Liberdade/igualdade - uma equação difícil?

Um dos maiores dilemas das sociedades democráticas é o seguinte: Como e quando atingimos o justo equilíbrio entre liberdade e igualdade?

Se por um lado, a democracia não sobrevive sem liberdade, individual e colectiva, pois sem ela, a nossa opinião, postura, opções, expressões, pensamentos e acções poderiam, inevitavelmente, entrar no domínio do delito, por outro lado, sem igualdade, também não se garantem um conjunto, fundamental e essencial, de oportunidades que, a não existirem, impedem o pleno exercício da liberdade individual e, numa outra fase, colectiva.

De que me vale ter muita liberdade de acção se, estiver dependente de alguém por razões de subsistência? De que me vale ter muita liberdade de acção se, por não ter educação, desconhecer as oportunidades que a sociedade me proporciona? De que me vale poder emitir a minha opinião livremente se dependo de alguém que não me permite exprimi-la? De que me vale ter liberdade e escolher os meus tratamentos de saúde se, os hospitais forem todos caríssimos e só me sobra dinheiro para ir aos maus? De que me vale ter liberdade de escolher as melhores escolas se, por não ter dinheiro ou, por o estado não assumir as suas obrigações colectivas, não me for possível outra solução que a de não estudar?

Como podemos ver, facilmente podemos constatar que, sem determinadas condições garantísticas de igualdade de oportunidade, faltar-nos-ão as condições básicas de exercício da mesma. Ou seja, liberdade sem igualdade, seria como termos um automóvel sem gasolina ou...um país muito bonito e bom, mas sem governo.

Por outro lado, também não pode ser tudo igualdade, ao ponto de entrarmos no igualitarismo e na sua uniformização. Tal provocaria o final da diversidade, da pluralidade e da...liberdade. Se a liberdade não funciona sem a igualdade, a igualdade também não funcionaria sem a liberdade. E é aqui que entramos numa equação complexa, a qual só a democracia pode resolver.

E é aqui que entronca o nosso problema colectivo. Temos um governo que acha que a liberdade é mais importante que a democracia. Mas, o problema é que, é através da democracia que se equilibra a equação entre liberdade/igualdade (qual o peso de uma e de outra em cada momento). Ora, para o governo (leia-se: governos), a sua liberdade de mentir descaradamente, a liberdade de provocar problemas sociais que afectam uma liberdade em igualdade de circunstâncias para todos, a liberdade de transferir dinheiro dos pobres para os ricos, a liberdade de dar liberdade aos ricos para serem mais ricos à conta dos pobres, para este governo (leia-se: governos), a liberdade é mais importante do que a democracia. Sabem porquê, porque a democracia assenta, primeiro que tudo, em conceitos de igualdade, na igualdade entre todos, o que, por assim ser, legitima uma igual liberdade para todos. Portanto, na equação, a igualdade teria sempre de vir primeiro. Mas há um problema...este governo é liberal. E isso é diferente de se ser democrático. Já verão porquê.

Contudo, será que, mesmo teoricamente, há alguma liberdade que não tenha um fundo democrático?

Haver há. Mas não para todos. O que fere de morte qualquer ideia democrática. E é aqui que falha a legitimidade democrática deste governo e deste sistema. É que, quando esta gente acredita que a sua liberdade é o mais importante, mais importante do que a liberdade dos demais (essa liberdade que resulta do estatuto de igualdade), sabem o que acontece? Acontece que, como governo burguês, num estado de natureza burguesa, a liberdade é acima de tudo económica. Os burgueses ficam com a liberdade de serem cada vez mais ricos. Ora, num estado assumidamente "capitalista", a liberdade compra-se com dinheiro, logo, os ricos são livres. E os pobres?

Os pobres, como não podem comprar com capital a liberdade de oportunidades que este pode conferir, resta-lhe apenas o igualitarismo a que os ricos os submetem, o de continuarem pobres, ou seja, como não podem comprar a liberdade, de decidir, de mandar no governo (porque a democracia não existe), de influenciar na comunicação social ou de se fazerem notar, resta-lhes apenas a liberdade de serem igualmente pobres. Isto porque falta o contrapeso que poderia impor a igualdade a uns e distribuir a liberdade pelos outros, ou seja, falta a democracia. Que tal conquistá-la já no dia 29? Afinal no dia 15 eles abanaram...ou não?

Também queremos a liberdade...

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