há mais de 2000 anos já se sabia!

Cuidado! Vê o que acontece se não participares. Já Platão o sabia. Quantos mais milhares de anos serão necessários para tu também o saberes?

A injusta repartição da riqueza!

Consideras justa esta repartição da riqueza? Então o que esperas para reinvindicares uma mais justa? alguém que o faça por ti? Espera sentado/a!

Não sejas mais um frustrado/a!

Não há pior frustração do que a que resulta da sensação de que não fizemos tudo o que podiamos!

Suportes Tecnológicos




Tornou-se costumeiro dizer-se, alguns com mais razão, outros com menos e outros ainda sem nenhuma, que quando algum dirigente ou porta-voz do PCP usa da palavra para comentar algum facto político ou transmitir uma ideia ou opinião relativa a qualquer matéria política, está a reproduzir a cassete do costume. Isto com o objectivo de aludir-se a um certo discurso considerado datado, ultrapassado e amiúde repetido por todos os membros desse partido, como se, só houvesse um leitor e uma só cassete, perfeitamente enquadrável num certo carácter franciscano do partido. A existência da K7 também previne dissidências, descarrilamentos ideológicos e delitos de opinião de qualquer espécie.

Não vou aqui fazer qualquer juízo de valor sobre a validade dessa rotulagem, contudo, tenho a certeza de que, transpondo o discurso político partidário Português para os vários suportes tecnológicos de registo que conhecemos, o PCP não será o único partido do nosso quadrante, relativamente ao qual será possível esse tipo de correlação.

Vejamos então a minha proposta de transposição:


PCP – já sabemos! É a cassete (K7), pelos motivos anteriormente expostos

Bloco de Esquerda – É o MP3. Porquê? Porque, tal como o MP3, estamos perante um registo facilmente transmissível, copiável e universalmente reprodutível, cuja reprodução não importa a assunção de um compromisso mais ou menos rígido, tal como para se reproduzir um MP3 não se necessita de um suporte tecnológico por aí além. Tal como o MP3, o registo do BE é light, acessível, agradável ao ouvido, mas com conteúdo e substância de qualidade desejável, comparável à pouca profundidade e sustentação ideológica do discurso do BE. Daí o ocupar tão pouco espaço, o que é óptimo para os meios de comunicação social.

PS – Pend Drive! Uma Pen Drive? Mas uma pen drive não é um suporte de registo, é um suporte de armazenamento! Pois é! Mas tal como o PS, a Pen Drive pode armazenar todo o tipo de suportes que se desejar. MP3 para a ala esquerda, comparando-se por vezes ao BE. Folha de Cálculo para os liberais, porque tudo o que conta são os números. Word para os carreiristas da política que nos vendem a banha da cobra através de um discurso bonito e muito bem escrito. Wma e Mp4 para os corruptos, tal como os piratas que vendem vídeos e Cd’s áudio na feira. Na Pen Drive tudo cabe, tal como no PS também cabem todos os que quiserem lá estar. Fácil de guardar, de utilização universal, fácil de transportar e fácil de comprar, é tão fácil possuir uma Pen Drive quanto ser do PS.

PSD – o velhinho Disco cerâmico. Tal como o Disco das grafonolas, também o discurso do PSD é roufenho, soa a velho e ultrapassado. Tal como o Disco das grafonolas desapareceu por falta de capacidade competitiva com os “novos” suportes, também o PSD se deixou ultrapassar pelo PS, pois o PS regista o som do PSD, mas o PSD não armazena a informação da Pen Drive socialista. A estratégia está ultrapassada, a qualidade do discurso está ultrapassado pelas “novas” versões concorrentes ao centro e mais à direita. Tal como a sua líder, o suporte tecnológico associável ao PSD só tem lugar nos museus, cemitérios, casas particulares e nalgumas discotecas por onde circula o Santana Lopes. Até o Durão e o Cavaco já usam Pen Drive.

