Que tempos são estes em que vivemos? Que tempos são estes em que retornam, cada vez mais incisivas, as tendências ditatoriais que julgávamos esquecidas e ultrapassadas. Que tempos são estes nos quais sentimos, dia a dia, o enfraquecimento inexorável dos ideais democráticos e libertários? Que tempos são estes em que sentimos que estamos a sair de algo, para entrarmos não sabemos bem no quê?
Neste momento, a vivência histórica contemporânea permite-nos o privilégio de sentir o mesmo, que os povos romanos sentiram, após a queda do império. Sentiram, certamente, o abalar de toda uma realidade que tinham como certa, para assistirem à superveniência de uma sociedade mais atrasada, mais bárbara e selvagem.
Penso que podemos dizer, com bastante segurança que o modelo de sociedade ocidental que conhecíamos, desenvolvido à sombra da ex-URSS, por sua pressão, está em decadência. O fim da URSS representou o precipitar desse final. Entre outras provas da importância do bloco de leste, para a instituição do estado social, temos o facto de estas ideias nunca terem penetrado nos EUA. Devido à distância geográfica, o capital americano nunca sentiu qualquer necessidade de estabelecimento de um estado social para acalmar os movimentos de massas. Sobre este aspecto, o Prof. Avelãs Nunes proporciona-nos uma excelente lição de história politico-económica.
As ameaças à permanência do estado social são as conhecidas. A tendência começou a verificar-se logo nos anos 90, após a queda do muro de Berlim. Alguns o avisaram, muitos - demasiados, digo eu - não acreditaram. A especulação desenfreada, as privatizações em massa, as intervenções militares arbitrárias e a propagação de ideias ultra-liberais nada indiciavam de bom. Poucos têm tentado travar esta tendência, muitos estão atónitos e ainda nem perceberam bem o que se passa. Por outro lado, uns poucos crentes na boa-fé e bondade do sistema ultra liberal, mais não são do que os pontas de lança daqueles que, qual Apocalipse, querem apagar para sempre qualquer ideia de solidariedade, fraternidade e humanismo dos nossos sistemas politico-sociais. Cada um por si, olho por olho, dente por dente. Eis o que nos apresentam como "modernidade". Paradoxo dos paradoxos, os ideias progressistas são apresentados como ultrapassados.
Cada vez mais, as práticas governamentais que nos são apresentadas, fariam corar de vergonha aqueles que, em tempos idos, apresentavam o leste europeu como o "mal" da humanidade. Como poucos disseram também, contra a opinião conservadora de muitos: "o fim da URSS é uma tragédia para a humanidade". Alguém duvida disto?
Se o Echelon, sistema de vigilância de comunicações, implementado pelos EUA e Inglaterra, nos idos anos 80, já mostrava que a Leste Germânica STASI tinha métodos obsoletos, o que dizer dos actuais mecanismos do PRISM? O que dizer de vigilância à escala global que, só num mês, em Espanha, recolheram mais de 60 milhões de mensagens, apenas entre quadros superiores e dirigentes?
Que dizer das intervenções militares no Iraque, que mataram mais de 600.000 pessoas, ou a do Afeganistão com outras 200.000, Líbia, Kosovo... Não, não senhor, o extermínio em massa continua e não é propriedade de ninguém em especial. É propriedade de quem pensa que detém o poder absoluto. O poder absoluto, corrompe absolutamente - alguém disse.
Mesmo aqui, no nosso cantinho, o que dizer dos ataques ao nosso Tribunal Constitucional? Ao estado maléfico que se destina a extorquir dinheiro aos povo para o entregar ao capital. Dúvidas? Depois de impostos sem fim, privatizações sem fim e cortes infindáveis, eis que aumenta o número de milionários (mais 81) e os multimilionários enriquecem mais 11% em 2012. Colocar o estado a fazer este papel de concentrador de riqueza, foi um golpe de mestre, para aqueles que pretendem desacreditar o próprio estado.
Bem, depois disto, ainda se admiram de aparecerem aberrações humanas e naturais como o César das Neves? Dá razão para perguntar: "o que ensinará este espécime animal aos seus alunos"? O "Mein Kampf"?
Agora, depois de tudo isto, vejam este videozito e tirem as vossas serenas conclusões sobre o estado comatoso da nossa democracia. Não deixem de pensar como é possível, sequer, haver coragem para se apresentar uma coisa destas!
Não se assustem, isto está mesmo a a acontecer.
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