Vamos Hibernar
Mas, o mais interessante da notícia foi a declaração do cientista responsável do projecto, o Dr.Mark Roth. Este afirmou que este estado é passível de ser induzido a qualquer mamífero, sim, a qualquer um, incluindo o ser humano.
Uma notícia interessante que registei no início desta semana e que me deu logo vontade de a aplicar, foi o facto de na revista de ciências Science Magazine ter sido publicado um artigo sobre a indução de um estado de hibernação num pequeno roedor.
Através da utilização de um gás como o sulfito de hidrogénio, foi possível reduzir a temperatura do sangue dos ratinhos até aos 5 graus centígrados. Esta redução fez com que estes mamíferos entrassem num estado de hibernação induzida em tudo semelhante ao estado de hibernação dos mamíferos que o fazem naturalmente.
Mas, o mais interessante da notícia foi a declaração do cientista responsável do projecto, o Dr.Mark Roth. Este afirmou que este estado é passível de ser induzido a qualquer mamífero, sim, a qualquer um, incluindo o ser humano.
E é aqui que a notícia ganha ainda mais interesse. Para que é que um ser humano precisa de hibernar? O Dr. Mark Roth adiantou algumas aplicações desta tecnologia:
• Em viagens longas, como a Marte, em que as pessoas vão a dormir, sem necessidade de alimentação e oxigénio, acordando quando lá chegam.
• Para o tratamento de variadas doenças, como o AVC, pois pode parar-se o organismo e tratar o problema
• Para tratamento de doenças como o cancro, pois ao reduzir a dependência de oxigénio das células normais, estas ficam menos vulneráveis à radiação química.
Mas estas são aplicações médicas e científicas. Sem me querer colocar ao nível deste eminente cientista, também eu, num plano mais social, tenho algumas propostas para utilização da hibernação induzida nos seres humanos:
• Quando não temos dinheiro para comer, resolve-se o problema da fome com a indução da hibernação. Tipo, estou com fome, vou mas é hibernar, assim não preciso de gastar dinheiro em comer.
• Quando os nossos filhos estão muito chatos no fim de um dia de trabalho, pomo-los a…hibernar. Pelo menos não são intoxicados pela televisão, PSP’s etc.
• Quando atravessamos um período de crise como este, em que tudo nos revolta e não sabemos como sair desta agonia…hibernamos. Pode ser que quando acordemos as coisas estejam melhores. Claro que neste país, se calhar, ficaríamos a hibernar para sempre.
• É preciso ter cuidado com os patrões, pois em vez de recorrerem ao Lay-off ainda introduzem uma alteração na lei laboral, para colocar os trabalhadores a hibernar. Para eles tem a vantagem de não terem de lhes pagar seja o que for durante esse período.
• Já os sindicatos passariam a reivindicar a inclusão nas faltas justificadas, do estado de hibernação. Até para o emprego era bom. Pois, metade da população activa hibernava enquanto a outra trabalhava.
• Quando estamos fartos do nosso chefe que passa a vida a chatear-nos a cabeça, colocamo-lo a hibernar. Com a vantagem de nunca mais o acordarmos, claro está!
• Quando a nossa mulher nos chateia muito a cabeça…hibernamos. E depois esquecemo-nos de acordar.
• Temos de emagrecer? Vamos hibernar. Olha se a industria da moda se lembra disto?
Portanto, estão a ver que estas são apenas algumas das aplicações possíveis para a hibernação, mas cada uma poderia utilizá-la para o que quisesse, para descansar, fugir, desaparecer, esconder-se, era um espectáculo. Quando perguntávamos por alguém, teríamos de adicionar o estado de hibernação a todos os outros possíveis. Então onde é que está o Manuel? Foi hibernar.
Ah..., com a vantagem de podermos hibernar fora do Inverno, passaríamos a veranear, Outonear ou Primaverear. Era só escolher a altura e deixar a mensagem no telemóvel ou no e-mail: “Estou em estado de hibernação até o dia 15, deixe mensagem que quando acordar…se acordar…contactá-lo-ei”.
Agora vejam as vantagens disto. Se houvesse uma escala de hibernação para cada indivíduo resolviam-se uma carrada de problemas civilizacionais. O do emprego, pois os que estavam acordados substituíam os que estavam a hibernar. Com este estado de hibernação colectiva o trânsito melhorava, o ambiente agradecia. O ser humano vivia mais tempo porque se desgastava menos, a segurança social só pagava a reforma sobre o tempo em que estávamos acordados, os patrões tinham que distribuir ainda menos, pois só precisavam de pagar salários a metade dos trabalhadores de cada vez, havia menos bandidagem, porque metade estavam a hibernar, eram necessárias menos escolas, menos hospitais etc. Já viram bem? Era um mundo de vantagens. Mas a vantagem maior de todas é que apenas era necessária metade dos políticos! Já viram o que se poupava no Orçamento de Estado?
Já sei! É na hibernação que está o futuro do nosso país. Assim poderemos atingir alguns dos elevados índices de desenvolvimento da Europa. Temos muita corrupção? Colocam-se metade dos políticos a hibernar e a taxa de corrupção desce para metade. Há muitos acidentes rodoviários? Se metade da população estiver a hibernar, só teremos metade. Há muitos acidentes de trabalho? Se só trabalharem metade….Há muito desemprego? Metem-se os desempregados a hibernar. O rendimento per capita é mais baixo? Metem-se a hibernar os que ganham menos. Temos uma taxa de qualificações mais baixa que os outros países. Metem-se a hibernar os mais desqualificados. Já viram se o governo se lembra de uma coisa destas? Para cumprir promessas eleitorais não há do melhor. Também só haveriam metade das promessas. Só haviam metade dos políticos.
Mas a Constituição passava a ter no seu primeiro artigo: “A Republica Portuguesa é soberana, baseia a sua existência na democracia, na igualdade e na obrigatoriedade do cumprimento do dever de hibernação com vista ao progresso social dos nossos cidadãos”.
Ah! Isto é que ia ser um país desenvolvido. Sempre em primeiro nos índices todos. Qual avestruz de cabeça na areia. Não é que às vezes não estejamos em estado de hibernação, pois alguém me consegue explicar que evolução teve este país nos últimos anos? Não teve? Se calhar a hibernação já começou. Lá que o Português gosta de se esconder, lá isso gosta. Hibernar vinha mesmo a calhar.
Não me digam que não vos apetecia hibernar um bocadinho?
Hugo Dionísio