CDS-PP – CD-ROM Interactivo. Tal como nos CD-ROM Interactivos é sempre possível ao seu utilizador chegar ao fim, porque todos os caminhos possíveis e disponíveis lá chegam, também para o CDS todos os caminhos possíveis e disponíveis permitem chegar ao poder. Se for preciso utiliza-se a Pen-Drive para guardar o conteúdo do CD e diz-se que é do Centro e potencia-se uma coligação com o PS, por outro lado o CD-ROM também pode reproduzir o som da grafonola, e assim ocupa-se o espaço do PSD e chega-se ao poder pela AD ou pela coligação com o PS, por fim, por vezes o CD-ROM até contém MP3, para que se possam roubar alguns votos ou enganar alguns incautos, como nas feiras, mercados e outros espaços deste tipo. Cassetes, essas é que nem vê-las, aqui está o arqui-inimigo do CD-ROM. Ele convive com o Vinil, com o MP3 e com a Pen Drive, mas com a K7 é que nem pensar. Este CD-ROM interactivo é pedagogicamente fácil de utilizar e explorar, tanto pode ser explorado por um taxista, peixeira ou vendedor ambulante, como por um Salazarista, Capitalista ou até por Nazis. Desde a instalação no computador até à conclusão do percurso, todos os caminhos, estratégias, golpes e escolhas são possíveis, o que importa é chegar ao fim!

Como vêem, o nosso espectro partidário é tão rico quanto as formas de registo de informação. Embora o registo possa assumir diversas facetas, ele não varia de conteúdo muito por aí além, aliás, o estado do país é prova disso mesmo.

Pode ser que agora com o Blue-Ray ou com os ficheiros FLAC isto mudo,d esde que seja, claro está, em Open-Source, senão não saímos disto.

Um bom Natal e Um feliz Ano Novo e que recebam muitas K7’s Pen’s, CD’s e Discos, mas não piratas, claro está, dos verdadeiros. MP3? Se tivermos os outros para o que é que queremos um MP3? Porque é leve! Pois é, já me esquecia, até num telemóvel cabe.

Hugo Dionísio
Portugal está a evoluir!



Tempos houveram, não muito longínquos, em que o orgulho e o ex-libris do consumismo nacional se situava na praça do comércio. Patrocinada pelo BCP, SIC e outros ícones do nacional ilusionismo mercantilista, a árvore de Natal que se situava na praça do comércio e agora no parque Eduardo VII, era uma das maiores do mundo. O que interessa isso? Interessa e muito! A importância desse hodierno monumento é muito maior do que os seus largos centímetros de altura fariam antever.

Se a árvore de natal algum significado tem, não é, com certeza, o da necessidade de protecção e admiração pelas árvores nossas amigas, ou pela natureza em geral. Muito pelo contrário, como o provaram os emissários deste sistema económico feudal em que vivemos na recente conferência de Copenhaga. Esses senhores governantes, pretensamente eleitos e representantes da humanidade que os elege, principalmente aqueles que maiores responsabilidades têm no processo (alegadamente os do ocidente, terra da “democracia”) agiram, não nos superiores interesses de quem os elege, mas nos ainda mais superiores interesses de quem não os elegendo, neles deposita a confiança para a manutenção de um determinado status quo avesso à nossa sobrevivência. A partir do momento em que se deixou entrar o dinheiro na democracia, passamos a ter uma capitalocracia, ou seja, quanto mais dinheiro se tem, mais se manda, nem que isso leve à condenação do planeta e de todas as formas de vida, incluindo as suas.

Não! O significado da utilização do pinheiro como árvore de natal, nada tem a ver com isto. O seu significado, para além de questões meramente estéticas despidas de conteúdo, como tudo neste mundo de espelhos disformes, é o da ilusão de que no natal todos podem ter tudo. No natal todos podem sonhar em ter tudo. No natal os sonhos podem tornar-se realidade, podem materializar-se. Neste natal, ilusionista e mercantilista, há muito que valores simbólicos como o amor pelo próximo, a necessidade de nos preocuparmos com os outros ou a necessidade de vivermos todos em comunhão, em família, passaram à história. Hoje em dia, na sociedade pós industrial, o natal representa algo muito mais palpável. Representa o materialismo bacoco dos nossos tempos. No Natal há dinheiro para comprar, o pior vem depois.

