O Reality Show acabou

O Monólogo do figurante 

A peça está a acabar. O público já assobia e vaia o actor, contudo, de um actor impotente o que é que se pode esperar? A malta telefona, telefona, mas ele não sai.

O público que assiste ao show anseia por um "reset" no programa, anseia por uma nova encenação e por um fresco desfilar de distintos actores "VIP". O argumento? Bem...o argumento é que é o problema. O argumento à primeira vista é igual. No Big Brother não há argumento. Contudo, já se for a Casa dos Segredos, sempre podemos descobrir a careca de algum Relvas novinho em folha. Entretanto, o publico espera que o rol de actores inseridos numa nova encenação consigam, de alguma forma, com alguma fezada, alterar a lógica imposta pelos directores de programas.

Enquanto o publico discute as diversas possibilidades que se lhe apresentam como possíveis, o último dos actores da peça inacabada, em monólogo, continua num esbracejar frenético, na esperança de que o publico o veja e se interesse pelo que o resto da sua cena tem ainda para dar. O publico já não quer saber, o público quer é que o show acabe, anunciando o final do triste espectáculo em que constituiu estes dois anos de governo Troika/Gaspar. O público que o final da Casa dos Segredos e o início da Casa das Verdades.

É este o drama de Passos Coelho. O ultimo actor de um "reality show" no qual não era protagonista. Nunca foi. Os protagonistas já se foram, sobrou o figurante. O figurante Passos, num assomo do que ele considera ser dignidade, tenta dizer bem alto que tem condições para continuar o programa. Ninguém acredita. Todos sabem, incluindo ele próprio, de que Passos nunca passou de um figurante que aparece no programa apenas para pretexto da entrada em cena dos verdadeiros protagonistas. Aliás, o descrédito no monólogo de Passos é tão grande quanto o seu isolamento à partida e à chegada. Nunca antes, um governante terá estado tão isolado da sociedade e do seu próprio partido. De lembrar que Passos não fazia parte das listas do seu partido. Passou quase da base para o topo. Nem todos aceitariam fazer de conta que se é primeiro ministro. Apenas alguém com uma inesgotável fome de mediatismo o aceitaria, a qualquer custo.

O problema é que os encenadores deste terrorífico "reality show" que tem sido a nossa vida nos últimos anos, continuam a querer encenar e a querer dirigir qualquer programa que esteja em acção, no palco de "revista portuguesa" em que se transformou a governação em Portugal. Berlim, FMI, BCE e Comissão Europeia, continuam como encenadores e, de preferência, da peça ainda em curso...aquela que o publico quer que acabe. Depois chamam a isto democracia.


A verdade é que, sai Gaspar, sai Portas e...perante o colapso anunciado de um governo que nunca o foi, perante o estertor da morte anunciada, o que sucede? Bem, primeiro sucede que o publico bate palmas e regozija-se contente porque, inegavelmente, o povo ainda ordena e, o desgaste provocado por tanta luta, mediatizada ou não, acaba, inexoravelmente, por se fazer sentir.

Depois, vêm os ratos abandonar o barco. E a trupe de jornaleiros e painleirios que os encenadores desta peça pagam para promoverem o triste espectáculo, foram unânimes...O show está prestes a acabar. Alguns diziam mesmo que o pior que poderia suceder seria Passos insistir no monólogo. Passos insiste. Sempre insistiu. Passos sempre esteve isolado do seu partido, Passos sempre esteve isolado da sociedade. Portanto, para Passos, o monólogo é uma coisa normal. Já no desgoverno que não liderava, Passos estava sempre em monólogo. Ninguém o ouvia, ninguém lhe ligava. Afinal quem liga a um incapaz, a um incompetente, a um ser que nunca trabalhou? a um sub produto de um qualquer Relvas, financiado por um qualquer Ângelo Correia?

 O drama de Passos é igual ao drama daqueles tipos e tipas que, por serem bem parecidos, têm a fezada de uma dia serem convidados para uma novela da TVI. A novela acaba e com isso, acaba-se a mama.Sobram as revistas cor de rosa para, de monólogo em monólogo, irem tentando fazer-se notar. Assim é Passos. Todos sabiam porque é que Passos tinha chegado a primeiro ministro. Como é óbvio, ninguém o respeitou.

O "Reality Show"

Para Passos, a ida para o governo é comparada à ida de certas figuras "VIP" para o Big Brother. Figuras sem base de sustentação académica, currícular ou empírica, são escolhidas porque, por um mero acaso, a sua imagem vende.

Tratam-se de figuras a quem pagam e dizem: -"meu amigo, tu vens para aqui e limitas-te a seguir este guião". Com espírito de missão e como quem vê  nesse convite a oportunidade de aparecer e, talvez, surpreender toda a gente com o que julga ser o seu talento, esta figura aceita a troca, sabendo, desde o início qual a sua função.

