Foi sempre assim!
Hoje, quando assistimos ao criminoso leilão em hasta
pública dos bens da nossa Res pública, é caso para perguntar…O que é que o
nosso povo aprendeu com a história? Com a sua história? O que resta dessa memória?
Será que, como se costuma dizer, a luta pelo progresso é, antes de
mais, uma luta contra o esquecimento? Uma luta contra a falta de memória?
Muitos são os exemplos de situações na nossa história
em que foram os mais ricos, os mais endinheirados e os que ocupavam os mais
altos cargos da nação (da administração ou não) que, reiteradamente, um após o
outro, não tiveram qualquer pejo em hipotecar o futuro, a soberania e a coesão
do nosso país.
Ora, em todo o caso, houve sempre um factor
fundamental que, antes como agora, impulsionou esse proxenetismo do
interesse nacional. E que factor foi esse? O factor em causa foi e é, o
endémico desfasamento entre as necessidades do povo (e consequentemente do país
por si constituído e que integra), as suas expectativas e ansiedades,
e as necessidades da classe que monopoliza a riqueza e que constitui
(obviamente) a menos representativa do nosso desconfigurado rectângulo. Isto é,
o problema foi sempre um problema “democrático”. Poucos a mandarem em muitos.
Poucos a governarem para poucos. Muitos a enriquecerem poucos...
Por outro lado, tem sido, esta inconformidade
democrática a legitimar a justiça da luta do povo contra esses interesses. E
boas notícias temos quando observamos que essa luta resultou sempre na
afirmação da vontade popular. Contudo, nem sempre é pacífica, essa afirmação.
Nem sempre definitiva, também. A tirania do mais forte sobre o mais forte é
algo de muito...animal. E nós também somos animais! Seremos capazes de ser mais
humanos do que somos animais?
Desta forma, não podemos admirar-nos quando olhamos
para o estádio actual das coisas e observamos que quem nos governa,
repetidamente desvia o dinheiro dos nossos impostos para a banca, para PPP’s,
para as EDP’s… Observamos também que, ao passo que se sobrecarrega o valor
do trabalho de ónus e encargos, liberta-se o capital de qualquer amarra que
implique a sua contribuição para o bem comum, ou que todos os actos de gestão
pública danosa morrem de morte natural sem autor identificado. Constatamos,
ainda, que se apoiam monopólios como a Galp e a EDP que praticam preços que são
verdadeiros assassinatos colectivos de PME’s. Isto tudo, no sector público do
poder. E no sector privado?
No privado observamos que a disparidade salarial
entre os trabalhadores e os cargos de direcção sobe a pique, qual montanha
russa que só tem subida. Tudo isto numa lógica de domínio de classe. A classe
burguesa e os seus acólitos versus classe trabalhadora. Constatamos a protecção
de paraísos fiscais que permitem lavar dinheiro e fugir aos impostos sonegando,
aos povos que ajudam a construir esses monopólios financeiros, seja pelo seu
trabalho ou pelo consumo, qualquer possibilidade de usufruto social de tais
poderes. Observamos a abertura e transmissão do nosso sistema de saúde, da
nossa educação, da segurança e até, das nossas estradas (construídas com o
dinheiro do nosso povo e dos povos da EU) aos interesses de magnata sem cara e
acima de tudo…sem coração. Não, não basta criar uma fundação que vive à conta
do Estado, para depois apagar todos os pecados cometidos contra o seu povo.
Na fundação da nossa nação, a alta nobreza e o alto
clero estavam com a mãe do nosso fundador, ao passo que a pequena nobreza e o
povo, estavam com o filho. Os mais ricos… Na crise dinástica de 1383, os
mais ricos estavam com Castela. Os povos das cidades, os artesãos e até
a burguesia, estavam com o Mestre de Avis. Após a morte de D.
Sebastião, foi o seu tio-avô, o Cardela D. Henrique, que sonegou ao Prior do
Crato a possibilidade de se afirmar como herdeiro e dando voz à alta nobreza da
altura (que havia recebido pagamentos e promessas de Castela) vendeu o país ao
inimigo. Nas invasões Francesas, a corte, os mais ricos, ao invés de
lutarem, fugiram para o Brasil. Nas revoluções liberais, a alta burguesia
estava do lado do absolutismo, ao passo que povo e a burguesia estavam pelos
liberais.
Salazar era apoiado pelo mais alto clero e por um
conjunto de famílias protegidas pelo regime e tremendamente ricas, que sempre
lutaram contra a revolução de Abril. Depois de muitas idas e vindas do Brasil,
alguns lá se conseguiram colaram à revolução (mais tarde até a chamaram de
"evolução"), pois só assim puderam encetar o processo contra-revolucionário
do qual hoje identificamos a matriz.
Isto para concluir que, as classes mais ricas e
endinheiradas acabam sempre por revelar dois traços identitários fundamentais
para a percepção da nossa história, passada e contemporânea, bem como para a
compreensão das suas politica:
Primeiro o seu forte sentido de classe. Essas pessoas
possuem e desenvolvem um fortíssimo sentido de classe social, ao abrigo do qual
tomam todas as suas decisões
Segundo, a necessidade absoluta e premente de
preservarem a fortuna e o poder que lhes conferem o estatuto e lhes justificam
a postura de classe
Não nos admiremos portanto, que estas pessoas, num
regime superficial, baseado numa pseudo-democracia sufragista, cujo escrutínio
democrático tentam reduzir à cruzinha de quatro em quatro anos, com o tempo,
ganhem o poder, pois podem pagar as campanhas mais agressivas e megalómanas,
tal como quando vendem os produtos das suas empresas.
Ganhando o poder, tentam preservá-lo a todo o custo.
Vendendo e vendendo-se, pois, para esta gente, o que mais importa é a riqueza,
a economia e o dinheiro e, nessa lógica, tudo se vende e tudo se compra. Até a
China lhes passa a ser simpática só porque trouxe dinheiro para a EDP. Tudo tem
a ver com dinheiro, tudo tem a ver com a sua preservação e acumulação. Só quem
o tem nessa quantidade o coloca à frente de tudo o resto.
Isto tudo para dizer que, mais uma vez, é o povo que
vai ter de tomar as rédeas do seu destino, porque se continuar sob o efeito da
anestesia de conflito de classe que esta gente desenvolveu e aplicou…o que
vamos ter é um aprofundamento da ditadura "burgocratica" e dos
seus protectores.
Isto sempre foi assim…porque insistem eles em dizer
que não? Em dizer-nos que estão preocupados connosco? Porque insistem eles em
dizer que querem o melhor para o país? Quando a história prova que, em nenhum
momento, em NENHUM, o fizeram! Como costumo dizer, as pessoas de então, de há
50, 100, 500 anos, era pessoas geneticamente iguaizinhas a nós. As diferenças?
O polimento que a luta do povo lhes obrigou a aplicar na sua máscara.
Porque insistimos nós em não nos livrarmos das
amarras do pensamento único Ultra-Liberal e dedicarmo-nos à democracia, à
participação e à afirmação da nossa humanidade? Quando dizemos que já chegou a
hora…é porque ela já passou! Vejam os danos que o sectarismo ideológico destas
pessoas já nos causou! Nós também somos uma classe. Somos a classe que tem
sempre razão, porque somos o povo. O povo tem sempre razão, é assim a
democracia!
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