Os partidos do sistema acreditam que foram escolhidos e
formados com uma boa intenção, com uma intenção humanista e democratizante. Afinal,
foi tudo ao contrário! Só que, quanto mais tempo demorarem a reconhecer e a
assumir essa “malformação congénita”, como em qualquer doença, mais tempo vão propagar
os seus efeitos. Efeitos nefastos para os povos, diga-se. Efeitos de legitimação
da exploração, do capitalismo, do liberalismo, do imperialismo, agravados pelo
perpetuar da farsa de que a sua intenção é a contrária. O resultado? O
resultado é a subida da extrema direita, também ela uma resposta do capitalismo
a uma necessidade concreta.
A culpa é do discurso, não da prática politica
Hollande, questionado pelos jornalistas sobre as notícias
que atribuem favoritismo, nas próximas eleições presenciais francesas, à Frente
Nacional de Marie le Pen, respondeu, entre outras palavras, que “o discurso tem
de mudar”.
O discurso? Mais discurso do que aquele que Hollande assumiu
aquando da sua eleição? É esse discurso que tem de mudar?
Perante
o perigo real, cada vez mais evidente, de a extrema direita tomar conta de um
país como França, Holande, reeleito como “socializador da Europa”, “contendor”
dos Alemães e “afrontador” da política austeritária e ultra liberal da Merkel,
vem apontar o “discurso” como o culpado da falência da “social democracia”.
Hollande
não culpa as falsas promessas de trazer mais justiça social, limitar a politica
austeritária de Merkel, frustradas por uma prática governamental, no essencial,
igual à do seu antecessor, Sarkozy.
Holande,
perante a frustração dos eleitores, sentindo-se enganados por votarem em alguém
que, a meio do mandato já se assumia como “social-democrata” e não como “socialista”,
culpa o discurso assumido.
Mas,
não terá sido o discurso assumido por Holande, aliado a uma esperança de
mudança por parte dos eleitores, e que tal discurso deixava antever, que lhe
granjeou tão grande vitória. Então, mas porque culpar o discurso, Sr. Holande?
Algumas
respostas poderiam antever-se:
1.º Holande
e a “social democracia” Francesa é incapaz de reconhecer, talvez por falta de
espelho, que a sua prática, no fundamental, é tão pró capitalista e pró liberal
como a dos partidos que se assumem como sendo liberais, conservadores, etc.;
2.º
Holande e a “social democracia” Francesa continuam a achar que as operações cosméticas
que trazem à governação e que, no limite, são as únicas diferenças para os
governos assumidamente mais conservadores, são suficientes para enganar os
papalvos e para estabelecer uma diferença vísivel, entre os que chamam de “esquerda
moderada” e a direita;
3.º Holande sabia muito bem ao que ia e culpa o discurso,
porque a sua intenção é a de assumir um discurso ainda mais “demagógico” e “populista”,
porque atribui a escolha da Frente Nacional, não à frustração, à confusão e à
desilusão que, as suas falsas promessas causaram, mas ao discurso que Marie Le
Pen assume.
Para a esquerda “moderada” a sua prática governativa é
a melhor possível Até ensinam e aprendem todos no mesmo sítio!
Isto significa que, nas hostes partidárias de esquerda “moderada”,
não subsiste qualquer intenção de mudar as práticas, de reconhecer a
necessidade de mudança efectiva… Estes meninos, bem instalados nos cadeirões do
sistema, já nem conseguem, nem querem, sequer, pensar em fazer algo de
diferente. Para quê? Estão tão bem instalados!
Por cá, mais do mesmo.
Vitorino,
assumido figurão do Partido “Socialista”, foi até convidado para a universidade
de verão do PSD. Apoiante de quem? De Costa!
Por
sua vez, Costa, estende a mão a Tavares que, sentindo-se já em processo de
instalação nos cadeirões do sistema, até convidado foi para a Universidade de
Verão do PSD. Ou seja, o sistema aposta numa figura que, mais uma vez, assume
uma pele “esquerdelha” com núcleo “social democrata”, o que, nos tempos que
correm, quer dizer “liberal”.
A bênção do Bilderberg à esquerda “moderada”.
Ah!
Costa e Rio foram, os dois, à última reunião do Grupo Bilderberg. Para quem não
sabe, o grupo Bilderberg, é um grupo constituído pelos mais proeminentes figurões
do sistema, que vão da Banca, às grandes Multinacionais, comunicação Social e
partidos políticos do “arco” da Governação. Só para terem uma ideia da influência
deste grupo mafioso, os Primeiro Ministro de Portugal desde Cavaco, foram todos
“lavados” e “vestidos” em reuniões do Bilderberg. Pinto Balsemão, ele próprio
ex-governante, é o representante do grupo em Portugal. Supostamente isto é tudo
secreto, mas a Internet…
Estará
o capitalismo assustado com a extrema-direita, ao ponto de sentir a necessidade
de mudança política? Não. Afinal o fascismo é uma resposta do capitalismo a um
determinado estado de coisas. O fascismo é a resposta brutal de um sistema
capitalista quando se vê em perigo, daí que, não haja um único regime fascista
que possam apontar que não seja capitalista e não tenha as suas bases num exército
bem preparado e numa elite económica favorecida.