Se há algo que podemos comparar ao tamanho das árvores de Natal, é a dimensão da ilusão da posse. Os países que maiores árvores de Natal têm são o Brasil (84 metros) e o México (90 metros). Emblemático, não?

Nos tempos que correm, a ilusão portuguesa só chega para 44 metrozitos de sonho. Se isto reflecte que estamos menos sonhadores que os brasileiros e os mexicanos, então, algo está a mudar e para melhor. Veremos no futuro.

Então mas porque é que no Brasil e no México, em tempos de aguda crise mercantilista, a ilusão da posse continua a ser tão grande? Querem que vos diga? Eu digo. Porque nesses países, onde a pobreza é tanta, onde a distribuição da riqueza é tão injusta, só lhes resta mesmo a ilusão de que um dia poderão ter algo. E como há uma grande percentagem da população com essa ilusão, as árvores são enormes. O tamanho da árvore é directamente proporcional à distância entre o que a população tem e o que queria ter. Isto é como a fonte dos desejos, quanto maior a moeda, maior o desejo, maior o prejuízo, menor a recompensa. É o sonho antes de acordar. Esses países ainda não acordaram.

Aliás, esta proporcionalidade ilusória funciona assim para tudo o resto. No fundo, a dimensão da árvore reflecte a desproporcionalidade entre o querer ter e o nunca vir a ter. E como essa desproporcionalidade é inultrapassável nas condições sistémicas actuais, a árvore não representa mais do que o tamanho da ilusão. Esta ilusão é, também ela, transportável para outros aspectos das nossas vidas:

• Um tipo pequenote, como os emigrantes portugas dos anos 60 e 70, que chegavam a França, ou outro país qualquer, e a primeira coisa que faziam era comprar um carro enorme. Lá está, o tamanho do carro representa a dimensão da desproporção entre a altura que se tem e aquela que se queria ter. Lá dentro, a ilusão de que se é grande é enorme, desde que só se olhe para fora e para os outros. Se o fulano olhar para dentro do carro, fica ainda mais frustrado.

• Um velho que arranja uma miúda nova. Nada melhor. A diferença de idades representa a diferença entre a idade que se tem e a que se queria ter. Quanto mais velho, mais nova a rapariga. Depois, andam tanto, que chegam a pedófilos.

• Uma velha que faz plásticas para parecer mais nova. Esta é a que eu chamo de ilusão inversa, ou melhor, a ilusão pura. É que, normalmente, devido ao ridículo do exagero, quanto mais plásticas fazem, mais inverso é o efeito. Quanto mais novas querem parecer, mais velhas ficam. A diferença entre o que são e o que tentaram ser, representa o tamanho da frustração a que chegaram. Vejam os exemplos da nossa praça (Lili Caneças, Moura Guedes…), tenho razão ou não?

• Aqueles tipos, para os quais já não havia massa encefálica que chegasse, por razões de mercado, a que nem a ilusão compensou. Esses tipos apostam tudo na aparência. É o ferro, os cremes, as vitaminas, os perfumes, o bronze e as tatoos. O impacto visual da aparência que possuem é inversamente proporcional à sua destreza intelectual. Quanto mais bonitos…mais burros. Contudo, podem sempre ter a ilusão de que são espertos…só espertos.

Mais exemplos haveriam que nos fazem levar à letra aquela máxima de que “o Natal é quando um homem quiser”. Há aqui qualquer coisa de machista, não acham? Deve ser por o Natal ter inspiração católica.

Aliás, mais ilusória que a figura do pai natal não existe. Um velhote de uma terra longínqua que traz prendas a todos os meninos, e entrega-as pelo buraco de uma chaminé e ainda por cima o tipo é gordo. Nada mais ilusório, não acham?
• Neste sistema em que vivemos, algo que aprendemos, muito duramente, desde pequenos é que nada é de graça. Mesmo que os nossos pais se matem a trabalhar para trazer um salário miserável, e para que possam proporcionar a quem os explora, o tal BMW que os faz sentir-se grandes, mesmo assim, nada é de graça. Logo, a figura do pai natal, o tal que dá prendas aos meninos que se portam bem, é para lá de ilusória, chega mesmo a ser sádica.

