há mais de 2000 anos já se sabia!

Cuidado! Vê o que acontece se não participares. Já Platão o sabia. Quantos mais milhares de anos serão necessários para tu também o saberes?

A injusta repartição da riqueza!

Consideras justa esta repartição da riqueza? Então o que esperas para reinvindicares uma mais justa? alguém que o faça por ti? Espera sentado/a!

Não sejas mais um frustrado/a!

Não há pior frustração do que a que resulta da sensação de que não fizemos tudo o que podiamos!

Historias...Parte 1


Nos passados tempos de El Rei D. Manuel I (como noutros), muito justamente apelidado de O Venturoso tal a sorte de se ter tornado rei (os que tiveram de morrer?!?!), haviam um ódio e um temor que congregavam grande parte da sociedade (ou pelo menos, a parte que mandava). Por um lado, o ódio aos Judeus e Cristãos Novos vistos como executores de JC. Por outro lado, o temor a Deus todo poderoso que na sua infinita misericórdia reinava a espécie humana por tão insondáveis desígnios que muito confusos traziam os comuns mortais.

Tal como noutros tempos, mais atrasados ou avançados na história humana, também nesses, os poderosos eram mestres no uso desses sentimentos para sua fruição pessoal e de classe.

E faziam-no de tal forma que, em década de seca e consecutivos maus anos agrícolas, ares putrefactos e empestados  por  incontáveis doenças do corpo e do espírito, de mortandade e miséria geral, tão rápidos foram os frades dominicanos a eleger a causa do problema climatérico evidenciado. O problema era dos Judeus! Perante tão grande número de pecadores nas nossas ruas (Portugal era, à data, um refúgio privilegiado para muitos deles, devido à intolerância e barbárie reinante na vizinha Castela e Leão), Deus todo poderoso, na sua infinita misericórdia, só podia estar chateado com os portugueses. Tal chateação, resultante de tão grande soma de pecados perpetrados por tão ímpia gente anticristã, só podia resultar numa não menor soma de castigos, reveladores do mais omnipotente poder divino, mas, ao mesmo tempo, inspiradores da maior das misericórdias, a da poupança das vidas. Eram castigos de sofrimento, que na sua moagem da vida quotidiana davam, ao mesmo tempo, a possibilidade de os pecadores se redimirem perante tão profundo e universal amor.

Eis que surge um frade dominicano (estes auto apelidavam-se de "cães de deus") que o diz a tão alto e bom som, que logo, muitos dos circundantes se acercaram e, atentando na mais religiosa e divina sabedoria, iniciaram uma desenfreada caça ao cristão-novo, mais concretamente ao apelidado de "marrano" (cristão-novo que continuava a professar a religião judaica às escondidas). Fora vários dias de caça ao homem, à mulher, à criança e ao velho. Milhares de Judeus foram queimados, mutilados e espoliados dos seus bens e da sua honra (não...não foi só o hitler). Já não lhes bastava viver em judiarias (autênticos ghetos), terem de se sinalizar com uma estrela de david (não...não foram os Nazis os primeiros...os, muitíssimo pios, católicos, já o haviam feito) e de pagarem impostos altamente inflacionados, mesmo assim, era preciso agradar a Deus todo poderoso e infinitamente misericordioso, de forma mais visível, radical e extrema (sempre o extremisto). As restrições reinantes e impostas não chegavam, para agradar a deus era preciso mais, muito mais. Eis que a turba, manipulada por aqueles que mandavam no espírito e no corpo (estes invejando o ouro, as jóias, os livros...) queimou esta gente, em tão grande quantidade, até em Setubal se tossir com as cinzas que a nortada para lá levava!

Como dizia...tudo para agradar a Deus todo poderoso e infinitamente misericordioso. pelo menos, era o que os poderosos diziam ao povo.


