra, amigos do alheio, trapaceiros de toda a espécie, reúnem-se, nalguns locais muito mal afamados. Frequentadores de antros de vício e perdição que ninguém respeita, dizem, como se nós acreditássemos: - È PRECISO CONFIANÇA! NÒS VAMOS DESENVOLVER O PAÌS!

Serviços públicos. Outra vez…gestores, investidores e empreendedores, alguns deles grandes estupores, responsáveis por falências fraudulentas, falências genuínas, insolvências e outras incompetências, em uníssono, é ouvi-los lamentar da sua sorte desgraçada: - HÀ QUE DAR OPORTUNIDADE À INICIATIVA PRIVADA! A GESTÂO PRIVADA È MELHOR DO QUE A PÙBLICA!


Não há dúvida que neste país, são sempre os mais interessados a tomar conta das coisas com as quais estão menos identificados!

Hugo Dionísio

1 comentários:

Inês Dionísio disse...

Muito bom! Mas esqueceste-te (ou não) de referir um facto importante na parte dos patrões. Não esquecer que são os defensores de que o salário mínimo não deve ir até aos 500 euros em 2011 pois isso tornaria a nossa economia menos competitiva, isto em palavras do van zeller, que tadinho, como tantos outros patrões, é muito pobrezinho e não pode pagar mais aos trabalhadores.