há mais de 2000 anos já se sabia!

Cuidado! Vê o que acontece se não participares. Já Platão o sabia. Quantos mais milhares de anos serão necessários para tu também o saberes?

A injusta repartição da riqueza!

Consideras justa esta repartição da riqueza? Então o que esperas para reinvindicares uma mais justa? alguém que o faça por ti? Espera sentado/a!

Não sejas mais um frustrado/a!

Não há pior frustração do que a que resulta da sensação de que não fizemos tudo o que podiamos!

O Comité de Brtnton Woods, o FMI e a “ajuda” internacional aos países em dificuldades….



O FMI e os EUA

Aparentemente, quando se fala de FMI, a maioria do público não estabelece uma relação directa entre este organismo internacional e os interesses dos EUA.

Aliás, quando aparece alguém a dizer que o FMI nada mais faz do que prosseguir interesses imperialistas dos EUA e do ocidente, em especial, dos países mais ricos, muita gente que se considera de esquerda, democrata e isenta, levanta as “guardas” e “defesas” ideológicas e pensa: “lá vem a conversa habitual da “extrema-esquerda”.

O problema é que, do ponto de vista comunicacional e propagandístico, os EUA obtiveram uma vitória assinalável ao conseguirem distanciar a ideia de “FMI” da ideia de “interesses imperialistas dos EUA”.

Se esta relação é bastante visível para quem, ideologicamente, está do outro lado da “barricada”, ou para quem está por detrás da construção do próprio sistema geoestratégico dos EUA, o mesmo já não se pode dizer no que respeita à generalidade dos cidadãos, nomeadamente, aqueles que se encontram desradicalizados do ponto de vista Político e fazem depender a sua informação politica pessoal, dos órgãos de comunicação social de “referência”.

O branqueamento da relação do FMI com os interesses dos EUA foi, obviamente, conseguido através de fortíssimas campanhas em órgãos de comunicação social de “referência”, dia após dia, ano após ano, comentador após comentador, jornalista após jornalista.

Como desmontar isto? Eis que, para além das evidências históricas que remontam à América Latina dos anos 60, 70 e 80, à Inglaterra de Tatcher, ao “consenso de Washington”, à Rússia e leste europeu dos anos 90 e à Europa do sul do século XXI, vem  uma carta do Comité de Bretton Woods ao Congresso Americano, clarificar totalmente o papel deste fundo para a estratégia de domínio dos EUA.

O que é o Comité de Bretton Woods?

“O Bretton Woods Committee é uma organização Estado Unidense criada em 1983 como resultado de um acordo entre O secretario de Estado do Tesouro e o seu Vice, um Republicano e um Democrata. O objectivo deste comité é o de influenciar e sensibilizar para a importância da existência de instituições Financeiras Internacionais, as apelidadas “Bretton Woods Institutions”. Foi após a Conferência de Brenton Woods em 1944 que o FMI e o Banco Mundial foram estabelecidos. O objectivo fundamental passa, portanto, por elevar a importância do FMI, do BM e da Organização Mundial de Comércio”.
Tradução livre do texto retirado de: http://en.wikipedia.org/wiki/Bretton_Woods_Committee


Ora, Esta apresentação contida em Wikipédia, só por si, já diz muito sobre a criação e potenciais objectivos destas organizações. A não ser, claro está, que estejamos perante alguém que, lendo isto considere que, mesmo assim, os EUA criaram esta organização por “fraternidade” e “solidariedade” com os pobrezitos. Seria precisa uma grande dose de crença de boa fé no sistema para acreditar que os objectivos destas organizações iniciam e findam no seu papel literal.

Mas, para os mais incautos, fica aqui a prova final da “bondade” Yankee:


Carta de 05/03/2013 ao Congresso dos EUA:


Atentem no segundo parágrafo:

“The IMF has always been a valuable tool for advancing U.S. national interests globally, from
helping navigate the Latin crisis of the 1980s to supporting the Arab Spring countries today with
policy advice, technical assistance, and financial support”.