• Depois, pensando bem, o facto de ele trazer as prendas pela chaminé também tem algo de ilusório. É que a maioria das casas nem chaminé tem, pelo menos, uma chaminé em que ele possa entrar sem ficar triturado pelas ventoinhas dos exaustores ou assado pelas lareiras com recuperadores de calor. Logo, esta história, só pode estar mal contada. Isto não é ilusão, isto é desonestidade intelectual.

• Depois, quem inventa o pai natal é precisamente quem mais simboliza os pilares de um sistema que cedo os impõe a máxima de que nada é de graça. A Coca-Cola, um dos símbolos máximos do capitalismo. Ora, uma multinacional que subsiste através da exploração da mão-de-obra humana, que tudo nos faz pagar e que é o exemplo acabado do espírito mercantilista consumista que nos querem impor, vem criar a figura do pai natal, isto é violência moral. Os que nos tiram querem vir fazer crer que há alguém que nos dá? Ainda por cima gozam connosco, com a nossa miséria. Isto não há direito!

Mas, esta figura do pai natal é sem dúvida o exemplo mais emblemático e concreto da ilusão que quem mexe os cordelinhos deste sistema, nos quer criar. No fundo, quem manda nisto tudo, também quer fazer parecer que é uma coisa que não é. Por exemplo:
• Querem fazer crer que são democratas. Criam eleições fantasma, com partidos fantasma, e qualquer dia, como isto anda, até os eleitores passam a ser fantasmas. Já que, começa toda a gente a desacreditar nesta coisa. Aliás, já não falta muito, julgo que nas Honduras, por exemplo, para que os gorilas fantoches tenham ganho as eleições (com 70% de abstenção), devem ter votado os mortos…de morto a fantasma…

• Querem fazer parecer que são caridosos. Mostram o pai natal, mostram aquelas instituições de caridade que financiam e escondem as crianças indianas, vietnamitas, chinesas e outras que exploram, sem dó nem piedade, por um dólar diário, para poderem comprar mais uns aviões, uns ministros, secretários de estado e mercadorias desse tipo (alguns até compram caixas de robalos).

• Querem fazer crer que são a favor da paz e depois invadem o Iraque, o Afeganistão, a Palestina….não foi invadida? Pois não, mas parece.

Pois é, criam-nos esta ilusão, que no fundo resulta da natureza do próprio sistema. As coisas “são o que parecem e não o que são”. Só interessa o que parece, não o que é. Desta forma, o Natal até pode fazer parecer que pelo menos uma vez por ano todos podem ter, comprar ou fazer o que querem. Pelo menos uma vez por ano somos todos solidários, fraternos, respeitadores, caridosos. Isto é uma espécie dos 5 minutos de fama a que cada um tem direito na sua vida, como dizia Andy Warhol. Só que…nem eu tive ainda os meus 5 minutos, nem no Natal somos aquelas coisas todas, porque apenas se cria a ilusão de que o somos. Quais são as possibilidades de um brasileiro ou mexicano médio de ser caridoso? De ser solidário? De ser fraterno? Nem consigo próprio. A única coisa que pode fazer por si ou pelos demais é ter pena, ou então…rezar. Também dizem que resulta, é como o pai natal!

Contudo, isto está tudo muito bem montado, porque até esses pensam que podem ter e ser tudo isso, mas só no Natal. Aliás, esta ideia de criar-se um dia por ano para se ser tudo isso, foi sem dúvida uma grande ideia de quem manda nisto tudo. Assim, podemos ser o contrário disso tudo no resto do ano, com a desculpa de que não é natal.

• Não demos passagem a um peão numa passadeira. Não faz mal, não é Natal.

• Não demos prioridade a uma grávida numa fila. Não faz mal, não é Natal.

• Não dissemos obrigado a quem nos fez um favor. Não faz mal, não é Natal.

• Passámos à frente de toda a gente numa fila de trânsito. Não faz mal, não é Natal.


