Enquanto
ouvia Cavaco Silva dizendo na sua conhecida voz de cana rachada: “Portugal tem
hoje uma economia sustentável e em plena recuperação”; ouvia, o ministro da
Presidência Marques Guedes, na sua implacável e infindável capacidade
mistificadora, justificando: “o PIB recuou 0,7% no primeiro trimestre de 2014
devido ao encerramento da Autoeuropa e da refinaria da Petrogal em Sines”.
Isto
tudo, depois de, recentemente, a oposição “radical” de esquerda ter referido
que o “abençoado” milagre das exportações se resume a um aumento das vendas de
hidrocarbonetos. Todo ofendido, Passo Coelho, contestou a opinião infundada do
partido em questão.
O
que é verdade hoje…
Algo
de anormal para este governo? Assumir como verdade algo que amanhã, ele próprio
se empenha em desmentir? Não, não é nada de anormal. É pura estratégia política
de comunicação. E é isto que ainda ninguém conseguiu desmontar. Neste aspecto,
este governo, que se mostra tão absurdamente incompetente e incoerente no que
respeita ao seu trabalho, mostra-se infinitamente sabedor e conhecedor dos
tiques culturais da comunicação social aqui do canto.
À
falta de investimento e empenhamento em estratégias que desviem o país deste
animado passeio para o abismo, este governo aposta tudo, num suado esforço de
sobrevivência, na estratégia de comunicação.
Depois
de aumentar o IVA em 0,20%, Passos dizia “conseguimos (…), sem aumentar os
impostos”.
Todos
conhecemos aquele princípio de que entre a notícia e o desmentido, a primeira é
a mais falada, e a mais importante. Ou seja, se hoje noticiarmos uma mentira,
esta terá um impacto infinitamente maior do que o seu desmentido. É psicologia
da comunicação. Por muito que nos esforcemos por desmenti-la e, mesmo colocando
a hipótese – meramente teórica -, de que o tempo de antena do desmentido seria
maior do que o tempo de antena da noticia, a verdade é que a primeira teria
sempre mais impacto. Porquê?
Os
Portugueses têm mais férias que os Alemães!
1.º
Porque o que gera apreensão, estupefacção, surpresa, choque, etc., é a notícia.
É a primeira vez que se ouve falar daquilo e as nossas defesas e barreiras
mentais estão em baixo. Logo, tendemos a deixar entrar a informação, explícita
e implícita, de forma inadvertida, porque não sabemos ao que vem.
2.º
Porque o que causa trauma, transtorno e uma mutação na nossa forma de pensar
também é a notícia. Coma notícia, criamos, recriamos ou compomos todas as
barreiras face ao tema.
Se a
notícia nos agrediu a forma de pensar, pesquisamos e procuramos o desmentido.
Mas se a noticia se encaixa no nosso padrão mental, ou naquilo que, mesmo
indirecta e inconscientemente, queremos ouvir, temos tendência a desvalorizar
ou mesmo a não constatar a existência de um desmentido.
“Posso
assegurar que não estão previstos mais aumentos de impostos”!
É
assim que o governo opera. Manda a bordoada e fica à espera dos desmentidos,
sabendo que o efeito mediático inicial está cumprido. Mesmo que alguém, numa
fase posterior, valorize o desmentido, já só serão os que estarão sempre, de
qualquer forma, na oposição.
Portanto,
não sei como é contínua a admiração de todos com a imensa capacidade para
mentir descaradamente, quando a atitude em causa é propositada, premeditada e
assente na lógica da “areia para os olhos do adversário”, esperando assim,
confundi-lo, entontecê-lo, para depois lhe dar a machadada.
“A
culpa do endividamento é do despesismo com o estado social, andámos todos a
gastar demais”!
Daí
que esta reflexão suscite na minha alma (seja lá o que for) duas singelas
considerações.
- Neste caso o adversário não é apenas a oposição, é o próprio povo. Este governo cospe na legitimidade democrática, confundindo o povo para depois o enganar, desenvolvendo as politicas ruinosas que todos conhecemos.
- Como é que a oposição ainda não conseguiu arranjar o antídoto para este veneno? Como é que do ponto de vista comunicacional se destrói esta estratégia sem fazer, o que está a fazer seguro, que é… Fazer o mesmo que estes! Prometer o que sabe não ir cumprir.
Ao jeito Goebbels: “uma mentira repetida vezes sem conta,
passa aser verdade”. Não está o fascismo de volta em toda a Europa?
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