Autoflagelação

Este governo deve gostar mesmo muito da Troika. Será por paixão? Não, porque nesta troika não anda lá ninguém bonito e onde mete dinheiro, não se mete paixão. Afinal, se a troika é amiga...amigos, amigos...negócios à parte. Portanto, só podem ser os negócios a razão de tanta paixão pela troika. Afinal, já o governo disse várias vezes que queria criar em Portugal um bom ambiente de negócios. E quem diz de negócios, diz de negociata.

A verdade é que, seja por uma ou outra razão, e vindo de quem vem, essa razão não pode ser boa, a paixão, o bem querer, a atracção e o magnetismo deste governo pela troika é enorme. Da fase do menino bem comportado, que tudo fazia, obedecendo cegamente às ordens ditadas, este governo passou à atitude proactiva do amante que quer provocar um encontro forçado, parecendo que foi por acaso.

Conhecem aquela história do gajo que vai ao médico, e vendo que se tratava de uma médica, e que médica, pensou logo em como conseguir repetir aquela consulta mais vezes. E então, passou, ele próprio a garantir que estava permanentemente doente.

Ora, este governo já está num estado tal de perdição amorosa que, faz o mesmo com o país. Senão vejamos:

1. Desce a TSU às empresas para as libertar de custos, mas sobe-a aos trabalhadores que, com menos salário deixam de consumir os bens das empresas o que, lhes torna todo e qualquer custo (alto ou baixo) insuportável. Que auto-facada tão bem dada na nossa economia!

2. O Ministro das finanças diz que quer combater o desemprego e então, como acha que o caminho é conter a despesa do estado, impede a abertura de novos cursos ao IEFP, colocando milhares de formadores no desemprego. Conclusão, tem de pagar mais subsídios de desemprego, para além de ter de manter o IEFP a funcionar mas, sem fazer nada. Combate desemprego com mais desemprego ainda e contém despesa, aumentando a despesa. Beber veneno não daria melhor efeito!

3. Diz que em Portugal há muito desemprego e é preciso segurar o emprego que existe, mas altera o código do trabalho facilitando os despedimentos. Que g'anda cabeçada!

Enfim, poderíamos continuar por ai fora o manancial de autoflagelação que me leva a dizer que o governo quer tanto a troika que, com medo que ela se vá embora, trata de boicotar a sua própria acção. Cria as medidas e as contra-medidas.

É um problema de dinheiro, dizem, há negócios e esquemas em funcionamento que justificam a paixão em causa. Mas...não será também incompetência?

Até quando vamos continuar a assistir a isto?

1 comentários:

Anónimo disse...

Auto-flagelação, masoquista, ou narcisista chamem o que quiser o que eu sei, e sinto na pele, é que todos dias, sou um fale-geado de injustiça.
Auto-flagelação é lutar todos os dias e assistir inglóriamente que no final do dia perdemos, tempo, esforço,dignidade em querer que outros se junte a nossa luta,ou lutarem nosso lado cuja indiferença e insensibilidade de nada ter haver com actual destruição. Ficamos mais pobres, oprimidos, e cabisbaixos. Mas como pau torto nunca mais se endireita sendo eu masoquista obrigado e sem rumo para outro caminho, lá volto eu a mais do mesmo, desempregado, teso sem acesso quaisqueres recursos. Mas fica-me o previlegio de me chamar-me Narcisita, de querer ver só a mim mesmo e os meus problemas, como estes não fossem comuns a maioria dos Portugueses. Dizem-me que tenho que ter mais fé, se calhar têm razão, quando vejo nos dias 13 de cada mês 100 mil pessoas em Fátima pedirem por um milagre e 10 mil numa manifestação as portas de são Bento gritarem ordens de voz surdinas a indiferentes deputados. (Vozes de burro não chegam ao céu nem são Bento). Auto-flagelação não é governo, somos nós, povo.

António Nobre