Histórias...Parte 2


Nos tempos de hoje, depois de anos a fio a privatizar o que pertencia ao estado e a todos, a baixar os impostos aos bancos e as empresas, a enfraquecer serviços públicos, a degradar a segurança social e a perseguir com todo o fundamentalismo resultante de uma atitude extremista, todos os direitos sociais que a classe dominante burguesa foi obrigada a reconhecer em resultado da luta dos povos (com medo da quebra da "paz social"), eis que, numa continuação lógica de tão grande degradação do publico em detrimento do privado, do proprietário em detrimento do assalariado, muitos sacerdotes ultra liberais vêem cantar, gritar, repetir e verberar sem fim, a ideia de que estamos em crise por causa do estado social (que muito já destruíram) e por causa dos direitos dos trabalhadores e principalmente, desses "malandros", que nada têm e não deixam ter, os sindicalistas.

Numa negada, escondida e obscura recuperação dos valores liberais burgueses pós revolução francesa,  segundo tão eminentes e numerados sacerdotes (só numerando é que os distinguimos, pois são todos iguais, como os dominicanos de preto) é preciso, baixar salários, direitos sociais, serviços públicos, aumentar impostos aos trabalhadores, diminui-los às empresas, vender o que resta do estado (menos o exercito para lhe venderem as suas armas), enfim, toda uma panóplia de medidas que sem critério distintivo relativamente a homem, mulher, criança e velho, lhe atribuem, estes hiper-ultra-mega liberais, uma capacidade de satisfação da sanha dos "mercados" e dos "investidores", que na sua incomensurável magnanimidade, nos pouparão se, muito "justamente", os deixarem penetrar em paz na nossa soberania, no nosso território, na nossa economia, na nossa sociedade e nas nossas vidas. Até lá, o castigo será inominável. A mais poderosa das privações monetárias poderá desabar sobre as nossas cabeças, não satisfaçamos nós a sua divina fome por mais e mais riqueza. Afinal, quem é rico é que produz riqueza, numa espécie de recuperação do trivial "dinheiro puxa dinheiro". Só o possuidor tem legitimidade para querer bem ao seu país! Esta expressão poderia ter sido retirada de um discurso do senhor Chapelle, que representava a classe burguesa no poder após a revolução francesa. Haviam-nas bem piores que esta! Claro que estes senhores burgueses revolucionários, que derrotaram o regime feudal, não queriam uma revolução operária e, tal como os senhores feudais lhes tinham feito, trataram logo de legislar, filosofar e argumentar a impossibilidade e a injustiça do facto de os trabalhadores, assalariados e não proprietários, se quererem organizar. Assim, os sindicatos e as greves e tudo o que era relação colectiva, foram eleitos obstáculos ao desenvolvimento e às leis da natureza, que dividiam a sociedade em duas classes, os que tinham e os que não tinham. Uns tinham direito, outros não! O mercado, a economia e a propriedade privada, resultavam de leis divinas, por serem naturais e como tal, o estado tinha de as proteger e facilitar a sua construção, não o contrário. As desigualdades sociais, para estes senhores, resultavam apenas do facto de os pobres (tendo os mesmos direitos em abstracto) terem uma tendência natural para a preguiça e para a inveja da riqueza dos ricos, o que os levava a quererem apropriar-se injustamente da riqueza, para a qual, os ricos tanto tinham trabalhado para acumular. Onde é que já ouviram isto?