De
quem o capitalismo tem medo é de outra gente. De gente que eles sabem que não
compactua com a injustiça que funda a própria ideia de capitalismo. A ideia de “acumulação”
de riqueza.
Os
travões do progresso
E os
Partidos Socialistas, neste quadro, vivem aquilo a que eu chamo de “síndroma”
da identidade não assumida. O que é o síndroma da identidade não assumida?
Sempre
que foi necessário estancar o avanço das forças progressistas, o capital
encontrou figuras e organizações, cujo papel foi confundir, desviar e
enfraquecer os movimentos sociais legítimos, de base popular e que dão corpo ao
movimento progressista.
Se,
no plano sindical, foi necessário ao capitalismo criar centrais sindicais que
dividissem os trabalhadores, aparente sob a capa de maior “democraticidade”
sindical. E aqui as UGT’s deste mundo fizeram e assumiram o seu papel,
convencendo-se até, que a sua existência era legitimada pelo povo (quando
afinal foram criadas pelo sistema e pelo poder governante).
No
quadro partidário foram os “trabalhistas” e os “socialistas”, assumidos como “moderados”
e “democratas” que foram os escolhidos para assumirem o papel histórico de
travarem os movimentos progressistas revolucionários e assim impedirem a
transformação social e a consequente supressão do capitalismo.
A
síndroma destes grupos está em acreditarem que foram escolhidos e formados com
uma boa intenção, com uma intenção humanista e democratizante e, afinal, foi
tudo ao contrário. Quanto mais tempo demorarem a reconhecer e a assumir esse
sindroma, como em qualquer doença, mais tempo vão andar a propagar os seus
efeitos. Efeitos nefastos para os povos, diga-se. Efeitos de legitimação da
exploração, do capitalismo, do liberalismo, do imperialismo, agravados pelo
perpetuar da farsa de que a sua intenção é a contrária.
O
esgotamento do papel histórico dos partidos do chamado “centro esquerda”
Ora,
o papel histórico atribuído à social-democracia esgotou-se com o fim do bloco
socialista. Afinal, a “ameaça” deixou de existir e a necessidade de farsa
deixou de se fazer sentir.
Eis que, passou a assumir-se na cara de que o Estado é “muito
grande”, que a economia deve ser toda privada, que a segurança social, a saúde
e a educação devem ser abertas à iniciativa privada…
Nalguns
casos até se tenta a ilegalização dos Partidos Comunistas (afinal o sistema não
se esquece onde está o perigo) e até se defende (como já ouvi ao “socialista” Luís
Amado) que o PREC foi um retrocesso para o país.
Isto
também quer dizer que esta confusão identitária não os afecta a todos da mesma
maneira. Afinal os Vitorinos, Amados e Pina Mouras, não sentem esse problema,
assumindo-se à partida, como o que são.
Aos
restantes, só lhes restam dois destinos:
- O
do desaparecimento futuro por esgotamento da função histórica (ver o Partido
Socialista Grego, o Espanhol e agora o Francês…)
- O
da assunção da verdadeira identidade, fundindo-se ao centro com os partidos
liberais e “sociais democratas”, criando blocos centrais monopolistas dos
sistemas partidários (ver Inglaterra, EUA…)
Seja como for, em virtude do usufruto de um poder absoluto,
o sistema tem caminhado para um sistema “mono-partidário”, com duas alas
governativas que criam a ideia de alternância. Alterna-se sem nada mudar.
Então e os partidos progressistas, libertários, revolucionários?
Para esses, a garantia de futuro é precisamente a que reside no facto de “historicamente”
o seu papel não estar esgotado.
Á medida que o sistema capitalista e imperialista caminhar
para o monopartidarismo, para a autocracia, e para o monopolismo dos sistema
político, maior e mais necessária será a existência de partidos que constituam
uma mudança real e não “farsola”.
E esta é a sua garantia de futuro. A garantia de que o mundo
muda sempre e que no final, dialecticamente, após todas as contradições, avança
sempre. É para isso que nós cá estamos, para acelerar esse processo. E esse
processo nunca estará esgotado. É a lei da natureza, é a lei da vida!
Na natureza tudo está sempre em mudança. Portanto, os
partidos do centro é que são os partidos artificiais, porque, por serem
situacionistas, não comportam em si (nem podem) a ideia de mudança.
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