Os farsolas

Os farsolas



Ontem, o senhor “Prelglgesidente” Cavaco disse que, “mesmo com o desemprego e a crise, não existem sinais de desagregação social”. Pois…Até custa, um pobre reformado, que vive com as dificuldades próprias de quem aufere uma pensão de miséria, falar desta forma. Cavaco, também poderia ter dito que, “não fossem as mortes e a destruição…a guerra até poderia ser uma coisa boa”!   

O moçoilo do BPN disse ainda mais alguns disparates, próprios de um filme de comédia “nonsense”, não fossem, eles mesmos, o reflexo da crise democrática que vivemos, na qual o PR se regozija de não ligar à voz do povo, ou, o Primeiríssimo Ministro, Vítor Gaspar, se regozija de não ter sido eleito, com um simples – “Eu não fui eleito coisíssima nenhuma”! Gaspar poderia ter ainda dito, para si próprio, qualquer coisa como – “Eleito? Cruzes credo”! “Vade retro Satanás”! O seu Salazar não diria melhor.

Este tema da decadência da democracia por contraposição ao crescimento dos conglomerados financeiros globais, constitui o a pedra de toque da farsa que todos vivemos e que, a grande maioria dos implicados, contra ou a favor, não têm coragem para revelar.

Economistas genuínos e honestos na TV? Espécie extinta.

Por exemplo, sobre o domínio da banca sobre as pessoas e sobre o sistema democrático, que aqui é bem conhecido e promovido, um conhecido economista Americano – Paul Krugman -  veio dizer que “estas corporações não se situam no âmbito do estado de direito e no âmbito de aplicação das lei”. É um economista americano…Não é um Português de “extrema-esquerda”!

Esta declaração cabe, aliás, nos casos PPP’s (em que transferem para o estado os gastos com as manutenções, mas mantêm, as receitas, nos conglomerados financeiros beneficiários. Esta declaração cabe no caso BPN, venda da Vivo pela PT, Banif, BPP…No fundo, o que Paul Krugman disse, foi que “não podemos ter um sistema económico que vive à margem da lei, do direito, da democracia e da sociedade, em geral”. Que é o que acontece.

Agora, que bom que era, um economista da tanga, aqueles que espetam nas televisões de manhã e ao deitar, para reafirmarem as maiores barbaridades, parecendo que estão da transmitir conhecimentos de uma lógica incontornável, que bom que era, repito, que eles dissessem algo como Paul Krugman disse. Muitos dos nossos economistas o dizem, mas não chegam à TV. Os que chegam à TV, estão lá todos os dias, precisamente, porque não têm, ética, carácter ou coragem.


Valores, princípios, ética e (I)legitimidade democrática. Da base ou da cúpula?


Isto quer dizer que, para além da crise democrática sistémica, na minha opinião, a maior das crises é a crise de valores, de princípios e de carácter. É uma  crise do espírito humano. Perante o apelo do dinheiro e o glamour dos corredores do poder, a maioria dos nossos dirigentes contemporâneos vacila.

E o vacilar, não quer dizer que se esteja de acordo. Quer dizer que, em determinados contextos, que deveriam ser de combate, de denúncia e de afrontamento, tornam-se contextos de confraternização e de correcção politica. Só que, esta correcção politica entre dirigentes de áreas politicas antagónicas e, na maioria dos casos, ideologicamente inconciliáveis, nada tem que ver com educação. Tem a ver, isso sim, com submissão ao glamour que o poder transmite ao comum dos mortais. Tem a ver com a submissão ao sentimento de imprescindibilidade, ao sentimento de que se é único, de que se manda e de que se influencia o sistema. Este sentimento elitista afecta sobretudo quem menos está, cultural e doutrinariamente, preparado para o efeito.

Esta correcção politica, confundida com educação, consiste, em si mesma, numa tremenda falta de respeito para com aqueles que legitimam a posição privilegiada de acesso aos corredores de poder, em que dirigente se encontra. Esta falsa parcimónia auto condecorosa, resulta do esquecimento do sentido de missão, do sentido do dever e do sentimento de gratidão por quem colocou esse dirigente numa situação em que, dado o acesso, lhe permite defender mais eficazmente, determinado interesse.

Assim, a ideia que deflagra em muitos dos nossos actuais dirigentes políticos, partidários, associativos, é a de que eles estão onde estão, porque são os melhores, porque são realmente bons, porque são a elite. Pobres de espírito, esquecem-se que a virtude de um sistema democrático é a de que, qualquer um pode lá estar se for capaz, por via do seu mérito, de atingir tal estatuto. Se tal não acontecer em democracia e se, um dirigente, qualquer que seja, lá chegar por outra via que não o mérito na prática demonstrado, então, meus caros a democracia está em crise. E depois, vêm os Coelhos e os Gaspares. O Coelho nunca trabalhou, como se sabe.

Por outro lado, que respeito pode ter um povo por um politico que não demonstrou qualquer mérito para lá chegar. Que respeito se pode ter por um dirigente que chega a um local porque alguém da cúpula o puxou para cima e não, porque da base tenha emergido?

Sabem porque é que o salamaleque politico e o politicamente estão errados? Porque revelam que o grupo de dirigentes em questão, está agradecido ao sistema político que o colocou naquela situação. Não é ao povo que está agradecido, é à cúpula, da organização politica do sistema, em que se integra.