A única diferença entre estes senhores do século XVIII e os de agora é que, os de então tinham a coragem de dizerem e fazerem o que pensava. Os cobardolas de agora, fazem o que pensam, mas escondem-nos tal pensamento. O que não, convenhamos, nada democrático. Ah, os cobardolas hiper liberais de agora, apresentam como moderno um discurso que era modero, de facto. Só que este discurso era moderno há 250 anos. Mas nada tem de incongruente. Afinal, quem recuperou de forma tão fiel, radical, sectária e fundamentalista a doutrina liberal anterior ao próprio liberalismo (num papismo maior que o papa Adam Smith pois este defendia que o trabalho e a sua regulação tinham de estar à parte destas regras por considerar que assalariado e patrão não estavam em igualdade de circunstâncias), também recuperou a modernidade que estas doutrinas tinham na altura! Recuperaram tudo, menos o que lhe interessa! Pois para os liberais, os especuladores eram parasitas que deveriam ser erradicados, perseguidos e presos, por distorcerem o mercado. Estes senhores cobardolas, vendidos hiper-ultra-liberais, faziam o mesmo que os seus companheiros de profissão, os sacerdotes dominicanos. Estes senhores lêem a bíblia deles, como os dominicanos liam a sua. Só na parte que lhes interessam. Como vemos, religião é tudo igual.

Cá, neste tempo, como no passado, quem manda tenta criar a ideia de que temos todos, como antes, de ter um temor em comum. E um ódio, também. Devemos então, ter o temor aos todo poderosos "mercados" e todo omnipotentes "investidores". Devemos também, ter ódio aos socialistas, comunistas e defensores do publico, do colectivo e da igualdade. Segundo tão eminentes sacerdotes, a sua inconfessada bíblia, vem dizer que os nossos estados estão minados de principios socialistas que promovem a distrorção do mercado, a desprotecção dos empresários e, consequentemente, a limtação da riqueza e da produtividade.

Então, vêem tão extremistas religiosos, propor que todas as conquistas civilizacionais, que nos distanciaram, todos estes anos, da lei da selva e da ditadura do mais forte (neste caso do mais rico), sejam, simplesmente, destruídas com tão grande prejuízo do novo e do velho, do preto e do branco, mas acima de tudo...do pobre e do trabalhador. e tudo...tudo, para agradar a um poder maior, do qual todos, sem excepção, devemos guardar um enorme temor: o poder dos "investidores" e dos "mercados", propagados pelas igrejas das agências de Rating, das Corporations, dos Bancos Centrais independentes dos estados e do povo, mas escravos dos capitalistas financeiros, dos paraísos fiscais e de todos os ministérios que muito ajoelhadamente, lambem o chão que tão intangíveis eminências pisam.

Tão magnânimo poder, já descrito na bíblia fisiocrática burguesa e smithiana liberal económica, é para estes senhores sacerdotes tão inquestionável como o era o do Deus todo poderoso para os cães de deus dominicanos. Apenas uma diferença: os cães de deus dominicanos tinham a coragem de dizer qual era a sua bíblia, os papagaios sacerdotes ultra liberais não!

Apresentando-nos um discurso podre de velho, saído do século XVIII, chamam-lhe de novo, apenas porque quem o apresenta aparece na "nova" televisão fardado de um fato azul "novo" e "moderno". Como os frades dominicanos de preto, também estes se vestem de igual. Como os frades dominicanos queriam agradar a Deus, estes querem agradar aos "investidores" e aos "mercados". A sanha de uns e outros não tem fim. Uns queimavam na fogueira, estes queimam-nos no sofrimento da perda, da indignidade e da ignorância.

Estou a ser radical? Estes senhores provocam a descida da esperança média de vida...o que é isso? Dar vida, ou tirá-la? Estes como os outros, sob a "justiça" de quererem agradar a um poder maior que o dos homens. Estes como os outros  extremistas, radicais e inumanos. estes como os outros, homens sem cara, sem coração, sem emoção e sem liberdade. Estes como os outros, números sem cérebro. 

Abaixo os poderes superiores, vivam os homens e as mulheres, viva o Humanismo! Viva o povo e o progresso civilizacional contra a lei da selva. Viva o Socialismo. Gente há que tem é de o tirar, não é da gaveta, é das profundezas do obscurantismo!

