Os últimos dias, frenéticos e perante a derrocada do governo, por acção democrática do povo, também se têm caracterizado pelos repetidos apelos e manifestos anti democráticos dos arautos do sistema.
Hoje, todas as quatro televisões noticiosas (TVI24, SICN, RTPN, ETV) escalaram o seu exercito de palradores antropomórficos, para, bem de manhãzinha, desatarem a assustar, horrorizar e amedrontar o, por vezes incauto, povo Português.
Seres antropomórficos, de aspecto humanóide, de fatinho azul, gravatinha e cabelinho lambido, desfilaram por entre pivots submissos, objectivas matematicamente apontadas e microfones bem afinados. Todos eles light, bem light, azulinhos da cor do light. Homens duplicados, de plástico e, obviamente, descartáveis. Parecem que nascem nas televisões como cogumelos. É a ultima moda do jornalismo corporativo depois da invenção dos drones para susbstituirem os pilotos humanos. Também as televisões gosta do piloto automático. Colocam as figuras, ligam o botão e dali sai sempre a mesma cartilha.
Tal como na Esparta antiga, os filhos eram tirados aos pais em tenra idade para se tornarem soldados perfeitos, hoje em dia, seres provavelmente biónicos, despojos bem caros das mais modernas clínicas de inseminação artificial, entram nas mais elitistas das escolas privadas, seguem caminho pela Católica, pelas diversas escolas ultra-liberais americanas e inglesas (porque para lá chegar só é preciso pagar) e depois, depois... Bem, depois, após 15 a 20 anos de estufa e tratamento de choque, o filho, irmão, tio ou avô de um qualquer Belmiro, Martelo, Moreira, Champalimaud ou outros que tais, estão prontos a desfilar na passerele televisiva, desenvolvendo violentas acções de manipulação de massas.
É claro que, já nem o cartão partidário conta (a não ser que seja de um determinado partido), o que conta, isso sim, é o percurso educativo. É a escola que traz nos neurónios. É o programa e o chip que trazem instalados na caixa craniana. Daí que, de repente nos apareça à frente um qualquer copinho de leite, ainda com bochechinhas de bébé, a debitar, arrogantemente, balelas ultra liberais, reaccionárias e anti democráticas. E fazem-no como se estivessem convencidos de que chegaram à verdade única. E para eles chegaram. Foi a única que conheceram.
Claro que, depois do percurso educacional referido, chegam a comentadores, jornaleiros e paineleiros. Chegam a directores do Económico e outros que tais. E depois é vê-los a aterrorizar o povo. São expelidos da sua estereotipada inteligência artificial considerações como: os mercados têm horror à instabilidade politica (leia-se eleições); Portugal tem muita credibilidade externa (leia-se dá dinheiro aos bancos e aos grupos económicos); é preciso ajustar a economia (leia-se desviar riqueza do povo para o capital) ou, as eleições são muito caras (leia-se para os mercados o melhor e nem haver democracia).
Então, hoje lá seguiam o seu périplo manipulador. Cada uma das televisões desfilava o seu boneco azul insuflado com aragem ultraliberal. E o que repetiam, incessantemente, estes "nenucos" de fato azul e cabelo lambido? Bem, os crescidotes (alguns já grisalhos) nenucos diziam:
- "Se o governo cair, o segundo resgate está garantido. E os deuses mercados e investidores nos livrem do segundo resgate. Porque os mercados têm horror à instabilidade".
Pois é. E eu que julgava que com este governo o segundo resgate estava já garantido. E, é engraçado, para estes figurinos em fibra de carbono, os deuses mercados são como o deus dos católicos. São muito bons, mas para castigar...Têm a mão pesada!?
outro dizia
- "Este governo já não tem legitimidade, este governo está ligado à máquina. Mas como os mercados têm horror à instabilidade politica, o melhor é não fazer eleições e manter o governo ligado à máquina, apenas gerindo externamente os destinos do país".
