Os ecologistas e os confundidos
Há algo que me faz uma confusão imensa. Quer dizer…Não faz,
mas poderia fazer se eu não soubesse o porquê. E de que se fala?
Bem, quando eu olho para aquela quantidade enorme de
associações, agências, ong’s, que, de forma sistemática, referem defender a
ecologia, o ambiente e a natureza, fazendo-o, na grande maioria dos casos, sem
que estabeleçam qualquer relação entre factores que são altamente contraditórios,
como:
- A ideia de que as ameaças à natureza, ao planeta e ao equilíbrio ecológico, estão intimamente ligadas à exploração massiva dos recursos
- A ideia de que essa exploração é responsabilidade inequívoca do sistema capitalista em que essas organizações se movimentam e com o qual, inúmeras vezes, possuem uma intimidade confrangedora
Como defender a natureza sem colocar em causa o sistema
capitalista e a sua tendência para a exploração intensiva, interminável e inexorável,
submetida ao interesse exponencialmente crescente de acumulação de riqueza.
É claro que, há quem ache que, ingenuamente, é possível “domesticar”
a tendência selvática implícita ao próprio capitalismo. Mas…Será isso possível?
O que nos diz a história?
Por outro lado, também temos muitas organizações deste tipo
que mais não são do que autênticas agências de propaganda capitalista. Um
bocado como a Unicef que é patrocinada pela Nike e que, por sua vez, explora na
Ásia as mesmas criancinhas que a Unicef visa (ou diz que visa) proteger.
O poder, o egoísmo e a crença
Quando é que começa o egoísmo, que está ligado à manutenção
do poder individual, que a existência de uma organização representa e, quando é
que acaba o dever de protecção dos bens éticos, morais e naturais que deveriam
constituir o objecto dessas organizações?
A respeito desta questão muito tem sido dito e a verdade é
que, as duas ultimas convenções ambientais internacionais resultaram…Em nada! Os
países mais industrializados, entre eles os EUA, foram os que mais se opuseram
a qualquer tipo de compromisso. Aí estão os EUA, armados em “good guys”, em “blessed
ones” e em policias da democracia e dos direitos humanos, e que, ao mesmo
tempo, são incapazes de premiar a humanidade com a mais importante das “prendas”
que lhe poderiam dar – a manutenção futura de um planeta com qualidades óptimas
de habitabilidade.
Capitalismo, sistema sem cosmovisão
O ambientalista Chris Gilbert, num artigo recentemente publicado
no seu blogue vem dizer que “o capitalismo tem a honra de ser a primeira
civilização sem uma cosmovisão definida”. Para o capitalismo, ao contrario de
todas as outras civilizações anteriores, o ser humano não está dependente da natureza,
domina-a. O capitalismo e a sua civilização constitui o ponto mais extremista,
socialmente falando, do egoísmo, egocentrismo e narcisismo.
Aliás, esta visão é conhecida. O típico republicano
neo-liberal Americano até diz: “Se não és um vencedor, és um perdedor”. E,
perante esta visão, todos os perdedores têm a culpa de o serem. Foi porque se
acomodaram. Ao contrário, o vencedor tem todo o direito de dominar,
simplesmente porque venceu, e se venceu é porque é melhor.
É esta visão desumana que faz com que se olhe de forma
arrogante para o mundo. O típico capitalista é um predador e o mundo é a sua
presa. Na ânsia pela acumulação, nada lhe escapa, nenhum valor ético ou moral
se sobrepõe. O seu regozijo pela capacidade demonstrada de construção de impérios,
de riqueza, de domínios, é de tal forma retumbante que toda a natureza se deve
vergar à sua necessidade de acumulação.
Cheio de si mesmo...
O capitalista típico é alguém que está cheio de si mesmo. É
alguém a quem nós podemos dizer “não te cabe uma rolha pelo r**o acima”. É alguém
que se sente o maior e maior do que os outros, daí dizer que os outros são uns
fracos. Bastaria olhar para o Belmiro de >evedo, para o Amorim, ou para o do
Pingo Doce, para perceber o que digo.
