Robots Vs Humanos
Hoje de manhã, dia 28 de Dezembro de 2011, num dos órgãos televisivos do nosso regime político manipulativo (já evoluiu, antes era opressivo!), não me recordo de qual, fui confrontado com uma espinha na garganta que me impediu de saborear o pequeno-almoço da melhor maneira. Logo a refeição do dia de que mais gosto!
Que espinha era esta? Será apenas na minha garganta? Não, é na garganta de todos nós!
A peça noticiosa era sobre as manipulações, mentiras, desmandos, oportunismos e devaneios ditatoriais desse filho da podridão reinante que é o Alberto João Jardim. Tratava-se de opinar sobre a dívida da Madeira e das suas políticas desastrosas ao longo de mais de 30 anos (falava-se de dinheiro, portanto).
Um fulano, qual licencioso guarda-livros, de quem não refiro o nome, pois a responsabilidade pelos pessoais ditos é algo que muito me apraz, mas no rebanho cabresto imperial, todos os nomes são iguais e todos os animais têm o mesmo nome (o do dono do rebanho), veio, na sua limitada, ortodoxa e extremista percepção referir quais, na sua opinião, seriam as causas da actual situação da Região Autónoma da Madeira.
Este senhor foi, oficiosamente, apresentado como fiscalista. Mas, bem vistas as coisas, se o apresentassem como: auditor de contas; contabilista; técnico oficial de contas; financeiro; consultor financeiro; engenheiro contabilístico, ou, em linguagem capitalesa, “Tax, Finance and Accountancy Consultant”, também qualquer destes títulos deveras “corporate” lhe assentavam que nem uma luva. Para mim, numa simples actividade poderíamos resumir todas estas, a do guarda-livros. Isto, claro, arriscando sujeitar os senhores guarda-livros a uma inominável ofensa para a dignidade da sua profissão.
E o que dizia tão “sapiente” personalidade? Bem, o seu discurso começa por referir “as auto-estradas, as empresas criadas…”. Mas, como se tivesse recebido do além (seria dos “mercados”? dos “investidores”?) uma mensagem clarificadora e iluminada, concluiu a sua verborreia com um exemplo que fez questão de sublinhar e repisar vezes sem conta, como sendo o exemplo último e paradigmático da desgraça financeira madeirense (podia falar dos vices riquíssimos do AJJ, dos clubes milionários, do offshore, da prostituição de luxo, da falta de liberdade politica…). Nas suas palavras, a Madeira tem “demasiados museus” e “centros culturais”, que estão “em todas as ruas” e são “insustentáveis”.
Boa! O problema é da cultura. O problema é do conhecimento! O problema é da sabedoria! O senhor começou com a construção de auto-estradas e navegando pelas mesmas, já ia nas empresas favorecidas pelo Alberto João, só que, os seus deuses do além fizeram-no lembrar que esse, esse não foi dinheiro mal gasto. Afinal, foi canalizado para quem lhe paga. O dinheiro mal gasto foi o dinheiro para a cultura, a educação e o saber. Essas coisas “demoníacas” que dão ao povo. Essa coisas insustentáveis, porque não são auto-suficientes, blá, blá, blá. “Desde quando o povo tem de ter direito a tais coisas”? É claro que é só um exemplo, como o senhor em causa referiu. Mas entre tantos exemplos de maior voluptuosidade e mais badalados politica e criminalmente, porque foi ele buscar “o” exemplo em questão? Será que o que gastam os museus e centros culturais chega sequer a uma milésima parte das ajudas que o governo dá a empresas como as SAD’s dos clubes da região, ou às empresas dos seus vices? Será que estes centros de cultura se comparam em termos de despesas aos enormes benefícios fiscais e outras tenças atribuídas por AJJ ao seu séquito, incluindo algum do continente? O problema é que, como os museus e centros culturais nunca farão parte do “core busines s” de uma qualquer “corporation”, ou, como nunca serão actividades de grande fôlego especulativo praticado por viciados no jogo, talvez seja esse o problema de tão “demoníacas” actividades que têm no progresso social e cultural o seu âmago e paradigma. É esse preconceito dilacerante e radical (extremista) contra tudo o que é de todos e não de alguns, contra tudo o que é publico e não privado, contra tudo o que é democrático e não autocrático (como o é a propriedade privada), contra tudo o que é bem público e não bem privado e contra tudo o que é pago por todos para todos e não por todos para alguns, é esse estado patológico psico-social desta prole numérico-dependente que me assusta. Mais me assusta ainda, em período de crise sistémica, esta gente não conseguir sequer ver um passo à frente do olho e identificar que é o paradigma, o seu paradigma que está errado. Nunca será este o paradigma da emancipação humana. A emancipação humana não poderá nunca, nem deverá, tão pouco, estar entregue ao pragmatismo indiferenciado do número e do recurso. Isso é demasiado redutor para possibilitar a realização da transcendência do sonho. É demasiado mesquinho e vil.
