Sensibilidade Artística

No outro dia fui com um amigo meu a uma exposição na Festa do Avante. Sabíamos que lá havia uma exposição plástica e fotográfica relacionada com a arte neo-realista, realista, arte urbana e alguma pop-arte. Esse meu amigo, o Laurêncio é um fulano que para além de engraçado é também, como dizer, algo sui generis. Sim é isso, sui generis. E alguém que vê arte em todo o lado, que tem uma sensibilidade emocional enorme e que se emciona com qualquer obra artística humana (e se calhar não humana também...).

Sabem aqueles tipos que estão num espectáculo de música contemporânea a ver outros tipos em cima de um palco a bater com um pau nuns vidrinhos, latinhas, pauzinhos e outras coizinhas, olhando para estes com um ar culto, com um ar que transmite uma sabedoria quase espacial? E nós pensamos:  "pá! que inteligentes devem ser estes tipos, que sensibilidade, que cultura"... Pois é, o meu amigo Laurêncio é desses. Jás os pais eram assim. Dizia-se até, na sua casa, que o avô que trabalhava no ferro, na construção civil, também era um verdadeiro artista. Não havia casa que ficasse de pé!

Mas enfim. Ele lá sabia daquele acontecimento de fim de semana e lá fomos nós. Entrámos na festa, percorremos todo um espaço que nos transporta para um romantismo político, para uns passado, para outros futuro, e entrámos no pavilhão onde se desenvolvia a exposição em causa. Por entre pinturas lindas de ver, outras nem por isso e outras que de lindas não tinham nada e até custava a crer que tinham sido pintadas por mão humana, mas para as quais o Laurêncio olhava ainda mais extasiado (eu não digo que ele também aprecia arte inumana?) e que me levavam a pensar o que ele sentiria se visse as pinturas do meu filho quando tinha um ano de idade, também havia lá umas coisas em ferro bastante esquisitas. Alguém as apelidava de esculturas. Engraçado não? Quantas e quantas esculturas haverão aí por esses estaleiros fora?


Mas o mais engraçado mesmo, foi umas fotos que vi onde só apareciam umas canalizações e para as quais o meu amigo Laurêncio olhava fixamente e dizia: - Olha, isto significa o fluir da vida nas condutas da natureza... Tudo isso? Ele vê lá tudo isso?

Depois da visita ao pavilhão, saímos e foi quando eu olhei para uma estrutura de ferro e reparei que o meu amigo Laurêncio nada dizia, nem sequer reparava. E eu disse-lhe: - Então Laurêncio, já reparaste que nesta exposição as esculturas de ferro começam logo cá fora? Ao que me respondeu: - Burro, isso é o andaime que suporta o pavilhão!  Estupefacto com a ignorância que o Laurêncio revelava tive de lhe responder: - Burro eu? Então não vês que isto representa os alicerces do futuro do homem, sobre os quais assenta uma sociedade mais justa? Não percebes nada de Neo-realismo!


Hugo Dionisio

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