Estava eu em Dublin, em trabalho e, andava eu à deriva por
entre prédios rasos de tijoleira laranja (ali também reina a laranja?), quando,
no meio de um quarteirão dominado por emigrantes, deparei-me com o cartaz que
aqui junto.
Olhei para ele e pensei – ”Olha que boa maneira de passar uma
noite, quando estou sozinho, deslocado em trabalho”!
Voltei a olhar para o Cartaz, para tirar referências… coincidência
das coincidências… a conferência decorreria no mesmo hotel em que eu estava
hospedado (se fosse religioso, dizia que era obra de…). Conclusão, aproveitei a
oportunidade, para tentar extrair informação, sobre uma situação, sobre a qual,
mais não sabia do que o que nos é bombardeado, todos os dias, pela comunicação
social corporativa.
Então, no dia e à hora, lá estive. Primeiro aspecto importante
da coincidência, quem organizava a coisa (não era perceptível no cartaz) era o
Partido Socialista da Irlanda (um partido marxista, e...trotskista, e...outras coisas mais). Depois, bem, depois, foi
um receber de testemunhos, em primeira-mão, vídeos, fotografias e vivências que
trouxeram luz ao obscurantismo que, até então, reinava na minha mente sobre
tais acontecimentos.
Não, não era que eu não soubesse o que todos sabiam. Que o
rastilho foi o governo querer construir um Centro Comercial num jardim publico
importante em Istambul e que, na sequência do protesto e da carga policial, o
povo – sim, o povo – barricou-se na praça Taksim.
Mas, primeira coisa importante que lá aprendi…Sabem porque é
que foi escolhida a praça Taksim?
Bem, eu não sabia,
agora já sei. É que, em 1977, numa comemoração de um 1.º de Maio, dezenas de
trabalhadores foram assassinados nessa mesma praça. Trata-se, então, de uma
praça simbólica na ancestral luta do povo e dos trabalhadores contra a opressão
governamental.
Bem, o mais importante, contudo, é que esse evento de 77 nãos
e esgotou em 77. Passados 26 anos, volta a acontecer a mesma coisa. E embora a
nossa (des)comunicação social não elucide devidamente, a verdade é que a
brutalidade do governo liderado pelo 1.º Ministro Turco foi absolutamente
inaceitável, para um país que se diz democrático e que quer ingressar na EU.
Mais grave ainda, é que países Europeus como o nosso, não
assumam uma posição de força em defesa do povo turco. É que, o que se passou, não
foi mais do que o culminar de um conjunto de acontecimentos que têm vindo a
acumular-se ao longo desta escabrosa governação (onde é que já vimos isto).
De qualquer forma, a brutalidade da tomada da praça (as
pessoas estavam barricadas, mas em paz, não estavam a agredir ninguém) foi uma
coisa inaudita para os padrões europeus (embora estes também estejam a recuar).
Vejamos o que foi reportado na Irlanda e que aqui resumo (embora tenha pedido
para me mandarem os vídeos e as fotos que lá mostraram, para que as possa
partilhar com quem quiser):
- Milhares de pessoas agredidas e hospitalizadas, entre as quais um homem que, numa cadeira de rodas, segurava uma bandeira turca e que levou com um potente tiro proveniente de um canhão de água;
- Milhares de pessoas hospitalizadas com problemas respiratórios devido às milhares de bombas de gás lançadas contra as próprias pessoas e até para dentro de algumas casas, cujos habitantes estavam às janelas, em sinal de apoio aos manifestantes;
- Centenas de transeuntes curiosos agredidos selvaticamente, com balas de borracha na cara, só porque estavam ali a ver;
- Dezenas de pessoas cegas e com problemas respiratórios;
- Pelo menos 4 pessoas mortas;
- 73 Advogados e solicitadores presos, por tentarem libertar, das prisões, clientes seus que haviam sido, arbitrária e abusivamente, enjaulados.
Estes são apenas alguns factos de um autoritarismo inaceitável
nos dias que correm (depois venham cá falar da Síria…não precisam de ir tão
longe, basta ficarem pela Turquia). A Turquia também foi infectada
(positivamente, diga-se, como todos os outros) pela primavera Árabe. Só que ali
a coisa fia mais fino.
O que se passa na Turquia é o agudizar de uma situação que,
como diz um dirigente da CGTP-IN, meu amigo, é comparável à água em ebulição.
Até que ferva e borbulhe, até parece que nãos e passa nada.
Na Turquia, muitos têm sido os abusos ao nível dos direitos
humanos, abusos já tradicionais mas, agudizados com este governo. Por exemplo,
eis algumas pretensões e apostas do governo turco:
- Retorno das escolas religiosas separadas por sexo
- Educação religiosa obrigatória
- Retrocesso nos direitos das mulheres com a obrigatoriedade do uso do véu em algumas situações
Uma representante de uma organização femininista, de
nacionalidade turca, que estava presente na conferência foi, alias, bastante
clara sobre estes aspectos.
Bem, o que dizer mais? Dizer, por exemplo que, o ultimo
presidente americano a ir à Turquia (julgo que o Obama) disse que, a Turquia, já
tinha provado estar à altura dos requisitos fundamentais para entrar na EU.
Elucidativo, não?
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