A minha receita...    


Hoje foram publicados os dados do ultimo trimestre das contas nacionais. E o que nos foi dado ver através dos números publicados? Bem...foi o que todos vimos:

  • A receita fiscal diminuiu
  • O défice aumentou
  • A dívida pública aumentou mais ainda

Enfim, outros dados sobressaíram, mas estes foram os mais importantes. Contudo, importante também, foram as reacções. Na SIC Notícias, por exemplo, lá apareceu um "reputadísssimo economista, consultor, expert, com um MBA da London Business School (ou lá o que for)" que, em nome da revista Exame lá fez, mais uma vez a sua "qualificadíssima"e, acima de tudo, "isentíssima" avaliação pericial. É claro que, tão elevado conhecimento do sistema económico nacional, internacional e universal, não conhece erros nem dúvidas. Este tipo de "sacerdotes" da nova era, a era do "homo economicus", falam directamente com o além...leia-se, "os mercados", "os investidores" e outras forças transcendentais e incorpóreas, mas com enormíssima capacidade de intervenção, quiçá ao nível da omnipotência e da omnipresença. 

Então, dizia tão casta "eminência" que, não obstante os números apresentados, "podiam, mesmo assim, encontrar-se aspectos positivos". Quais? A diminuição da despesa! Com o quê? Com o SNS! Será que eram estas as "gorduras do estado" a que se referiam quando falavam em diminuir a despesa? Provavelmente! 

Por outro lado, começam a fazer-se sentir na segurança social, os efeitos das "doutas" e "irrefutáveis" soluções  para o equilíbrio das contas públicas. Falo, concretamente, da nacionalização dos fundos de pensão das empresas públicas, que já custaram mil milhões de Euros à SS, este ano. 

Ah....mas que descansados podemos ficar com tão "elevada" classe de sabedoria. Sim...com tanta soma de saber, podemos ficar certos que do fosso não saímos! Mais tarde, até vêem justificar o porquê da SS não ser viável. Pudera!

Mas o que mais me faz confusão é isto: então, dizem estas alminhas, formadas nas mais reputadas universidades económicas do mundo ocidental (das tais que têm sempre razão, à moda da mais extrema religiosidade inquisitorial hispânica), que não podem os governos bulir com as forças do além, porque, mexer com os "investidores" e com os "mercados" só pode resultar em divina punição, de severidade exponencial e ilimitada? 

Mas, expliquem-me lá, quando os fundos de pensões foram nacionalizados para equilibrar as contas públicas, não foi isso que se fez? Mexer com os "investidores"? Não se tratam de fundos de investimento? Não se tratam de fundos nos quais milhares de pessoas colocaram o seu dinheiro, numa perspectiva de investimento futuro? Que lhe garantisse a reforma? E agora? Agora, vem o governo dizer que ficam sem subsídios e partes da reforma? Mas isso não é alterar as regras do jogo do investimento daquelas milhares de almas investidoras? Subitamente, ouvimos um silêncio de bradar aos céus, porém ensurdecedor. Nem um sacerdote "Economeu" se levantou...

Então, avanço com uma solução...Porque não nacionaliza o estado esses fundos imobiliários (há um que tem 7 mil milhões) que apenas têm que retribuir 1,2% ao ano? Não sairá mais barato que o empréstimo da Troika? Porque não se nacionalizam os PPR's e capitais de reforma explorados por todas as seguradoras e bancos em Portugal? São apenas 3% ao ano...Já agora, vamos à CMVM e nacionalizam-se todos os fundos mobiliários com rateamento AAA+ e que, mesmo garantindo 10% ao ano, o montante é capaz de justificar. É muito a retribuir por ano? Não faz mal. Faz-se o mesmo que se fez aos reformados dos fundos das empresas publicas, dividem-se os dividendos anuais por 14 partes e retiram-se duas delas. Ah...e aplica-se uma taxa de 30% de IRS, adicionada de um sobretaxa de 15%, e ainda, de um IVA de 23%.

Já viram o dinheiro que isto dá? Dá mesmo muito. Dava para não trabalhar-mos durante 10 anos. Esperem...deram-me uma cotovelada...há um sacerdote "Economeu" que me diz que tal não é possível por provocar a ira divina "dos mercados" e "dos investidores"...

Mas porquê????? Alguém me consegue explicar????

Vou mas é para um "seminário" neo-liberal tirar um curso  e economia para me tornar um bom..."guarda-livros". Pensavam que era o quê?


Hugo Dionísio

P.S.1 - Sacerdote "Economeu" = nova classificação sacerdotal de acordo com a Nova Teologia Mercantil, figura de proa ao nível dos contactos humanos com as forças monetárias do além. Prossecutores do Evangelho segundo G8, caracterizam-se pela capacidade de tornarem a ciência social económica na mais reles contabilidade merceeira.

P.S. 2 - Em futuros textos abordarei mais especificamente a doutrina Teológica desta gente.


  

1 comentários:

efernandes disse...

Bem pensado Hugo. Parabéns