Tal sentimento elitista, puramente anti democrático, que transforma todos os dias incapazes em seres iluminados, a que os outros têm de obedecer, porque estes foram “legitimamente” consagrados, revela a ilegitimidade de um sistema, no qual, os cargos políticos não são vistos como plataformas de trabalho para obtenção de resultados que defendam os interesses da base, mas o contrário. Para esse sistema, o cargo, o tacho, são um resultado em si mesmo. O que se faz com eles não conta, o que conta é estar lá. Depois de se ter lá estado, todos passam a ser os maiores.


Dos "bancos", dos "tachos" e de outros poleiros. A auto divinização do incapaz.


Daí que, uma vez, um responsável politico que conheço me disse…Só chora por ter um “banco” quem não
o tem! Pois é, é precisamente esse sentimento que coloca o país onde está. É que os bancos não servem para nos sentarmos e usufruirmos das vantagens de estarmos bem sentados. Os bancos devem servir para criar mais bancos, para aprofundar o sistema democrático, para aprofundar a participação democrática. Quanto mais pessoas participarem, melhor o país se torna. Porque o participar politicamente não deve ser próprio de alguns iluminados, auto ou hetero impostos, a participação democrática deve constituir um dever de todo o cidadão de uma sociedade democrática e todo o cidadão, para nosso bem, deve estar preparado para o fazer. Se o sistema for elitizado…se quem dirige achar que é melhor só porque…pode dirigir, mesmo que não o faça com qualidade, então…o que temos não é democracia…é autocracia.

Isto tudo para vos perguntar. Não estamos nós fartos de salamaleques? Não estamos nós do politicamente correcto? Não estamos nós fartos de paz podre? Não estamos nós fartos de que as pessoas nãos e assumam? Não estamos nós fartos de falta de frontalidade? Não estamos nós fartos de cobardia, mascarada de falsa humildade e cobardia?

Não desejaríamos antes, dirigentes políticos, cidadãos, trabalhadores que, ao invés do seguidismo e da embriaguez do poder, se olhassem olhos nos olhos e dissessem o que deveria ser dito?

A sabedoria popular é fantástica…Não devemos chamar os bois pelos nomes?

Não devermos nós, cidadãos, dirigentes ou não, desprezar profundamente aqueles que todos os dias nos enganam, todos os dias se vendem, todos os dias se acobardam, arrastando o país para o fundo, dada a sua incapacidade, o seu oportunismo… Não devemos nós denunciar, repudiar e afastar-nos desta gentalha sem valores nem princípios?

A ligação dos líderes e dos dirigentes às massas


Sobre isto, gosto sempre de relembrar algo que, num pais como o nosso, com défice cultural democrático, resultante de uma ditadura ao abrigo da qual se formou a maioria da nossa classe dirigente (ninguém se torna democrata por decreto), e com tendência para se considerar que alguém, só por ser dirigente de algo já está num patamar superior, sem ter de o mostrar primeiro, dizia Karls Marx (não...nisto também não se enganou):

- É nas massas populares que está a reserva de quadris politicos revolucionários. A cada momento, em cada contexto, as massas (as classes trabalhadores, nomeadamente as operárias) farão emergir os quadros necessários à prossecução da luta política.

Sabem porque é que ele dizia isto? Porque ele não acreditava na providência divina. Porque não acreditava em Dons Sebastiões, porque não acreditava em iluminados, nem em elites supostamente direccionadas para a liderança e a governação. Para Marx, era do povo que saíam os quadros revolucionários. Ah...e era uma reserva infindável. Tantos quanto necessários. Aliás...Já os Einsteinianos quando aplicaram os principios quânticos à história chegaram à mesma conclusão. Os contextos históricos é que fazem emergir as lideranças e não o contrário.

A verdade é que se os lideres não emergirem das massas, se não estiverem a elas ligados, acaba, por ser lideres de pés de barro. Passos, Portas, Seguros...

Os bois pelos nomes. Um dever moral.


Felizmente, não sou o único a pensar assim, chegou a hora de assumirmos com todo o “brutalismo” que se impõe, as diferenças que nos distinguem de gente que não merece nem nunca fez nada para estar onde está. Ficam alguns exemplos do que digo:

- “Em diversas partes do livro, a linguagem pode porventura ser considerada demasiado dura para quem decidiu por nós o caminho que tomámos. Mas, na minha opinião, o desastre nacional é de tal forma profundo que é tempo de deixarmos as gentilezas de linguagem em benefício da crueza da realidade”. In. Porque devemos sair do Euro de João Ferreira do Amaral

- “Os tempos do Lixo” – “Chamo-lhe tempos do lixo para não lhes chamar outra coisa que estaria mais acertada”. – Novo livro de Pacheco Pereira

- “Palhaços? Não precisamos, já cá temos um. É o Cavaco”. Ou, “desculpo-me pela consideração que tenho pela instituição Presidente da Republica, porque, como sabem, o politico Cavaco Silva, não me merece consideração nenhuma”. – Miguel Sousa Tavares

- "Os senhores da União Europeia foram aldrabões, imbecis e inconscientes". Pedro Marques Lopes na TSF

Qualquer um deles subiu 300 pontos na minha consideração. Respeitemos o povo. Respeitemos a democracia. Respeitemos Abril.

Desde quando é que temos de ser gentis com aldrabões? Seja em que local for? Quem mente ao país, quem vendo o país e quem, para ser eleito, mente descaradamente, não merece a nossa educação, a nossa gentileza ou a nossa correcção. Merece é o nosso profundo desprezo. Merece a nossa profunda repugnância. Merece é prisão.

O contrário consiste na cumplicidade e na tolerância com a farsa instalada. Será que queremos fazer parte dela?

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