Tradução livre:

“ O FMI sempre foi uma ferramenta valiosa na prossecução dos interesses nacionais dos EUA ao nível global, desde a ajuda a ultrapassar a crise latina dos anos 80 ao apoio aos países da primavera árabe com aconselhamento politico, assistência técnica e apoio financeiro”.

Desta simples declaração muito haveria a retirar e que daria para outro artigo. Deixo, no entanto, as seguintes notas:

  • Esta carta foi endereçada ao Congresso dos EUA pedindo um maior apoio, financeiro e político, ao FMI, nomeadamente através de produção legislativa que o concretize
  • Num determinado ponto diz a carta que o “FMI defende os interesses comerciais e os trabalhadores das companhias americanas que funcionam nesses países, suportando o emprego e as exportações dos EUA”
  • Esta carta comprova “ipsis verbis” o interesse estratégico que o FMI tem para os EUA a nível global, na manutenção da sua influência económica
  • Esta carta comprova também a importância estratégica do FMI para a entrada, investimento, permanência e domínio económico dos EUA, nos países intervencionados

O fim do mistério

Desvenda-se, desta forma, o mistério que atacava algumas mentes mais incautas sobre o porquê da “desconfiança” que as forças políticas progressistas, normalmente, sentem em relação ao FMI, BM e OIC. As organizações financeiras de Brenton Woods constituem importantes ferramentas de domínio imperialista.

Basta ver os choques económicos e sociais de natureza neo-liberal que afectaram a América Latina no passado, a Inglaterra e os países da ex-URSS, incluindo a própria Rússia.

Aliás, as notícias ontem veiculadas sobre a Ucrânia comprovam mais uma vez esta evidência. Depois da tomada do poder através de um golpe de estado, realizado no sentido de afastar a Ucrânia da influência Russa, numa guerra de impérios (e não de bons e maus, como muitos, maniqueistamente gostam de catalogar), o governo interino – uma mistura de ultra liberais com neo nazis – apressou-se a concretizar aquilo que estava por detrás desta história muito mal contada: o negócio da entrada do FMI na Ucrânia.

Ontem, noticiou-se, então: um empréstimo de 27 mil milhões de dólares, 15 do FMI e 12 da EU mediante a imposição de medidas draconianas à semelhança das nossas.

Para já as primeiras imposições conhecidas serão: aumento do gás natural em 50%, uma vez que ele virá do Espaço Económico Europeu e dos EUA; congelamento dos salários e pensões (altíssimos que eles são na Ucrânia!?!); privatização das empresas públicas que ainda sobram…

A receita já é conhecida, bem conhecida. Alguém duvida que os Ucranianos passarão a viver bem pior e que nem daqui a 20 anos estão de pé? Mais uma vez, começou a pilhagem disfarçada de “ajuda”. Nós já sabemos bem o que é que significa uma ajuda destas.
O povo Ucraniano? Vai de mal a muito pior.

E nós? Nós vamos ter de descer ainda mas os salários (dirá a EU) porque a entrada da Ucrânia no Espaço Económico Europeu fará com que baixe a média salarial na EU e com que países menos competitivos, como o nosso, fiquem obrigados a competir com salários de 1€ à hora, que, ainda para mais, vão ter de descer.

Fantástico, não é? É só democracia e crescimento económico que para aí vem…






Quando o capital se junta aos Nazis... De que lado fico eu?




O que eu sei…

Primeiro era o tratado com a EU. Depois foram as manifestações em Donetsk e Kiev. Depois vieram os snipers e as barricadas, os mortos nas manifestações…Mais tarde as milícias, os hospitais de campanha e as ocupações ministeriais. A Ucrânia estava sob assalto e a confusão era enorme.

Continuou com a invasão das sedes do partido das regiões, com propostas de ilegalização do partido comunista ucraniano, bocas, ofensas e agressões aos judeus e aos ucranianos pró-russos. Continuou com o derrube das estátuas do Lenine…

Um cobarde presidente, Viktor Yanukovich, rico oligarca e corrupto, foge a sete pés e abandona o poder. Entre enviados de todo o lado menos do povo ucraniano, surge um novo governo interino, aprovado por um parlamento sob assalto armado e em estado de choque.  Este governo, composto por partidos da chamada oposição, inclui 5 Ministros de um partido de extrema-direita, o Svoboda, proveniente de uma região ocidental da Ucrânia em que metade dos votos são nazis, saudosistas dos tempos do colaboracionismo anti soviético ao lado de…Isso mesmo, Hitler.