Hugo


P.s. já viram o incómodo destes ditadores subliminares, cerebrais e sofisticados, quando nós relembramos a história? Quem não conhece o seu passado, não pode avançar para o futuro! Porque será que as universidades cada vez mais têm cursos utilitaristas e cada vez menos cursos clássicos, dos que ensinavam a pensar? Porque querem um exército de seres desprovidos de história, de crítica e de capacidade de reflexão. Só reflecte que conhece e compara. Todos fardados de azul, cabelo lambido e mocassin com berloque, estes senhores são todos iguais, são todos seres telecomandados, sem cara, sem passado e sem história! Como qualquer máquina, também não têm futuro. Só o presente!
Segunda-Feira, a semana começa bem!


Depois de quatro dias de descanso e de faz de conta, eis que volto, ainda no domingo à noite, à tradicional azáfama semanal, caracterizada pelo, também tradicional, choque com a realidade quotidiana, de um país que caminha a passos largos para a miséria. Atenção! Falo de miséria, não de pobreza. A pobreza, para mim, é bem diferente da miséria. Bem...voltemos à tortura da nossa estória hodierna.

Domingo à noite

Ainda no domingo à noite, como dizia, tomo nota da primeira descarga eléctrica, e logo de altíssima tensão. 

- A Espanha recorre a um empréstimo para recapitalização da banca mas, afinal, este não se trata de um "resgate" com sabor a "sequestro", trata-se antes, de um apoio com cheiro e textura de "eurobound". Os tais eurobounds que os alemães não queriam. Tudo depende de quem os pede, como sabemos.

Aliás, Rajoy regozijava-se com o facto de não lhe terem pedido nada em troca, ele é que pediu. Sabemos bem que estas coisas do cumprimento ou incumprimento tudo tem a ver com as cores...das bandeiras. A verdade é que, para a Espanha, criou-se uma apoio especial (já ao abrigo do EMS - mecanismo estratégico europeu de estabilização - ou qualquer coisa assim) que, supostamente, só vigorará a partir do mês que vem. É assim, os grandes até mandam no tempo!

Os pequenos, os portugais, as grécias, as irlandas, esses, agora vêem dizer que também querem usufruir das mesmas condições que foram "impostas" às espanhas (a seguir vem a Itália e depois a França). Pois é, mas não os vi pedir indemnizações para o povo desses países, pelos danos já causados e pelas mortes (sim mortes! A queda da esperança média de vida e a taxa de mortalidade sénior em alta) provocadas pela sua política monetária extremista, inumana e insana. 

Sabemos tão bem que o desenfrear das imposições aos PIG's (até porcos nos chamam) não terão reflexos nos nossos direitos! Sabemos tão bem que os reflexos serão apenas para o desafogar das empresas, do sector energético... 

Bem, como vemos, ainda no domingo, levei um choque que poderia ser mortal, não estivesse já eu preparado para notícias tão más. Quer coração temos de ter, nestes dias. 

Segunda de manhã cedo


Ainda mal refeito da descarga eléctrica da noite anterior, acordo ao som das palavras de uma comissário europeu (aquele Sueco de uma figa) que dizia que, afinal, também à Espanha tinham sido impostas condições. E quais? Ah...tinham-lhe imposto a aplicação do Pacto Orçamental! Que raio:

1. Mas esse pacto já não tinha sido aprovado pelos 26? (a Inglaterra ficou de fora! Quem pode, pode!)
2. Quando foi aprovado não era para ser aplicado por todos?
3. Será só para ser aplicado por alguns contra outros?
4. Será para a Alemanha e a França aplicarem aos PIG's?

Mas como eu dizia, tal comissário, dizia isto com tal convicção que também eu fiquei com uma convicção: Estes tipos mentem com muita convicção! 

Estamos rodeados de uma classe politica no poder, que faz da mentira, da omissão, da confusão, da obscuridade, do mal entendido e da confusão, a baliza do seu discurso. O seu discurso não é balizado pela verdade, pela transparência, pela democracia, pela clareza e pelo conhecimento. O seu discurso e o seu "modus operandi" são determinados pela necessidade de impor medidas de salvaguarda dos poderosos, numa lógica de aprofundamento da luta de classes, do capital contra o trabalho, a tal luta de classes que estes senhores, nos últimos vinte anos, tantos e esforçaram por demonstrar que afinal, não existia.