Como diz Gilbert: “o capitalismo retirou toda a importância à
natureza, dando sentido à ideia de chegada à terra prometida, na qual o
capitalismo imagina que consegue gerar tudo aquilo de que necessita”. Esta
secundarização da natureza, de dominadora a dominada, colocando o ser humano no
centro do universo, cria problemas diversos de “sustentabilidade” futura. É incrível
que a palavra “sustentabilidade”, para um capitalista, so faça sentido, quando
falamos de dinheiro. Já quando falamos de vida…
Esta visão torna o capitalismo um sistema “extravagante,
historicamente aberrante e excepcional”, nas palavras de Gilbert. Significa,
acima de tudo que, é urgente reencontrar um sistema que recentre a humanidade
na natureza, transformando a sua relação com esta, caso contrário, todos
poderemos sonhar com um mundo cinzento, negro, sombrio e obscuro, dominado pela
selvajaria de corporações ultrapoderosas para as quais o poder não tem limites.
Qualquer filme de ficção pós apocalíptica dá uma visão do que isto poderia
ser.
Capitalismo: a aberração natural e histórica.
Para o capitalismo tudo passou a ser objecto de consumo, ao
contrário de sociedades humanas anteriores. Este problema ontológico trouxe,
inclusive, obstáculos à própria sobrevivência da espécie. A natalidade e a
parentalidade são vistas como perniciosas, quer em ambiente empresarial, quer
em ambiente individual. Ora porque a
produção de riqueza não pode parar, ora porque para se ser rico, não se pode
parar, o ser humano contemporâneo capitalista, está a abandonar o mais natural
de todos os comportamentos que qualquer espécie animal possui: a reprodução.
Se este exemplo não chega para ver a sociedade capitalista
como uma aberração, que levará, inexoravelmente, primeiro à desumanização da
sociedade e mais tarde à sua auto-destruição… Não sei que mais exemplos necessitariam.
A reprodução enquanto comportamento natural, colectivo não subsiste perante o
comportamento individualista e egocentrista promovido pela forma de estar
capitalista. Eu, eu e eu…
As 4 leis da natureza e as quatro leis do capitalismo
Outro Professor John Bellamy Foster refere em contraposição
as 4 regras da natureza e as 4 regras do capitalismo:
Da natureza:
- Tudo está conectado entre si
- Todas as coisas vão para algum lado, nada se perde
- A natureza contém em si a maior das sabedorias
- Tudo provém de alguma coisa anterior
Do Capitalismo:
- A única ligação importante entre as coisas é o nexo financeiro
- Não interessa de onde vem desde que permita acumular riqueza
- O mercado livre é que contém toda a sabedoria necessária
- O bem “natureza” é um presente grátis para o seu proprietário
Não podiam estar em maior contradição…Pois não?
Voltando a Gilbert: “É urgente uma revolução radical na
nossa forma de ver o mundo e a natureza, que substitua a insistência
capitalista de que tudo se deve submeter à sua inexorável lógica de acumulação”.
Nunca foi mais urgente do que agora, a luta por uma
sociedade “não violenta, harmoniosa e emancipada, como alternativa ao curso que
toma a actual”.
É por isto que devem lutar todos os que dizem e acreditam na
natureza. Não se trata de gastar mais energia, mais dinheiro… Trata-se de viver
com menos energia e menos dinheiro. Trata-se de recolocar o ser humano na
cadeia natural do universo, de onde nunca deveria ter saído. A emancipação da
humanidade deve ser cultural, tecnológica, económica, social e política, mas
nunca esquecendo quem somos, o que somos e porque é que somos. Será essa a
grande transformação necessária e à qual o capitalismo nunca responderá.
Fontes:
http://www.tomdispatch.com/post/175690/tomgram%3A_michael_klare%2C_the_coming_global_explosion/#more
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