Os Russos, ora aproveitando o pretexto para resolver a situação da Krimeia, ora preocupados com o que os Alemães e EUA tinham na manga para as suas fronteiras, decidiu intervir e apoiar os manifestantes pró-russos, que até aqui ninguém julgava existir, a não ser que estivesse com alguma atenção e conhecesse a história Ucraniana.

O governo neo-nazi, preocupado com o salvamento das aparências, decidiu não investigar o caso dos snipers. Segundo um telefonema captado pelos serviços secretos de Viktor Yanukovich, estabelecido entre o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Estónia, Uros Paet, e a Alta representante dos Assuntos internacionais da EU, Catherine Ashton, esta gente sabia que o Svoboda era nazi, que os seus membros são bandidos e que foram eles que contrataram os snipers para incriminar o anterior governo.

Aqui está para quem quiser ouvir





Claro que isto nunca deu nas nossas notícias. Como não deu que um dos financiadores da “oposição” Ucraniana é Victor Pinchuk, oligarca do aço, que comprou a indústria nacional do aço ao seu sogro, ex-presidente Ucraniano. Gente séria, portanto. Também não se falou que este senhor Pinchuk é um dos financiadores da fundação dos Clinton e um dos principais financiadores da candidatura de Hilary Clinton à presidência dos EUA.

Também se sabe, por exemplo, que está prevista, no âmbito do acordo com a EU, uma reestruturação da economia Ucraniana, para a qual, o FMI entrará com um empréstimo nunca inferior a cem mil milhões de euros. Vendo, aqui no nosso canto, como é que é esta história dos empréstimos, das ajudas e das reestruturações…

Mas podia ainda mostrar gente como o Senador Maccain, a mesma Catherine Ashton e outros com gente do Svoboda:










Ou ainda um dos membros da Maidan brown shirts, constante das listas internacionais da Interpol por incitamento ao terrorismo (Dmitry Yarosh - centro):


Este senhor é o líder da delegação do Sector da Direita Neonazi ao Paralmento Ucraniano. É também co-fundador e amigo do lider do Partido Svoboda (nas fotos atrás) - antes Partido Neo-nazi Social-Nacional da Ucrania.

Agora: eu sei isto tudo há bastante tempo e querem-me convencer que, nem a comunicação social ocidental, na sua sanha por escândalos, nem os EUA com os seu 80 mil milhões de dolares anuais em "intel", nem a EU, sabiam destas coisas. Otários aqui ou quê?

O capital joga a mão aos fascistas sempre que pode para dominar. Aliás, sente-se sempre muito afim e perto deles. Estranho não é? Para quem anda sempre com a boca cheia de democracia.

O que vi na televisão…

Primeiro veio a EU, com um tratado comercial. Depois vieram os russos. Depois o povo revoltou-se contra os russos. Depois os snipers contratados pelo governo mataram manifestantes da oposição. Depois o governo corrupto, pró-russo, foi derrubado pelo povo e o parlamento aprovou um novo governo interino, realmente consonante com as aspirações populares.

Entretanto, o povo, montou as barricadas, armou milícias e montou hospitais de campanha. O mesmo povo, muito zangado, ocupou os símbolos do antigo governo.

Os Russos malvados que querem a Krimeia de volta, após uma sessão de bebedeira de Kruschev, desatam a invadir a Ucrânia, isto porque, na Ucrânia já não existem pró-russos a não ser na parte leste, ou seja, na própria Krimeia.

Vem Jonh Kerry e a enviada da EU, Catherine Asthon, trazem paz e sanções financeiras e económicas contra os malvados Russos. Jonh Kerry traz também mil milhões de dólares no bolso, os quais, digo eu, muito jeito dariam aos milhões de americanos que passam fome, e Ana Gomes está realmente convencida que a agressão Russa é ilegítima e injustificada.