Quer dizer, o povo não precisa de governo, quem precisa de governo são os mercados. E qualquer um serve? Mesmo um ligado à máquina? Muito democrático este ponto de vista...muito patriótico...não haja dúvida. Agora percebo porque é que esta gente gosta tanto de fantoches. Afinal o que importa é fazer de conta que se é governo. Governar? Os mercados que o façam. No fundo é o que estes "nenucos" são. Uns fantoches. Agora se percebe porque é que o capital sempre foi fértil em ditadores fantoche. O povo não quer Passos. Mas Passos tem de se manter por causa dos mercados. A democracia? Bem, os mercados não têm na a ver com isso e, até ver, nem gostam muito dessas coisas. Essa "modernice" dos últimos anos cria muita instabilidade. Para os Rockefelleres deste mundo, o melhor era ter ditadores que durassem 50 ou mais anos. Por acasos abem que o pai do actual Rockefeller mandou matar carradas de operários nas greves americanas do inicio do século XX? Pois é, estes tipos, estes mercados são uns democratas do caraças.
outro ainda dizia (uma marionete do expresso, com mais de 60 anos e já com idade para ter juízo):
- "Viram a bolsa? Ontem, perante a possibilidade de queda do governo, a bolsa estava a cair a pique. Houve um ataque especulativo enorme. E hoje? Hoje, como as coisas estão mais calmas, a bolsa já está a subir! Ah, e agora fazer eleições era deitar por terra todo o esforço que tem sido feito para recuperar o país. A credibilidade externa, a ida aos mercados...Todo esse trabalho seria perdido".
Engraçado, e o trabalho para o povo? Esse não conta? O que conta são os mercados? os credores? e os Pagadores? Não contam? Por outro lado, quer dizer, a bolsa cai por causa do ataque especulativo, mas o que está mal não é a especulação, é a vontade do povo. Vêem porque é que de repente se entra em ditadura? É por causa destas coisas. O governo só conta para fora, para dentro pode tudo morrer à fome e na mais profunda miséria que, desde que os mercados não se chateiem, está tudo bem.
e por fim dizia
- "E isto é muito mau para os bancos, que são os primeiros a sentir estas coisas".
Sempre os bancos no nosso caminho. E o que ele não diz é que os bancos só sentem estas coisas porque estão pendurados no estado. E, logo, quando o governo que os sustenta vai à vida, é claro que eles ficam à rasca. E como os bancos ficam à rasca porque, em vez de serem empresas sustentáveis, são empresas insustentáveis, todos nós nos lixamos.
Meus caros, cada um pensa como quer e defende quem quer. O que não podem é vir dizer que são democratas, que querem o melhor para o país e depois virem dizer que o melhor é não dar a voz ao povo. Foi gente desta que aceitou a queda de democracias e a instalação de governos fantoches que governavam para os "mercados". É gente desta que, aparentemente ligados a uma imprensa que se diz livre, abre caminho à violação dos direitos democráticos mais básicos. É gente desta que acha que, há períodos em que o melhor é não haver democracia.
Pois eu digo bem alto:
- A democracia é sempre, mas sempre, o melhor caminho. Em momentos conturbados como o que vivemos a democracia nunca pode ser vista como um caminho a evitar. A democracia deve ser vista como o caminho que nos ajudará a sair da crise. Porque quem não acreditar nisto não é democrata.
- Em nenhum momento da história se resolveu algo a favor do povo sem a sua participação. Sempre que foi necessário avançar, foi por obra e acção do povo. Foi a sua intervenção que o possibilitou.
- Nunca o conservadorismo, o situacionismo e a reacção trouxeram algo de bom à humanidade. Nunca. O que trouxeram sempre foi ditadura, tirania e exploração. A história prova-o.
A democracia é a resposta necessária para se ultrapassar o problema. A resposta do povo e o seu interesse não são os mesmos daqueles que dominam a maioria da riqueza mundial e nacional? Obviamente que não. Esse interesses são, logicamente, inconciliáveis. Se a riqueza está de um lado...não está do outro. Claro como a água.
Sabem qual é o medo destes pacotes de mal cheirosa porcaria ultra liberal? O medo destes androides chipados é que o resultado das eleições não lhes permita continuar a chantagem com o povo. O medo destes robots humanóides, que só vêem números e entram em crash e troubleshooting quando a bolsa baixa, é que das eleições não saia uma alternativa que funcione com PS + cds ou Psd + cds. Têm medo da subida da esquerda.
Se eles soubessem o ridiculo a que se expõem quando fazem prevalecer sobre a vida de um povo, sobre o seu quotidiano, os números da bolsa ou os ratings das agências...Se eles pudessem ver-se nesse momento, perceberiam o quanto estão afastados da vida real e dos seres humanos. Não...eles não são humanos. Eles são sub-humanos.
Cambada de homens light.
Revolução - Sophia de Mello Breyner Anderson
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*Revolução*
*Como casa limpa*
*Como chão varrido*
*Como porta aberta*
*Como puro início*
*Como tempo novo*
*Sem mancha nem vício*
*Como a voz do mar...
Há 4 horas
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