Como sabemos, a verdade é como o azeite. Vem sempre ao de cima. Aqueles que diziam que a luta de classes já não existia, que já não era tempo dessas coisas, são, ao mesmo tempo, aqueles que mais comprovam a sua existência. E comprovam-na pela pior das razões, pela mentira, pela aldrabice pegada e pela necessidade constante de tirarem dos fracos para darem aos mais forte. Comprovam-na todos os dias, pela necessidade de, constantemente, mostrarem a cobardia de, ao menos, nos encararem e dizerem quem são e ao que vêem. 

Estes senhores, demonstram a necessidade da nossa luta, quando, vestindo a pele de cordeiros, dizendo-se defensores da democracia e contra o radicalismo e a "extrema esquerda", fazem do "politicamente correcto", a força motriz do desengano. Fazem-nos confundir, "politicamente correcto" com "boa educação" e com "respeito pelos outros". O facto é que, o seu "politicamente correcto" mais não é do que o cinismo e a hipocrisia daqueles que, vendidos por dinheiro, poder ou aparecer, não têm a vontade, a coragem e a capacidade de, ao menos, mostrarem um pingo de carácter. Continuadamente, defendem os fortes dizendo que protegem os fracos. E fazem-nos porque são legitimados pelos fracos, mas são segurados pelos fortes. São os fortes que lhes asseguram que a sua mediocridade e a sua incompetência ainda por cima, dão prémio. Claro, não podem, nem querem, virar-se contra eles. Não seria "politicamente correcto"!

Podemos pedir a esta gente apenas um bocadito de seriedade?

Segunda, ao longo da manhã

A tortura sucede e subsequência-se de forma dolorosa. Afinal, parece que o governo, em 2011, procedeu à distribuição de mais de 9 milhões de Euros às ricas famílias da Tauromaquia. Gente pobrezita, coitadita (lembro que, na idade média, só os nobres podiam ser toureiros e montar a cavalo, os pobres só podia ser forcados). 

"dia 21/03/2012 foi publicada no Diário da República a lista dos subsídios atribuídos pelo IFAP no 2.º semestre de 2011, tal como se havia publicado a listagem relativa ao 1.º semestre de 2011 no dia 26/09/...2011.
No ano de 2011 o IFAP atribuiu subsídios no valor de €9.823.004,34 às empresas e membros das famílias da tauromaquia".


Disto não se falou nos jornais. Os esbirros do capital...calaram-se bem caladinhos. Quase 10 milhões para torturar touros? 10 milhões para os proprietários de grandes explorações agrícolas e pecuárias que cobram milhões em bilhetes e transmissões televisivas! Depois disto podem ajudar o futebol! Ah...o futebol é de todos e a tourada é dos ricos? Com que então não há luta de classes! Até nisto!

Depois não há dinheiro para os alunos com dificuldades, para os reformados, para os funcionários públicos, para os hospitais...Mas para os toureiros...AH QUE GRANDES CORNUDOS QUE SOMOS!


Não abram os olhos que não é preciso!


P.s. O Rui Rio vem propor a suspensão das eleições nas autarquias que não tiverem as contas equilibradas. Deja Vu? Eu já tinha pensado nisto para o governo, por causa do déficit. Parece que vem de baixo, vem depressa e pelas mesmas razões!


Como será constituído o Cérebro de um Hiper-Liberal?

“Sei que não sou o Damásio nem sequer o Descartes, mas, penetrarei nos recônditos âmagos do estudo do cérebro e das suas funções, tentando compreender o processo cognitivo e neurológico de um simples actor neo-liberal (neste caso a versão extremista em voga, o Hiper-liberalismo). Imaginem então, um cérebro de um Camilo Lourenço, de um Luís Delgado ou de um Ministro das Finanças como o nosso”.