Estão a ver…Isto assim é fantástico. Como o Natal é só uma vez por ano…E até é no final do ano. E de propósito, é que assim, quando passamos para o ano seguinte, sempre podemos dizer, que o ano anterior acabou bem, logo o que chega também começa bem.

Como são boas as histórias do faz de conta que nos contam em crianças…
Também nos contam em adultos? Ah! Pois é.
Como também estou corrompido…
Bom Natal e Feliz ano novo, não é nem um pouquinho do tudo o que vos posso desejar, mas, por agora chega.

Hugo Dionísio
A Roletização do mundo


A partir do momento em que as bolsas entraram nas nossas vidas, nos nossos países, nas nossas casas e nas nossas empresa, todo o mundo se transformou numa enorme roleta. Uma roleta gigante, da qual o sistema financeiro é o pilar, fazendo todo o mundo rolar de acordo com a sua sorte.


Nesta roleta gigante, todos esperam que a bola algum dia acerte, ou caia em cima do número em que cada um de nós se tornou, transformou ou em que nos transformaram. Quando a bola nos cai em cima, fantástico, somos uns privilegiados, mais um dos cada vez menos numerosos privilegiados, que tiveram a sorte (ou o azar?) de deixarem de ser um mero número para a estatística. Enfim, é com esta ínfima possibilidade de a bola nos cair em cima que o sistema financeiro, que (des)regula o mundo, joga. É com a possibilidade sonhada, com a possibilidade da ilusão de uma dia também passarmos para o lado de lá, que o sistema nos compra e confunde. É assim que nos anestesiam.

Como em qualquer jogo de azar, a sorte é uma possibilidade remota, ínfima mas probabilística, e sendo probabilista, pode calhar a qualquer um. Contudo, neste jogo da roleta global, em que globalização financeira da economia nos transformou, as regras não são bem as de um jogo de azar normal. Neste jogo, a sorte calha sempre aos mesmos e o azar também. A única semelhança com os demais jogos que conhecemos é que este também só reverte a favor de uma meia dúzia.

Assim, transformaram este planeta num casino multinacional, onde a casa ganha sempre e os jackpots não existem, simplesmente, porque os prémios também não. Fazendo-nos crer que as regras são as da democracia, as da igualdade e as da liberdade, chegamos a pensar que um simples mortal numerado, também pode aceder às colunas do Olimpo. Mas não! Neste casino, as máquinas estão todas viciadas pela corrupção, pelo tráfico de influências, pelo favorecimento, pela clientela ou mais sofisticadamente falado, pelo lobbying. Os esquemas de vício são cada vez mais descarados, cada vez mais às claras, pois, para estes prevaricadores, não há penas, multas, coimas ou sanções de qualquer espécie. Não são eles que jogam, eles fazem jogar. E nós também não jogamos, nós somos apenas os joguetes. Então quem joga? Ninguém! Ninguém joga? Não! Pois se alguém jogasse, esse alguém, algum dia, por tão pura e simples ganância quanto a dos que mandam jogar, poderia, a qualquer altura do jogo, questionar a justeza das regras do jogo, a justeza dos prémios, a justeza das variáveis envolvidas. Assim, este jogo joga sozinho e reverte sempre, mas sempre, a favor da casa.


Tal como na roleta o prémio não calha aos números onde a bola cai, também nesta roleta global não é a nós que cabe o prémio, nós somos apenas os números. A nós só nos calha o esforço e o sacrifício para que o jogo aconteça. Quando muito, para nós este é um jogo onde, para participarmos nele, nem que seja como números ou joguetes, temos de pagar, sem que nos possa calhar qualquer coisa. Quando muito, somos como os empregados dos casinos, controlam o jogo, mas o prémio não lhes calha. Só que estes recebem ordenado, nós também. Recebemos um pequeno valor em troca do sacrifício de fazer o jogo funcionar, esse pagamento, nada comparável ao que produzimos, também não é para nós, é para as despesas do jogo. Somos nós que pagamos a infra-estrutura, somos nós que pagamos o combustível que faz andar a roleta, mas, como qualquer besta de carga que faz andar uma mó de um moinho, também não é a ela que cabe o pão, apenas recebe o indispensável, para continuar a conseguir colocar a mó a rodar.


