
Cada vez me enoja mais, a "fraude" humanitária que é, a "industria da caridade". Hoje em dia, observamos toda uma panóplia de "apoios" caridosos, prestados por uma enormidade de associações, fundações, ong's, IPSS... Desde as bombas de gasolina, aos hipermercados, passando pelos centros comerciais, pelas ruas, pelos mercados e lojas, entram-nos pelos olhos (e pelo bolso) as imagens difusas de gente "voluntária" disposta a prestar a sua "ajuda" aos "pobres".
Compreendo que muita desta gente esteja de "corpo e alma" em projectos desta natureza, certos de que estão a dar a melhor das contribuições ao seu país. Compreendo, também, que os "pobres", em estado de necessidade, não se preocupem com "ideologias" e pretendam, acima de tudo, aplacar a sua fome de bens de toda a espécie. Não renego, também, a ideia de uma certa "honestidade" de muitas das pessoas envolvidas nesta industria.
Mas há coisas que enraivecem de forma profunda quando analiso tudo isto com racionalidade, lógica e acima de tudo, com fraternidade e humanidade...
Não percebo como é que é possível ver as Senhoras Arnaut, Jeunet, Balsemão e outras que tais, que pertencendo à classe dominante, a classe que explora, concentra e suga a riqueza produzida por outros, depois venha, numa espécie de catarse psicológica, utilizar a "caridade" como a indulgência a pagar por uma existência caracterizada por opções pessoais, políticas, morais e éticas, que mais não fazem do que perpetuar a desgraça alheia.
Não percebo como é que aqueles que são responsáveis pelos poderes de políticos que depauperam o estado (que é de todos), que cortam na "despesa" social, que desqualificam a educação pública, que destroem o serviço nacional de saúde, que protegem os credores da divida pública, depois venham, colocar na industria da caridade a resolução dos males da pobreza.
Não percebo como é que, diminuindo e exterminando os instrumentos de redistribuição da riqueza, destruindo a segurança social, despedindo funcionários públicos em catadupa, precarizando a leis laborais, ajudando bancos em vez de famílias, venham depois colocar nas cantinas sociais o ónus da minimização do impacto da pobreza que produzem!

O "ajudar" os "pobres" não é mais do que um subproduto de uma sociedade paternalista, elitista e divisionista. O ser "caridoso" com os "pobres" mais não é do que um sentimento, religiosamente enraizado que, mantendo os ricos, perpetua os pobres.
Os "pobres" não são mais do que cidadãos, de pleno corpo que precisam de dignidade. Que precisam de um estado que, garantindo oportunidades e direitos, justiça social e igualdade, não os obrigue à indignidade de terem de pedir. Ter de pedir para sobreviver é a pior indignidade a que alguém pode submeter um cidadão num sistema que se diz democrático.
Lutar por políticas sociais que os tirem da pobreza, isso sim, seria ajudar os pobres!
P.S. No Mcdonals, quando ia pagar, perguntaram-me se dava 20 cêntimos para a "luta" contra a fome! O Mcdonalds pede-me o dinheiro e depois dá o cheque ao Banco Alimentar.... O McDonalds, dano o "meu" dinheiro, aparece na fotografia como "lutando" contra a fome. não era mais fácil, pagar salários melhores, proporcionar um trabalho digno, não fugir aos impostos, distribuir os seus lucros, combater a especulação financeira.... Que raio de luta é esta que quem causa a fome, vem depois combatê-la?
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