Silêncio…gráficos a brilhar em ecrãs de três dimensões. Dígitos contabilizando as subidas de crédito ao som repetitivo e sugestivo de máquinas de contar notas. Tabelas, quadros, balanços, a mostrarem a disparidade entre activos, passivos, cash flows, índices de performance e rentabilidade, numa cacofonia de números, tilintares de moedas e restolhar de papel monetário que facilmente possuem o espírito vazio do mais fraco, básico e comum dos mortais. Ah…o que uma educação publica inexistente ou de baixa qualidade poderia ajudar…O dinheiro que ganharíamos. Pensam, suspirando e sentido a pulsação cardíaca a aumentar, todos os Passos Coelhos deste mundo.

Beleza? Arte? Sublimação? Transcendência? Interioridade? Profundidade? Subjectividade? Simplicidade? Emoção? Não, estes não são atributos de um mundo racionalizado por esta gente…Substituamo-los por: Eficácia; Eficiência; Objectividade; Superficialidade; Insensibilidade; Crueza; Quantificação…

Acabámos de entrar no cérebro de um “Investidor de capitais”. Foi difícil de encontrá-lo por entre o emaranhado de fios e circuitos integrados que levam a processos binários, que por sua vez estão ligados a uma centralina operada a distância, cujo IP não nos foi possível de detectar por se encontrar num qualquer paraíso fiscal.

Após ultrapassar-mos  a rede de pastas e ficheiros que fazem dele um verdadeiro e excelentemente programado Sacerdote da Nova Ordem Hiper Liberal Imperial, procurámos resquícios neurónicos e circuitos neuro-biológicos que nos ligassem, o seu pensamento artificial e anacrónico, ao que chamamos de reminiscências do nosso passado colectivo e de todas as referências culturais e históricas da nossa humanidade. Tentámos encontrar a sua consciência social, cívica e humana. Assim o encontraram vocês? Assim o encontrei eu!

Infelizmente, constatámos que as mesmas, simplesmente, foram apagadas, nuns casos, e secundarizadas, noutro. Regra geral ficaria contente com tal evolução tecnológica, mas, mais uma vez, a máquina em causa não foi criada para nos servir, mas antes, para nos submeter (deve ser da programação, afinal, MIT, Harvard, Oxford, Chicago a programarem esta malta…esperavam o quê?).

Para este cérebro, tão profundamente programado e incorporado de tecnologias biónicas e cibernéticas, não existe Adão ou Eva, grande arquitecto ou evolucionismo, creacionismo ou materialismo. Neste cérebro, podem caber todas estas concepções, porque todas elas, individual ou colectivamente, estão submetidas a princípios de programação superiores: O Principio Economicista; O principio da Competitividade crescente; O principio da Riqueza crescente; O principio da Acumulação constante. George Orwel escreveria o 2012 e não o 1984.


As referências culturais tradicionais mais não são do que pequenos ficheiros, que apenas são chamados ao processamento central quando se pretende vender alguma coisa ou ideia, que por sua vez, está submetida aos princípios estruturais acima referidos. Ou seja, este cérebro não é capaz de inovar ou de se revoltar. Todo o seu funcionamento é gerido em torno dos princípios expostos, informadores de toda a acção e reacção.

Neste cérebro, que tanto tem de evoluído tecnológica e cientificamente, quanto tem de medieval e obscurantista, não vale a pena falar de humanismos renascentistas ou de movimentos operários libertários. Não vale a pena falar de justiça social, simplesmente porque o social não conta. Não contanto o social, a justiça…deixa de ser a dos homens, para passar a ser a do dinheiro. Não vale a pena falar de fascismo, porque o inimigo está do outro lado. Com o fascismo enriquece-se muito…concentra-se muito…. Ah! E não tem de se utilizar aquele truque chato e instável da democracia e diálogo social (que alguns sujeitos muito aborrecidos insistem em utilizá-lo para a luta de classes).

