Depois de quatro dias de descanso e de faz de conta, eis que volto, ainda no domingo à noite, à tradicional azáfama semanal, caracterizada pelo, também tradicional, choque com a realidade quotidiana, de um país que caminha a passos largos para a miséria. Atenção! Falo de miséria, não de pobreza. A pobreza, para mim, é bem diferente da miséria. Bem...voltemos à tortura da nossa estória hodierna.
Domingo à noite
Ainda no domingo à noite, como dizia, tomo nota da primeira descarga eléctrica, e logo de altíssima tensão.
- A Espanha recorre a um empréstimo para recapitalização da banca mas, afinal, este não se trata de um "resgate" com sabor a "sequestro", trata-se antes, de um apoio com cheiro e textura de "eurobound". Os tais eurobounds que os alemães não queriam. Tudo depende de quem os pede, como sabemos.
Aliás, Rajoy regozijava-se com o facto de não lhe terem pedido nada em troca, ele é que pediu. Sabemos bem que estas coisas do cumprimento ou incumprimento tudo tem a ver com as cores...das bandeiras. A verdade é que, para a Espanha, criou-se uma apoio especial (já ao abrigo do EMS - mecanismo estratégico europeu de estabilização - ou qualquer coisa assim) que, supostamente, só vigorará a partir do mês que vem. É assim, os grandes até mandam no tempo!
Os pequenos, os portugais, as grécias, as irlandas, esses, agora vêem dizer que também querem usufruir das mesmas condições que foram "impostas" às espanhas (a seguir vem a Itália e depois a França). Pois é, mas não os vi pedir indemnizações para o povo desses países, pelos danos já causados e pelas mortes (sim mortes! A queda da esperança média de vida e a taxa de mortalidade sénior em alta) provocadas pela sua política monetária extremista, inumana e insana.
Sabemos tão bem que o desenfrear das imposições aos PIG's (até porcos nos chamam) não terão reflexos nos nossos direitos! Sabemos tão bem que os reflexos serão apenas para o desafogar das empresas, do sector energético...
Bem, como vemos, ainda no domingo, levei um choque que poderia ser mortal, não estivesse já eu preparado para notícias tão más. Quer coração temos de ter, nestes dias.
Segunda de manhã cedo
Ainda mal refeito da descarga eléctrica da noite anterior, acordo ao som das palavras de uma comissário europeu (aquele Sueco de uma figa) que dizia que, afinal, também à Espanha tinham sido impostas condições. E quais? Ah...tinham-lhe imposto a aplicação do Pacto Orçamental! Que raio:
1. Mas esse pacto já não tinha sido aprovado pelos 26? (a Inglaterra ficou de fora! Quem pode, pode!)
2. Quando foi aprovado não era para ser aplicado por todos?
3. Será só para ser aplicado por alguns contra outros?
4. Será para a Alemanha e a França aplicarem aos PIG's?
Mas como eu dizia, tal comissário, dizia isto com tal convicção que também eu fiquei com uma convicção: Estes tipos mentem com muita convicção!
Estamos rodeados de uma classe politica no poder, que faz da mentira, da omissão, da confusão, da obscuridade, do mal entendido e da confusão, a baliza do seu discurso. O seu discurso não é balizado pela verdade, pela transparência, pela democracia, pela clareza e pelo conhecimento. O seu discurso e o seu "modus operandi" são determinados pela necessidade de impor medidas de salvaguarda dos poderosos, numa lógica de aprofundamento da luta de classes, do capital contra o trabalho, a tal luta de classes que estes senhores, nos últimos vinte anos, tantos e esforçaram por demonstrar que afinal, não existia.
Como sabemos, a verdade é como o azeite. Vem sempre ao de cima. Aqueles que diziam que a luta de classes já não existia, que já não era tempo dessas coisas, são, ao mesmo tempo, aqueles que mais comprovam a sua existência. E comprovam-na pela pior das razões, pela mentira, pela aldrabice pegada e pela necessidade constante de tirarem dos fracos para darem aos mais forte. Comprovam-na todos os dias, pela necessidade de, constantemente, mostrarem a cobardia de, ao menos, nos encararem e dizerem quem são e ao que vêem.
Estes senhores, demonstram a necessidade da nossa luta, quando, vestindo a pele de cordeiros, dizendo-se defensores da democracia e contra o radicalismo e a "extrema esquerda", fazem do "politicamente correcto", a força motriz do desengano. Fazem-nos confundir, "politicamente correcto" com "boa educação" e com "respeito pelos outros". O facto é que, o seu "politicamente correcto" mais não é do que o cinismo e a hipocrisia daqueles que, vendidos por dinheiro, poder ou aparecer, não têm a vontade, a coragem e a capacidade de, ao menos, mostrarem um pingo de carácter. Continuadamente, defendem os fortes dizendo que protegem os fracos. E fazem-nos porque são legitimados pelos fracos, mas são segurados pelos fortes. São os fortes que lhes asseguram que a sua mediocridade e a sua incompetência ainda por cima, dão prémio. Claro, não podem, nem querem, virar-se contra eles. Não seria "politicamente correcto"!
Podemos pedir a esta gente apenas um bocadito de seriedade?
Segunda, ao longo da manhã
A tortura sucede e subsequência-se de forma dolorosa. Afinal, parece que o governo, em 2011, procedeu à distribuição de mais de 9 milhões de Euros às ricas famílias da Tauromaquia. Gente pobrezita, coitadita (lembro que, na idade média, só os nobres podiam ser toureiros e montar a cavalo, os pobres só podia ser forcados).
"dia 21/03/2012 foi publicada no Diário da República a lista dos subsídios atribuídos pelo
IFAP no 2.º semestre de 2011, tal como se havia publicado a listagem relativa
ao 1.º semestre de 2011 no dia 26/09/...2011.
No ano de 2011 o IFAP atribuiu subsídios no valor de €9.823.004,34
às empresas e membros das famílias da tauromaquia".
Disto não se falou nos jornais. Os esbirros do capital...calaram-se bem caladinhos. Quase 10 milhões para torturar touros? 10 milhões para os proprietários de grandes explorações agrícolas e pecuárias que cobram milhões em bilhetes e transmissões televisivas! Depois disto podem ajudar o futebol! Ah...o futebol é de todos e a tourada é dos ricos? Com que então não há luta de classes! Até nisto!
Depois não há dinheiro para os alunos com dificuldades, para os reformados, para os funcionários públicos, para os hospitais...Mas para os toureiros...AH QUE GRANDES CORNUDOS QUE SOMOS!
Não abram os olhos que não é preciso!
P.s. O Rui Rio vem propor a suspensão das eleições nas autarquias que não tiverem as contas equilibradas. Deja Vu? Eu já tinha pensado nisto para o governo, por causa do déficit. Parece que vem de baixo, vem depressa e pelas mesmas razões!
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