Afinal, para além de números parece que somos umas bestas. Pois somos vítimas de tudo isto e, muitas vezes, não nos damos conta. Até quando vamos aguentar a regras deste jogo? Quando é que inverteremos as regras deste jogo?


Para que a bolsa funcione, qual pilar gigante de uma roleta maior, as empresas têm de ser volúveis e flexíveis, e como as empresas são constituídas por pessoas, também nós temos que ter vidas volúveis e flexíveis. Tudo o que possuímos passa a ser tão efémero quanto a estabilidade de uma acção na bolsa. Qualquer boato, qualquer rumor pode ter consequências nefastas nas nossas vidas. Tal é a ligação do sistema económico ao sistema financeiro, que, não é a economia que é o instrumento, somos nós o instrumento do sistema financeiro. Uma acção baixa na bolsa e vão milhares para o desemprego, simplesmente porque a acção tem de subir, para que quem manda no jogo, ganhe o prémio. Muito justo, este jogo. Será que aquela que diz ser a civilização mais evoluída da história da humanidade, pode ser governada por princípios tão bárbaros quanto a ganância, o egoísmo, o egocentrismo e vício? Será isto o princípio do fim da civilização ocidental? A tal que se baseava na democracia, na liberdade, na tolerância? Ainda acreditam que um mundo que se move ao ritmo do sistema financeiro é um mundo justo?


Mudemos a música que este disco está riscado…


Hugo Dionísio
Com moderação

 

Ai, se a revolta matasse….Estas seriam as minhas últimas palavras e se calhar não seriam tantas.

Ouvia eu a SIC notícias, passe a publicidade, quando me deparei com um dos exemplos mais concretos da manipulação mesquinha e subliminar, a que os senhores directores de informação dos nossos órgãos de comunicação social nos sujeitam. Será que não nos podemos queixar de violência moral? Devia de ser instituída a Comissão para a Defesa das Vitimas de Violência Moral e Desonestidade Intelectual da Comunicação Social (CDVVMDICS). Esta deve ser a maior forma de agressão do nosso, perturbado, status quo.

Já estou a imaginar o que se passa em algumas das redacções jornalísticas por este mundo fora. Lembram-se da lista de palavras que os censores do tempo da ditadura salazarista possuíam? Pois é. De certeza que hoje em dia também existe essa lista, não igual, mas uma mais moderna e “moderada”, na qual são estabelecidas as devidas correspondências quanto aos termos linguísticos a utilizar em cada acontecimento actual. Consigo imaginar também, algumas das correspondências constantes da mesma:

Trabalhador – Colaborador, funcionário, empregado
De esquerda – Radical, ultrapassado, datado
De direita – Moderado, moderno
Patrão – empresário, empregador, empreendedor, investidor
Muçulmano assassinado por israelitas, americanos, ingleses – abatido, eliminado
Soldado, guerrilheiro muçulmano – terrorista
Americano, israelita assassinado por muçulmano – assassinado, homicídio, morto a sangue frio, sem dó nem piedade
Bombardeamento de alvos civis por americanos e israelitas - intervenção localizada, dano colateral
Bombardeamento de país ou soldado muçulmano a alvos militares – ataque terrorista indiscriminado, genocídio, carnificina
Tortura praticada por americano a muçulmano – Maus-tratos, violência e assédio
Tortura praticada por muçulmano a americano - tortura
Imperialismo - globalização, comercio mundial, economia, G8
Bilderberg - Palavra proibida sob pena de despedimento sumaríssimo, com processo crime às costas.

Então, o que é que o súbdito jornalista disse que me deixou tão renitente face à informação que nos passam na comunicação social?

Como sabem, uma das maiores polémicas que se faziam sentir ao tempo da conferência Ibero-americana, era a visão que os vários presentes, altos dignitários de toda uma América latina, cada vez mais incendiada, tinham sobre a questão “Honduras”.