O inimigo deste cérebro, está do lado do humanismo que defende que acima de tudo deve estar ser humano e a sua humanidade. O inimigo, está na ausência de classe explorável, na ausência de propriedade privada e na organização de um estado que trate as pessoas como…pessoas. O inimigo está no social, e em todas as correntes politicas que fazem do social o aspecto mais importante na nossa vivência humana. O inimigo está no socialismo. Este é o seu diabo. Quando aparece um socialista ou comunista, este cérebro começa por assinalar um alarme interior. Depois de colocar o seu portador (investidores e actores hiper-laborais) a debitar um sem número de preconceitos padrão, chavões e ideias feitas, ligando-se em rede, a todos os canais de comunicação social corporativa que passam a mensagem até à exaustão, o cérebro faz shut down e fica em hibernação, esperando que a discussão acabe e a paz-social volte rapidamente, pois o conflito social coloca em causa o Sacro Imperador “Mercado de Capitais”.

Ora, este cérebro em que entrámos, é um cérebro sem cara. É um cérebro sem identidade. É um cérebro autómato e telecomandado, cada vez menos humano, esgotando toda a sua existência na consagração e sublimação de um Estado Hiper-liberal, estado esse que pouco tem de institucional e nacional, tendo muito de transnacional, supranacional e imperial. Império sem imperador conhecido, império sem cara. Explora-nos, submete-nos, censura-nos, desumaniza-nos, mas, dificilmente identificamos de onde vem essa força que tem tanto de totalitária como de subliminar. De insidiosa como de intolerável. De intensa como de extensa. Não tem cara, tem muitas caras.

Este cérebro é um actor e contrata actores, marionetas que nos colocam à frente para que, as oiçamos ou as elejamos como supostos representantes. Actuam como programas informáticos que, quando os compramos, resolvem tudo e depois, apanham vírus e dão-nos cabo do computador.

Num cérebro destes, moeda, título, acção, lucro, rentabilidade, mais-valia, etc., constituem o cimento da existência humana, à qual a sociedade se deve submeter. O cérebro de um “investidor” prossecutor da teologia do “Mercado de Capitais” todas as energias populares se devem dirigir para a sublimação da Santa Riqueza Concentrada.

Se a sociedade conseguir resistir…mal o dela J. Invade-se, mata-se, mente-se, manipula-se, defrauda-se, ameaça-se e chantageia-se. Nenhuma vida humana vale mais do que uma bolsa recheada de “capitais”.

“Ave, mercado, ave. Santificado seja o seu Investidor. Abençoado seja o teu actor que nos garante a exploração crescente de mais valias, fazendo das pessoas capital, fazendo dos humanos, recursos. Ámen” in, Evangelho segundo o Nova Ordem Hiper Liberal Imperial



P.s. Como sabemos, o problema não é o radicalismo (nada de mal em defender radicalmente os nossos princípios). O problema é o extremismo. Seja ele qual for. 
Desumano, demasiado Desumano.

Alemanha...Frankfurt...capital financeira do país. Dezenas de milhar de manifestantes (os próprios dizem 40 mil, a imprensa fala em 25 mil e a polícia em 20 mil) protestam contra o capitalismo, contra a politica austeritária conservadora e neo-liberal, de natureza sectária e extremista. Fazem-no em pleno coração financeiro germânico. Já não são meia dúzia de anarquistas...não! Também não são umas centenas de arruaceiros anarquistas. São milhares...de homens, mulheres, jovens e velhos, todos unidos num grito uníssono..."o capitalismos já não nos serve"!