Afinal…os problemas da madeira são fáceis de resolver. Acabam-se com os museus, os centros culturais e mais tarde com as escolas e universidades e, eis que o problema está resolvido. Aliás, esta trupe salazarenta diminuiu de 5% do PIB em educação no OE de 2011, para 3,8% em 2012. Será para nos elevar enquanto povo? Será para promover a nossa competitividade humana de forma qualitativamente superior? Ou será aquela visão mesquinha e pequenina de quem é pequenino, pequenino terá de continuar a ser? Será que foi assim que chegámos ao império marítimo? Como salazarismo bolorento e ultrapassado? Ou foi com investimento humano? Há coisas que ninguém nos precisa de ensinar, a história encarrega-se de o fazer. Pelo menos, a quem se interessa por história, cultura, museus e centros culturais…Claro, não é o caso destes senhores. Os senhores da vista curta, da cegueira dos sentidos, da poupança no recurso e no pensamento. A poupança energética também chega ao pensamento.
Rir? Pois é, dá vontade de rir. Mas de raiva nervosa. Dá vontade de partir para a violência, é o que é. Dá vontade de rir de escárnio por tão grande ignorância e imbecilidade. É que esta classe de “guarda-livros” que faz as contas entre o público e o privado e o que vai para o povo e o que vai para a elite hiper-burguesa, é inculta, insensível, intelectualmente miserável, de personalidade descolorida, de uma futilidade torpe e atroz, de um seguidismo “carneiresco” pseudo militar, de uma incultura estupidificante, de uma ignorância auto-induzida e de uma imbecilidade santificada pelos deuses monetários do além humano e de uma visão desumana e desumanizadora da realidade.
Coitados dos guarda-livros que apenas faziam a conta ao deve e ao haver. Publico ou privado. Estes, fazem as contas, mas não entre o deve e o haver, em absoluto. Fazem as contas entre o deve (dinheiro a direccionar para o sector privado que nunca é demais) e o haver (dinheiro a tirar do sector público e social, que é sempre demais).
Estamos a falar dos senhores do número. Do índice, da conta e do factor. Estamos a falar de gente despersonalizada. De gente educacionalmente deformada e desumanizada. A humanidade nunca se sobrepõe ao número. O ser nunca se sobrepõe ao ter.
Estamos a falar de rebanhos sem ovelhas negras. De democratas sem povo. De seres sociais que não querem pessoas e de liberais telecomandados de forma Wireless. Estamos a falar de seres “chipados”, “quitados”, a quem extirparam a sensibilidade, a emoção, o pensar e o reflectir. Estamos a falar de seres desprovidos de capacidade crítica e autocrítica, de capacidade analítica e de questionar a realidade, de autómatos incapazes de se voltar contra quem os comanda. Estamos a falar de máquinas a quem o sistema educacional neo-liberal e ultra-conservador (de renascentista tendência reaccionária) extirpou a humanidade, deixando apenas o animal (o animal não transforma a realidade, adapta-se a ela). O animal submisso ao líder e à realidade que lhe apresentam como ultima e com “a-histórica”. Um líder corpóreo escondido sob uma capa de indeterminação conceitual a quem atribuem características vagas e relativas como, o global, o competitivo, o mercantil, o rentável, o produtivo, o reprodutivo e ao qual se atribui milagres tão importantes como, a mais-valia, o produto, a riqueza e o investimento. O líder esconde-se atrás dos “mercados”, dos “investidores”. Deuses pagãos do além, que se movimentam por entre as trevas obscuras da desumanidade latente. Destes não esperamos amanhã, destes só esperamos o agora. Destes não esperamos o progresso, apenas o regresso. Destes não esperamos a revolução, apenas a reacção. Para estes aquilo que é, sempre será. Os “deuses” fizeram os ricos e os pobres. O divinos “mercados” e “investidores” fizeram, o homem não muda nem pode mudar.
Senhores como este,m reflectem a sociedade das sombras, da aparência e do materialismo bacoco, da uniformidade, da normalidade e do cinzentismo. A sociedade da “corporate culture” em que quem está fora, está feito. A ditadura da manipulação. A sociedade em que a hiper-borguesia chama democratizar a economia à destruição do erário público. A sociedade da criação de multimilionários que resultam do domínio monopolista e oligárquico das áreas de intervenção estratégica do estado. A sociedade da submissão ao reflexo condicionado economicista mais primário. Primário? Sim. Primário, no sentido em que voltamos à lei do mais forte. Estes não condenam a mentira, nem a manipulação, nem a corrupção, nem o tráfico de influências, chamando-lhe até de “lobying”. E quando o governante eleito mente? É porque não sabia da realidade, estava equivocado. É “perfeitamente” admissível e aceitável.
Senhores como este são os ceifeiros dos nossos sonhos de liberdade e democracia. Dos sonhos de emancipação da nossa humanidade. Senhores como este simbolizam o passado atado à riqueza material. O tempo do umbigo. Simbolizam a incapacidade de o homem ascender na sua humanidade.
Senhores como estes Guerreiros, Lourenços, Delgados e outros, simbolizam os tentáculos (sim, tentáculos, porque não têm vida ou existência própria) de um sistema ultrapassado mas que insiste em perpetuar-se contra as ansiedades de libertação de toda uma humanidade que se tem vindo a afastar da política por se considerar manipulada (as ditaduras também são as da manipulação!). Senhores como este simbolizam a tentativa histórica das facções reaccionárias em voltarem ao modo de produção anterior, ao feudalismo. Afinal, os resquícios do passado existem e existirão sempre no futuro. É por isso que a luta não pode parar nunca. Porque o abrandar da luta humana pela libertação equivale ao deixar a reacção retomar a sua perdida pretensão de dominação. É algo de muito humano. De desumano, apenas os senhores autómatos atrás referidos.
Destruamo-los pela força das ideias e dos ideais!
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