Todos os ministros e todos os encenadores desta Casa dos Segredos em que consiste este governo, sabiam que Passos era apenas a "figura". Passos também o sabia. Mas, estoicamente, sonhava surpreender tudo e todos com o que julga ser a sua enorme capacidade. Intimamente, tal como a prostituta promovida a VIP que vai para um Big Brother, ou para uma Casa dos Segredos a pensar "está aqui a minha oportunidade de ouro, a minha fezada", "escolheram-me a pensar que eu só vou fazer figura mas, vou provar-lhes que sou uma grande actriz", Passos também achou que acabaria por se revelar. Por isso aceitou a missão de marionete.


O problema é que ninguém respeita uma Marionete. Portas já não falava com ele, Gaspar, trabalhador incansável, desprezava-o profundamente, por não lhe reconhecer qualquer capacidade de liderança. Resultado, sem uma Teresa Guilherme para mandar, aquela Casa ficou ingovernável. Os apoiantes de Passos foram fugindo, desde Catroga a Ângelo Correia. Nenhum se quis queimar mais. Ficou Passos e os outros. À falta de um líder, que nunca poderia ser Cavaco que apostou tudo em Fátima, o Governo entrou em ebulição e cada um figura fazia e dizia o que lhe apetecia, contradizia quem lhe apetecia e apenas Medina Carreira ficou a pregar sozinho no deserto de apoiantes do governo. Nos ultimos dias foi ver a actual Ministra a dizer que quando entrou não sabia nada dos SWAP e, mais tarde, Gaspar a desvendar o segredo de que, afinal, ela estava bem ciente do problema. E perante esta suspeição, o que Passos faz o quê? Coloca a fulana como Ministra. Aliás, este desgoverno foi fértil em colocar arguidos, potenciais arguidos e certamente criminosos, no lugar de governantes. Aliás, com este governo sucede o mesmo que com os reality shows de má qualidade ou caídos em desgraça - só integram a escória da classe. A este governo, por se saber da sua podridão, desagregação, isolamento e anarquia internas, só já se associam os malandros, os oportunistas, os criminosos, os incompetentes e os incapazes. Daí as escolhas só andarem à volta de gente desta.

Agora,  ou porque a condição social e ética desta gente já não era segredo para ninguém (como acontece com a vida de Passos), ou porque algum dos outros figurantes vinha, por detrás, descobrir os segredos desconhecidos, este governo nem para Casa dos Segredos servia, porque os segredos já eram conhecidos. Quando muito daria para um filme de suspense de classe C-.


Os apelos à continuação do Reality Show

Passos, a cada crise (quase todos os dias - ao ponto de se passar a fazer o briefing diário), aparecia na televisão, de semblante em baixo (como ontem), de ar sério e introspectivo, com uma voz bem vincada, tentando convencer os telespectadores de que ainda não teria chegado a hora de ir embora. De cada vez que aparece a tentar convencer-nos de que tudo está bem e que o governo está de pedra e cal, faz-me lembrar aquelas figuras da Casa dos Segredos que, têm um tempo de antena para convencerem os telespectadores a votar para o telefone 0800...

Contudo, tenho dúvidas que o telefone de Passos ainda toque com mensagens de apoio. Passos bem poderá ser daqueles actores de Big Brother que, daqui a algum tempo, vem para a Caras dizer "estou desgraçado, estou à espera que me convidem para uma novela".

Pois é Passos, já não chega de novelas? Já não chega de monólogos? Já não chega de assobios? De quantos "takes" é que ainda necessitamos para nos livrarmos de ti? De quanta miséria? De quantos despedimentos mais? De quantas mortes por insuficiências no Sistema de Saúde? De quanta subnutrição? Já não destruíste o suficiente apenas e só por existires e seres uma marionete?

Os protagonistas já se foram. Primeiro foi Relvas, para quem, desde o primeiro dia os telespectadores nunca telefonaram. A sabedoria popular vale muito e, se Passos tinha um "O" na testa, Relvas tinha um "L". Depois foi Gaspar, aquele que todos sabiam que, telefonando ou não, não valia a pena porque fazia parte da estrutura e mobília do programa. Era uma espécie de Teresa Guilherme, mas em acção. Saíu Santos Pereira que, sem ter realmente saído, há muito que desapareceu. Saíu Portas que bateu a porta com o estrondo que sabemos. Ficou Passos e os restantes figurantes.

Passos, como se esperava, vem cantar "daqui eu não saio, daqui ninguém me tira". E nós? Nós só nos resta cantar, ao jeito de quem vê o Big Brother e a Casa dos Segredos "Por isso sai...sai da minha vida".

Ai que carnaval este.

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