O que fará saltar para a rua milhares de alemães quando o seu país, afinal, até é o mais rico, o que mais cresce e o que mais exporta? O que fará esta gente normal, sem capuzes, gorros, tatuagens ou "very lights", sair à rua, manifestando pacificamente a sua convicção que, não obstante a opulência da nação que os acolhe, "as politicas financeiras capitalistas impostas, não ao seu país, mas aos outros países europeus, não prestam"?

A Alemanha de hoje, meus caros, é o retrato do futuro capitalista. Riqueza sem fim, crescimento estratosférico, gráficos a rebentarem as tabelas, acções a flutuarem ao sabor da roda dentada vampiresca dos "mercados", investidores  regozijantes de tão elevadas que são as suas mais-valias...O paraíso de qualquer Rabi financeiro devoto às forças transcendentes e insondáveis do omnipotente e omnipresente "mercado financeiro".

Neste país...podemos olhar à volta e ver o brilho opulente de tão imensa propriedade digital. São dígitos, números, caracteres, bináriamente multiplicados e consagrados. Até os computadores ganham alma, tal é o movimento nos seus discos e a energia que corre nos seus circuitos. Aliás, confundem-se as suas teclas e écrans com seres engravatados, de fato azul escuro a combinar com a cinza azulada de um portátil que processa dígitos sem parar.

Ahhh. Em meia hora...os dígitos financeiros que se processam! Estão sempre a crescer. Os seres computorizados fardados de azul e gravata de seda que se confundem com a sua máquina, quais autómatos cibernéticos de um qualquer futuro desumanizado, sentem no sangue, a energia electrostática que se apodera dos seus órgãos. Sentem vibrar o cartão de crédito que têm no bolso. Está mais cheio, sem, mas continua a medir o mesmo. Paradoxo infindável este, baseado na apropriação de quem ainda não é máquina, de quem ainda é de carne e osso.

E são estes, os seres humanos, aqueles que vestem qualquer coisa, da ganga à sarja, do nylon ao algodão, num festival de cores que resultam dos humores dos seus corações. São estes seres, que vivem como humanos, entre humanos e que sentem como humanos, renegando diariamente a uniformização maquinal de quem os oprime. São estes seres que sem farda mas com emoção, desce às ruas e gritam de dor, de alegria, de ódio, de saber, de ignorância, de sensação, com senso ou sem ele, mas são eles que dão a cara por nós.

São estes que lutam, que combatem contra a ditadura do número, da farda, do uniforme e da uniformidade, do cinzentismo da cor azul escura, do opaco de um ecrã de um qualquer PDA cheio de gráficos, dígitos e números. São os homens contra as máquinas. O que os leva à rua é o baixo salário quando a bolsa dispara. É a falta de emprego quando a acção bate o record, é a falta de tempo quando o tempo só serve para quem o quer como dinheiro, é a falta de esperança que nos torna a vida mais fácil de viver, é a falta de segurança que nos atira para o abismo.

À beira da catástrofe colectiva seres humanos manifestam-se contra os seres desumanos. Oprimidos contra os opressores. Vêem-se multiplicar-se as manifestações, vê-se crescer o corpo colectivo de seres humanos que não querem a barbárie da pobreza imposta. De que vale a riqueza se não for nossa?

Mas há quem não goste e eis que seres de inominada desumanidade, de receios inconfessáveis, disfarçados de insegurança pública, vêm proibir a manifestação. E para os tais 20 mil humanos (segundo a policia), enviaram 5 mil policias. 600 presos numa manifestação pacífica? Desumano. Mas nem todo o exercito era número. E, eis que no meio de tal azulismo cinzentista, surge a humanidade. Policias que antes eram um mero número, tiraram os capacetes e juntaram-se aos manifestantes. Não foram todos? Não, mas bastava um. Bastava um para o sol continuar a brilhar e a esperança por um futuro melhor continuar a ensombrar todos os que, abusivamente, nos extirpam do presente o sabor do sonho.

Não...o capitalismo já não nos serve! De que vale a riqueza, se não for nossa?