Aparentemente, quando se fala de FMI, a maioria do público não
estabelece uma relação directa entre este organismo internacional e os
interesses dos EUA.
Aliás, quando aparece alguém a dizer que o FMI nada mais faz
do que prosseguir interesses imperialistas dos EUA e do ocidente, em especial,
dos países mais ricos, muita gente que se considera de esquerda, democrata e
isenta, levanta as “guardas” e “defesas” ideológicas e pensa: “lá vem a
conversa habitual da “extrema-esquerda”.
O problema é que, do ponto de vista comunicacional e propagandístico,
os EUA obtiveram uma vitória assinalável ao conseguirem distanciar a ideia de “FMI”
da ideia de “interesses imperialistas dos EUA”.
Se esta relação é bastante visível para quem, ideologicamente,
está do outro lado da “barricada”, ou para quem está por detrás da construção
do próprio sistema geoestratégico dos EUA, o mesmo já não se pode dizer no que
respeita à generalidade dos cidadãos, nomeadamente, aqueles que se encontram
desradicalizados do ponto de vista Político e fazem depender a sua informação politica
pessoal, dos órgãos de comunicação social de “referência”.
O branqueamento da relação do FMI com os interesses dos EUA
foi, obviamente, conseguido através de fortíssimas campanhas em órgãos de
comunicação social de “referência”, dia após dia, ano após ano, comentador após
comentador, jornalista após jornalista.
Como desmontar isto? Eis que, para além das evidências históricas
que remontam à América Latina dos anos 60, 70 e 80, à Inglaterra de Tatcher, ao
“consenso de Washington”, à Rússia e leste europeu dos anos 90 e à Europa do
sul do século XXI, vem uma carta do Comité de Bretton Woods ao Congresso Americano,
clarificar totalmente o papel deste fundo para a estratégia de domínio dos EUA.
O que é o Comité de Bretton Woods?
“O
Bretton Woods Committee é uma organização Estado Unidense criada em 1983 como
resultado de um acordo entre O secretario de Estado do Tesouro e o seu Vice, um
Republicano e um Democrata. O objectivo deste comité é o de influenciar e
sensibilizar para a importância da existência de instituições Financeiras
Internacionais, as apelidadas “Bretton Woods Institutions”. Foi após a Conferência
de Brenton Woods em 1944 que o FMI e o Banco Mundial foram estabelecidos. O
objectivo fundamental passa, portanto, por elevar a importância do FMI, do BM e
da Organização Mundial de Comércio”.
Tradução livre do texto
retirado de: http://en.wikipedia.org/wiki/Bretton_Woods_Committee
Ora, Esta apresentação contida em Wikipédia, só por si, já
diz muito sobre a criação e potenciais objectivos destas organizações. A não
ser, claro está, que estejamos perante alguém que, lendo isto considere que,
mesmo assim, os EUA criaram esta organização por “fraternidade” e “solidariedade”
com os pobrezitos. Seria precisa uma grande dose de crença de boa fé no sistema
para acreditar que os objectivos destas organizações iniciam e findam no seu
papel literal.
Mas, para os mais incautos, fica aqui a prova final da “bondade”
Yankee:
Carta de 05/03/2013 ao Congresso dos EUA:
Atentem no
segundo parágrafo:
“The IMF has always
been a valuable tool for advancing U.S. national interests
globally, from
helping navigate
the Latin crisis of the 1980s to supporting the Arab Spring countries today
with
policy advice, technical assistance, and financial support”.
Tradução livre:
“ O FMI sempre foi uma
ferramenta valiosa na prossecução dos interesses nacionais dos EUA ao nível
global, desde a ajuda a ultrapassar a crise latina dos anos 80 ao apoio aos países
da primavera árabe com aconselhamento politico, assistência técnica e apoio
financeiro”.
Desta simples declaração
muito haveria a retirar e que daria para outro artigo. Deixo, no entanto, as
seguintes notas:
- Esta carta foi endereçada ao Congresso dos EUA pedindo um maior apoio, financeiro e político, ao FMI, nomeadamente através de produção legislativa que o concretize
- Num determinado ponto diz a carta que o “FMI defende os interesses comerciais e os trabalhadores das companhias americanas que funcionam nesses países, suportando o emprego e as exportações dos EUA”
- Esta carta comprova “ipsis verbis” o interesse estratégico que o FMI tem para os EUA a nível global, na manutenção da sua influência económica
- Esta carta comprova também a importância estratégica do FMI para a entrada, investimento, permanência e domínio económico dos EUA, nos países intervencionados
O fim do mistério
Desvenda-se, desta forma, o mistério que atacava algumas
mentes mais incautas sobre o porquê da “desconfiança” que as forças políticas
progressistas, normalmente, sentem em relação ao FMI, BM e OIC. As organizações
financeiras de Brenton Woods constituem importantes ferramentas de domínio
imperialista.
Basta ver os choques económicos e sociais de natureza
neo-liberal que afectaram a América Latina no passado, a Inglaterra e os países
da ex-URSS, incluindo a própria Rússia.
Aliás, as notícias ontem veiculadas sobre a Ucrânia
comprovam mais uma vez esta evidência. Depois da tomada do poder através de um
golpe de estado, realizado no sentido de afastar a Ucrânia da influência Russa,
numa guerra de impérios (e não de bons e maus, como muitos, maniqueistamente
gostam de catalogar), o governo interino – uma mistura de ultra liberais com
neo nazis – apressou-se a concretizar aquilo que estava por detrás desta história
muito mal contada: o negócio da entrada do FMI na Ucrânia.
Ontem, noticiou-se, então: um empréstimo de 27 mil milhões
de dólares, 15 do FMI e 12 da EU mediante a imposição de medidas draconianas à
semelhança das nossas.
Para já as primeiras imposições conhecidas serão: aumento do
gás natural em 50%, uma vez que ele virá do Espaço Económico Europeu e dos EUA;
congelamento dos salários e pensões (altíssimos que eles são na Ucrânia!?!);
privatização das empresas públicas que ainda sobram…
A receita já é conhecida, bem conhecida. Alguém duvida que
os Ucranianos passarão a viver bem pior e que nem daqui a 20 anos estão de pé? Mais
uma vez, começou a pilhagem disfarçada de “ajuda”. Nós já sabemos bem o que é
que significa uma ajuda destas.
O povo Ucraniano? Vai de mal a muito pior.
E nós? Nós vamos ter de descer ainda mas os salários (dirá a
EU) porque a entrada da Ucrânia no Espaço Económico Europeu fará com que baixe
a média salarial na EU e com que países menos competitivos, como o nosso,
fiquem obrigados a competir com salários de 1€ à hora, que, ainda para mais, vão
ter de descer.
Fantástico, não é? É só democracia e crescimento económico
que para aí vem…
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