Na Ucrânia todo o povo está com o Svoboda. O Svoboda é a voz do povo…

Na Ucrânia, o povo oprimido pelos algozes de Putin, luta ferozmente pela libertação do jugo imperial Russo, numa continuação da sua ancestral luta pela libertação do “império” Soviético. Depois, há meia dúzia de pró-russos da Krimeia que não querem a mudança.

Sabemos ainda que, o PS tem uma posição passivamente dúbia sobre o problema, em virtude de um conjunto de preconceitos anti-comunistas – e quiçá anti socialistas – afectarem alguns dos seus “sociais democratas”. O PSD está com os EUA para o que der e vier, como esteve na situação Iraquiana ou Afegã. O CDS? O CDS com os seus laivos de extrema-direita, à partida está pelos EUA, mas não enjeitaria alguma simpatia com a Alemanha – se é que percebem o que quero dizer.

Só lembro aqui que, na ultima quadratura do círculo, Lobo Xavier acusou Seguro de ser radical de esquerda, mas quando Costa lhe falou da Frente Nacional em França, calou-se que nem um rato. Mais tarde chamou Pacheco Pereira de Marxista por aquele defender uma distribuição mais justa da riqueza. Estamos conversados sobre as reais simpatias ideológicas do CDS.



E depois, o que aconteceu?

Depois vem James Cameroon dizer a Jonh Kerry que: “alto lá e para o baile que a banca inglesa não funciona sem o dinheiro dos malvados Russos”. Merkel não diz nada mas pensa: “eu bem que queria deitar a mão às empresas públicas Ucranianas, mas o gás Russo está-me a lixar os planos”, “tenho de dizer ao Kerry para deixar isto andar e ver o que dá”, “com sorte o FMI vai para lá e nós pilhamos o que houver para pilhar”.

Vem Putin, que a sabe toda e, encontrando-se numa posição de vantagem, diz:”meus amigos, este vosso governo da tanga é ilegítimo, de extrema-direita e nazi”, “se me chateiam, eu invado a Krimeia e digo que o povo Russo foi ameaçado”.

Inexplicavelmente, a comunicação social corporativa ocidental começa a dizer que afinal há pró-russos na Ucrânia, que nem todos estavam contra o Yanukovitch, que afinal isto é uma grande confusão e que o Maidan é de extrema-direita e de inspiração Nazi. Sim…Estão assustados com a m***a que fizeram! Os EUA, com a cobertura dos média corporativos, fizeram na Ucrânia o que fizeram no norte de Africa. Agitaram, remexeram e perderam o controlo. Agora, tentam arranjar um reaccionário para colocar no poder. Ah…Que afinidade tem o Império capitalista ocidental com toda e qualquer forma de fascismo! Apoiam sempre os fascistas e reaccionários, sempre!

Eis que surge a China e telefona às partes, Merkel, Putin e Kerry. Eis que o Primeiro-Ministro Chinês telefona a Kerry e Merkel e diz-lhes: “Camaradas, nós não gostamos de confusão mas, não se esqueçam da terra toda que comprámos na Ucrânia e que produz cereal para matar a fome na China”, “controlem-se lá porque o povo Chinês já passou fome que chegue e vocês o que querem é engordar ainda mais”.

Por fim, na nossa comunicação social (na estrangeira não era bem assim) começaram a surgir comentários como: “Isto não há bons nem maus”; “isto é só interesses de um lado e de outro”; “tem de se ter cuidado com o Svoboda”; “isto é assunto entre impérios”; “a Ucrânia está dividida”; etc…

Verdade? Demoraram tanto tempo para chegar a estas brilhantes conclusões? É preciso receber milhares de Euros de avenças mensais, das TV’s e jornais para, passados dois meses, chegar a uma conclusão que já se tirava à partida?


Não, o que estes comentadores estavam era com medo. Medo do poder, medo de tomar o partido errado, medo de perder o emprego.