Dizia o linguisticamente preocupado jornalista que os representantes dos países participantes se dividiam em dois. De um lado, aqueles mais identificados com a esquerda, que condenam veementemente o golpe de estado e o posterior acto eleitoral. Aqui, não esquecer que por “de esquerda” deve entender-se “Radical, extremista, sectário, revolucionário”. De outro lado tínhamos, na verborreia subliminarmente seleccionada, do jornaleiro repórter, uma facção “digamos” mais,”, “moderada”, literalmente assim.

Se a palavra “moderada” quer dizer “conservador, de direita”, ou se por “moderado” se quer dizer “aquele que se vende, aquele que, face a um poder maior, prescinde das suas crenças e princípios”, então meus caros, não tenhamos dúvidas, eu prefiro ser “radical, extremista, revolucionário”. Com muito orgulho!

Mas esta situação ainda me fez trazer à colação mais duas relações muito importantes e em nada despiciendas.

A primeira é a de que, a revolta que senti pelo termo utilizado pelo subtil jornaleiro, fez-me contar quais os países a favor e contra a agressão democrática sofrida nas Honduras (ainda não compreendi como é que os EUA não invadiram esse país, nem os Intestinos Delgados deste mundo não apareceram a incendiar a opinião publica contra esse acontecimento). Descobri, que dos 21 países presentes, só a Costa Rica, a Colômbia e o Panamá não condenam o golpe e o acto eleitoral fantoche. Todos os restantes 18 incluindo Portugal, são unânimes na condenação. Coincidências das coincidências, estes três países possuem em seu território, uma base militar imperialista dos EUA. Já estão invadidos!

Outra das coincidências foi o facto de ter sido a mesa da presidência da cimeira a assumir a declaração de condenação da agressão democrática nas Honduras. Porque será? Eu posso adiantar uma explicação. Não se realizou uma votação face à declaração porque a derrota da facção “moderada” seria tão expressiva que resultaria num grave imbróglio internacional do ponto de vista diplomático, que poderia ser visto como uma “inaceitável” (para alguns) pressão sobre os EUA. E isso não poderia ser.

Mas ainda se podem retirar mais conclusões deste facto e acontecimento. Uma é a de que se o Sócrates e o PS fazem parte da facção “radical, extremista, revolucionária” que condena a agressão ao povo hondurenho, isto só podem ser boas notícias para o futuro. Quer dizer que o Sócrates e o PS são de esquerda e defendem com radicalismo os seus ideais e princípios. O país só pode, na minha opinião, ficar contente.

Outra conclusão é a de que nas redacções dos órgãos de comunicação social se promove em grande medida, a língua portuguesa. Promove-se a estilística, nomeadamente o eufemismo, quando se trata de amenizar os erros do poder económico e imperial. Pratica-se a hipérbole, quando se trata de evidenciar e exagerar as posições de quem não está no poder económico e imperial. E pratica-se a técnica da construção de glossários e dicionários. Esta técnica, bastante apurada nos nossos dias, é praticada pela procura e registo dos termos sinónimos ou não, que podem ser utilizados em substituição de determinadas palavras e termos a que o poder atribui significado ideológico.

Os jornaleiros, antes jornalistas, prosseguem a sua função principal, a da repetição das gordas, a da cantoria dos pregões e a da corrida á maior venda de audiências e jornais que for possível. Aliás, como se pode facilmente depreender, o jornalista é um profissional em desuso, pois como o que se vende é a imagem, vale mais um designer, um informático, um artista gráfico do que um jornalista, que são, normalmente estagiários mal pagos. Assim fazem o que lhes mandam sem questionar. Resultado, só lhes resta ser jornaleiros, pois a redacção, essa, está-lhe vedada e é reserva de meia dúzia de directores de informação, colocados cirurgicamente nos lugares, e de alguns assessores.

A presidência da cimeira declarou:

"Inaceitáveis as graves violações dos direitos e liberdades fundamentais do povo hondurenho". E defenderam que "a restituição do Presidente Zelaya ao cargo para o qual foi democraticamente eleito até completar o seu período constitucional é um passo fundamental para o retorno à normalidade constitucional".

Hugo Dionísio