Depois de a esmagadora maioria do povo eleitor Português ter votado em
partidos que estavam, manifestamente, contra a sua política; depois de estar em “minoria
absoluta” e mesmo assim comemorado… Mesmo depois disto tudo, Passos, Portas e
companhia, queria fazer de conta que nada tinha acontecido e tudo continuaria
como antes, ou seja, austeridade, arrogância e autoritarismo no lombo dos
portugueses. E depois
querem que chamemos de “democratas”, a quem quer governar, todo um povo, com uma
minoria de votos?
O trauma
com a direita institucional se deparou no período pós-eleitoral seguinte às
legislativas de Outubro reflecte a forma “toldada” com que olham para a
democracia, para o povo e para o valor inestimável, simbólico e republicano de
um voto.
Sabemos
todos, porque a história nos diz, que estas coisas das liberdades, das igualdades,
das fraternidades e das solidariedades, nunca foram apanágios da direita. A
direita, em todos os momentos históricos, esteve sempre contra a mudança e o
progresso. O único progresso a que alguma vez terão aderido, foi ao progresso
do dinheiro, abraçando as doutrinas liberais e neo liberais, não porque
representassem uma libertação de qualquer coisa, mas apenas e tão só, porque
representavam – e representam – uma possibilidade de extensão do seu poder económico.
Chegados aqui, encontramos uma hibridez ideológica tal na direita, que lhe poderíamos
chamar: neo-liberal-conservadorismo. Eu, apenas eu, chamo-lhe: selvajaria e
oportunismo.
Nesse
sentido, e depois de, sempre que necessário, a direita ter recorrido – e continuar
a recorrer – às ditaduras mais sangrentas, ou ao boicote e sabotagem de
governos legítimos (vide América latina) para manter o seu poder económico, eis
que, numa lógica meramente oportunística, decidiu abraçar, com abraço de urso,
a chamada “democracia liberal”. Não encontrando princípios comuns com as massas
populares – dada a diferença sociológica de classe – que lhes permitissem
enveredar por democracias populares, eis que optaram por uma forma, a liberal, que
lhes garante o poder absoluto e imutável, travestido de uma áurea de “liberdade
de escolha”.
Mas foi
sempre na escolha, e na sua possibilidade, que a direita encontrou o principal
obstáculo ao seu poder. Nessa medida, implantou nos países liberais, com a sede
do império à cabeça – os EUA –, uma lógica de partido único de duas alas, uma
de direita radical e outra de centro direita, mas sempre de direita e sempre liberal-económica,
que garanta o exercício do poder sem sobressaltos de maior.
Aqui
chegados, ao arco da governação, que garantia – e garante ainda, até ver – a “governabilidade”
dentro de trâmites definidos à partida e contra a vontade popular, a direita
mais radical, foi exercendo o seu poder baseando-se na manipulação, desinformação
e estupidificação das massas.
Tudo
estava bem quando estava bem. Os governos sucediam-se e o poder expandia-se. Mas
eis que a direita começa a mostrar as suas garras. Libertada do fardo do “muro”
e da necessidade de manter o povo contente, a direita começou a erguer todo o
seu edifício ideológico. E assim, veio a austeridade, como mecanismo de
concentração e destruição dos mecanismos de redistribuição da riqueza
produzida, introduziu mecanismos de promiscuidade entre o poder político e económico,
tornando o sistema político permeável aos “mercados” pela direita dominados, enriqueceu
uma clientela de ONG’s e organizações caridosas que têm a função de actuar como
“ansiolíticos da pobreza provocada” pelas suas políticas draconianas.
Mas eis
que todos os sistemas contêm em si o gérmen da sua autodestruição. Como tal,
foi nos países mais fustigados pelas políticas mais radicais que a contradição
mais se afirmou, como é sempre de esperar.
Depois de,
em 2011 o, ainda, primeiro-ministro Passos Coelho, ter mentido descaradamente
sobre as medidas que pretendia, tudo prometendo fazer e tudo tendo feito ao
contrário; depois de ter andado quatro anos a sacrificar todo um povo em nome
do equilíbrio orçamental e do controlo da dívida e de nada ter conseguido nesse
domínio; depois de ter andado 4 anos a desmentir a pobreza e o desemprego,
chamando piegas aos trabalhadores e jovens; depois de ter tratado a oposição
popular e partidária com a arrogância e autoritarismo típicos de quem usa e se
serve da democracia e não o contrário; depois de uma campanha eleitoral em 2015
em que escondeu ao máximo o programa que lhe ia na cabeça; depois de ter
perdido a maioria absoluta e de lhe terem fugido 25 deputados e mais de 700.000
votos; Mesmo que tivessem razão na “tradição”, na “+ética republicana”,
no “semi presidencialismo” e na “eleição do governo”, argumentário gasto e largamento
refutado e de forma também irrefutável, seria “democrático”, mesmo assim,
querer governar todo um povo, mesmo contra a sua vontade?
É este o
valor que atribuem ao voto dos Portugueses? O voto vale “0”? Não vale a pena
votar? É isso? A maioria votou contra vós e vocês queriam continuar a governa
da mesma forma? A isto chama-se o quê? Democracia? Não me parece!
Uma
minoria impor a sua vontade à maioria, não obstante a manipulação e
estupidificação produzidas e amplamente reproduzidas, vezes sem conta, tem um
outro nome: Chama-se Tirania!
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