Pois eu não tenho medo de perder o emprego e afirmo o que disse sempre desde o início:

1.º Putin, Merkel, Obama, para mim são todos iguais porque todos se movimentam por dinheiro, poder, protegem oligarcas, multimilionários e todos têm propensões imperiais;

2.º Para mim não se trata de apoiar Putin com base numa ideia saudosista pró-soviética como, muitos pseudo-democratas preconceituosos, acusaram comunistas e gente de esquerda quando optaram por tomar uma posição isenta quanto à análise da situação. Não tenho qualquer ilusão sobre Putin e sobre a sua simpatia com o comunismo, socialismo ou a esquerda. Putin é mais um governante imperialista, autoritário, tipicamente Russo.

3.º A Krimeia é um problema real para os Russos, pelas razões relacionadas com a sua anexação à Ucrânia. A Ucrânia é um problema centenário, tal como a Polónia, pela sua importância geográfica e territorial. Daí que, ao longo da história dos impérios Europeus, ter-se sempre levantado o problema daquela região e da sua divisão.

4.º A Rússia tem interesses territoriais, militares e económicos na Ucrânia? Certo, como os EUA e a Alemanha. Tal e qual. Do escudo anti-missil ao desmantelamento da economia ucraniana a pretexto de uma ajuda ocidental (conhecemos bem que tipo de ajuda é essa).

5.º Desde cedo se viu que a “oposição” ao Partido das Regiões era dominada por partidos reaccionários e de extrema-direita, provindos dos antigos partidos pró-nazis.

6.º Por outro lado, o partido das Regiões não era um partido de esquerda. Era mais um partido centrista, de inspiração liberal e com gente autoritária, gananciosa e pró russa, no pacote.

7.º Desde cedo se percebeu que, quem visse as televisões internacionais, que a Ucrânia estava dividida entre pró-russos e anti-russos.

8.º Uns são maus e outros bons? Não, claro que não. Tem a ver com etnias e com a história. Só que, os pró-russos nunca colaboraram com os nazis e, logo, os anti-russos estão muito conotados com a direita mais reaccionária e, nalguns casos, de inspiração nazi.
 
Perante tudo isto, eu pensei: “Não vou escolher um lado?”; “mas temos sempre de ter um lado, não é?”; “então escolho os Russos”.

Porquê? Porque por muito maus que sejam não podem ser piores que os Nazis. E como eu, por ser quem sou aqui neste cantinho Portuga, outra coisa não poderia ser na fria tundra ucraniana. Ou seja, ainda está para nascer o dia que me verá a tomar partido pelos nazis, fascistas e outros reaccionários.

Por outro lado, o fim da União Soviética e da guerra-fria ensinou-me algo…O poder nunca deve estar de um só lado. O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente. O fim da URSS mostra como a Europa se corrompeu totalmente, rejeitando e enterrando os princípios que, segundo a “lenda”, estiveram na origem da sua criação. Mal por mal, preferia a história da carochinha da democracia, do estado social europeu….

Poderiam também dizer: “mas não é preciso escolher lado!”

Aí é que se enganam… Cada vez mais temos de ter lado. Numa altura em que alastra, a par da nova idade média, o fascismo, temos de escolher se estamos para embarcar, mesmo que por passividade, nessa tendência, ou se escolhemos lutar contra ela.

É que aquela ideia de que não se tem de escolher lado é muito perigosa e só interessa a quem domina. Sabem porquê? Eu explico:

Imaginam um barco com quatro remos, dois de um lado e dois do outro. Se os dois remos de cada lado remarem, para onde se dirige o barco? Para o lado com mais força, ou, tendencialmente, para o meio (onde se diz estar a virtude). Mas, imaginem que um dos remadores decide não escolher lado e, portanto, deixar de remar. Para que lado vai o barco? Para o lado em que os dois remam. E o que não rema? Vai com eles…

É que quem não luta vai com aqueles que dominam, mesmo que, à partida não goste deles. Quem luta, tem pelo menos a consciência de tudo fazer para não seguir na tendência. Portanto, por cada cidadão, trabalhador que decide não tomar partido nesta luta contra qualquer forma de império, principalmente de impérios que não têm problemas em jogar com os nazis, é mais um que contribui para o alargamento da tendência mais forte neste momento. Ou seja, está a contribuir para a sua própria pobreza.

Ainda querem não ter lado?


O medo e a insegurança, características das idades médias



A realidade apresentada e a realidade concreta

Toda esta questão Ucraniana tem-me forçado a uma reflexão profunda. Uma reflexão quanto às nossas capacidades de descodificação da realidade concreta, por entre uma imensidão de informações e contra-informações, de carácter propagandístico ou não, das quais nem sempre – ou quase nunca – é possível identificar os seus emissores originários e as suas reais intenções.

A grande conclusão que retiro deste emaranhado de verdades difusas e incoerentes é a seguinte: a realidade que nos é apresentada – não confundir com a realidade concreta e objectiva – é cada vez mais complexa.

Perante tal complexidade surge uma questão de grande pertinência: como não nos perdermos no meio de tanta confusão? Em que é que devemos de acreditar? Em quem?

A importância dos princípios

As questões levantadas não possuem uma resposta tão objectiva e final quanto desejável. Contudo, julgo que a resposta está mais no plano dos princípios. Para não nos perdermos teremos de remontar aos princípios.

Expliquemos melhor esta ideia, levantando uma outra questão: porque é que na idade média a humanidade encontrou a resposta em deus? Talvez porque, perante uma realidade que mudava todos os dias e que se caracterizava pela instabilidade, a crença em princípios estáveis e imutáveis (mesmo que morais, emocionais…) ajudava a encontrar um caminho por entre toda a confusão.


A mudança constante da realidade é uma característica das idades médias

Ora, a ideia de que, nunca como antes, a realidade quotidiana se caracteriza pela constante mudança, é falsa. Falsa? Sim falsa. Basta ler qualquer livro de história da idade média para perceber que a instabilidade era “a característica” dessa sociedade. O poder, as condições materiais de vida, os governantes, as fronteiras, as famílias, os amigos, mudavam a uma velocidade impressionante. A ausência de lei, de direito, de ética no plano político, fazia com que uma pessoa do povo sentisse uma insegurança tremenda quanto ao futuro. De repente, uma família com vários filhos, com uma vida estável, podia, perante uma guerra, uma desordem, um desmando ou abuso de poder, ficar sem nada.

Qual a diferença para hoje? A informação. É que hoje vivemos na sociedade da informação. E perante o excesso de informação, sentimo-nos ainda mais perdidos, principalmente quando, ao contrário do que se passava na idade média, se anunciou a morte de deus, das religiões e, ainda mais importante, numa perspectiva civilizacional, das ideologias politicas. Ou seja, aquilo que o homem medieval tinha como imutável (a religião), o homem pós moderno não tem. Sente-se ainda mais perdido.

Hoje muda tudo muito depressa? Há mil anos atrás também!

Esta ideia de instabilidade com que nos atingiram, contrária às enormes conquistas civilizacionais conseguidas durante o século XX, representa a prova maior de que entrámos, profundamente, numa idade média.

Após um século de avanços enormes, no direito, na organização do estado, na economia, na igualdade de oportunidades, na segurança social e na estabilidade da vida, o que permitiu planear o futuro e apostar na evolução individual e colectiva, com benefícios inquantificáveis para toda a humanidade, eis que se nos apresenta, como novo e moderno – qual destruição de Roma pelos bárbaros – um estado de instabilidade, que nos é vendido como inevitável e inexorável.

Provando a história que não existem inevitabilidades, que a idade média teve fim e que a resposta para a barbárie é a civilização, a verdade é que a barbárie volta sempre. De novo se anunciam as guerras territoriais, as guerras pela riqueza, as corridas ao armamento e a exploração do povo como forma de obtenção de riqueza e de submissão aos interesses das classes sociais dominantes.


A instabilidade apresentada como inevitável
nada mais é do que um instrumento de domínio social

De novo se anuncia a ganância do dinheiro como a fonte de todos os males, substituindo-se, apenas, o anterior papel da igreja. Actualmente, nesta idade média, são os mercados que representam o poder omnipresente e omnipotente que representava deus, na idade média.

Se na idade média não se podia provocar a ira divina, sob pena das maiores misérias, no século XXI, o século medieval pós moderno e pós civilizacional, não podemos provocar a ira dos mercados. Resultado? Todas as dimensões da nossa existência (trabalho, família, consumo, estado…) têm de funcionar em prol e no interesse dos “mercados”. Senão, as maiores misérias se anunciam.

Neste ponto surge mais um paralelo histórico. Se antes a vida tinha de se acomodar aos trâmites da igreja para aplacar a ira divina, agora tem de se acomodar aos mercados, senão…Misérias inimagináveis atingem os países e a humanidade.

Tanto numa, como noutra situação, a acomodação da vida aos interesses superiores de um ente supra material, não liberta ninguém da miséria. Ou seja, sê miserável porque senão, ficas miserável.

A história tende a repetir-se, porque os actores são sempre os mesmos

Na idade média, dizia-se ao povo que tinha de viver como Cristo enquanto o clero e a nobreza viviam no fausto. O povo era explorado e não podia enriquecer até porque, se tal acontecesse, castigos tenebrosos recairiam sobre os pecadores. Então, miseráveis tinham de continuar para que não fossem vítimas de uma miséria maior (como se tal fosse possível).

Actualmente dizem-nos, temos de apertar o cinto, temos de levar com a austeridade e temos de empobrecer. Se não nos tornarmos miseráveis os mercados atiram-nos com uma miséria ainda maior. Enquanto ficamos pobres para não ficarmos pobres, as classes dominantes (clero, nobreza, alta burguesia) andam no fausto como andavam na idade média anterior. E nós temos de levar com isto porque senão, ái de quem levar com ira dos mercados e dos investidores…

Hei-de voltar a este tema outra vez, contudo, julgo que esta comparação histórica, a meu ver, nada exagerada e absolutamente real, nos permite constatar o quão acelerado está o processo de “medievalização” das nossas sociedades contemporâneas. Ainda não chegámos ao extremo? Claro que não. Ainda estamos no princípio.  Mas o sentido é claramente descendente e senão o travarmos, chegamos ao extremo, com toda a certeza.

Reafirmar princípios experimentados para travar a “medievalização”

Daí que eu volte ao início, acabando como comecei. Temos de remontar aos princípios éticos, filosóficos, ideológicos e científicos. Não nos podemos perder no meio da informação difusa que nos enviam. O sistema dominante tem como objectivo a corporização da mesma ideia reaccionária que tinha a igreja nos tempos da inquisição. A ideia de que se não nos submetermos, estaremos desprotegidos face à ira de um ente superior e inatingível. Antes era o Deus católico, judaico ou muçulmano, hoje são os mercados. As classes dominantes sempre encontraram formas de domínio e exploração através do medo e da sensação de insegurança. A sua grande arma sempre foi essa, o medo do amanhã.

A grande arma de domínio é o medo do futuro

A solução, mais uma vez, é percebermos quem fomos o que tivemos e o que deveríamos ser. A solução é não termos medo do amanhã, porque o amanhã pode e deve ser construído por todos e cada um de nós. O futuro é o que nós quisermos que seja.

Assim, se os últimos 50 anos do século XX nos permitiram construir as sociedades mais justas e evoluídas de sempre, porquê abandonar esse processo? Porquê desistir dele? Porquê desistir dos princípios e das ideologias libertárias e humanistas que os corporizaram?

O tempo é de reafirmar como nunca esses princípios. O tempo é de dizer à reacção que não queremos o seu domínio. O tempo é de dizer que o caminho se faz para a frente e não para trás e em nenhum momento o atraso poderá ser visto como uma coisa boa ou desejável. O tempo é de dizer que esta estratégia de dominação pelo medo e pela instabilidade é, por demais, conhecida e indesejada. O tempo é de lutar pelo amanhã e não de ter medo dele. O tempo é nosso, é de todos os que não se acomodam.

Não prescindam dos princípios que nos deram a sociedade mais evoluída de sempre. Não prescindam dos princípios que obrigaram o capital a aplacar a sua sede sanguinária de riqueza e poder. Não permitam que apresentem ideais libertários como ultrapassados.

Um ideal progressista, humanista e libertário nunca é ultrapassado. Nunca o poderia ser.

Não prescindam a esperança num futuro melhor, senão, não vos sobra nada porque viver e lutar.