A
história é dos vencedores? Certo! Mas, hoje em dia, podemos observar um novo
fenómeno. É que, continuando os vencedores, na sua missão de estabelecimento
para a posteridade, das suas “verdades” históricas, é curioso que, cada vez
mais, surgem canais independentes de comunicação, relato e registo de factos,
acontecimentos e conhecimentos. Assim, assistimos hoje em dia a uma
bi-polarização das verdades históricas assumidas. Isto, ao mesmo tempo, que o poder absoluto corrompe absolutamente um sistema unipolar, cada vez mais autoritário e inflexível.
Temos,
por um lado, as verdades impostas pelos mais fortes, utilizando, para o efeito,
os canais comunicacionais corporativos e da “mainstream” media. A utilização
que os poderes políticos unipolares actuais, fazem destes meios de comunicação,
é a mesma que as ditaduras faziam dos seus departamentos de propaganda.
Objectivos
sistémicos comuns, dependências económicas e financeiras comuns, levam a estratégias
de domínio comuns. Daí o encontro entre o poder político dominante e os poderes
económicos que dominam o poder político. É daqui que surge o termo “comunicação
social de referência”, de referência para o sistema, para quem vive dele, para
ele e com ele.
Por
outro lado, temos, e aí temos de agradecer à Internet, uma comunicação
realmente “social”, cada vez maior. O cidadão comum passou a ter o poder de
divulgar a sua versão. Qualquer um coloca um vídeo ou uma foto dos
acontecimentos. A massificação da informação permite o surgimento de canais
comunicacionais independentes do sistema dominante, o que promove o surgimento
de outras perspectivas, alternativas, às da comunicação social de “referência”.
Isto
quer dizer que, hoje em dia, podemos diversificar as fontes de informação e,
assim, construir a nossa opinião de forma muito mais fundamentada. Assim, a
verdade histórica, deixa de ser só uma só, correspondendo à versão dominante, para passar a
ser o resultado de todas as perspectivas relatadas.
Isto
quer dizer que podemos confiar em tudo? Obviamente que não. Tal como a comunicação
de “referência” também diz algumas verdades, também a comunicação “alternativa”
diz algumas mentiras. E depois, tal como
temos o jornal “I”, o Diabo, e o Correio da Manhã, também temos deste sensacionalismo na comunicação alternativa. Mas, cada um é que tem de ver que
tipo de jornalismo prefere. O mais importante é que há escolha e não estamos confinados
à versão “oficial” dos vencedores. E isso é o mais importante.
Exemplos de informações de "referência"
Alguns
exemplos:
- Um dos factos cuja história está ainda por contar de forma científica, comparativa e desinteressada, é a história da URSS.
O
impacto do fim da URSS foi, precisamente o contrário, daquilo que foi
propagandeado. Foi um tal de “a ditadura acabou”, “os “muros” acabaram”, “estamos
na era de democracia e da liberdade”. Eis que deixo a pergunta: decorridos 24
anos, foi isto que sucedeu?
Estará
o mundo mais justo, mais livre, mais multipolar, mais equilibrado e livre de
ditaduras?
Sob
pena de voltar, mais tarde, a este assunto, apenas direi: com o fim da URSS não
foi é, apenas, o nosso estado social que está em dificuldades; estão em
dificuldades todos os movimentos progressistas, populares e libertários
mundiais, que eram apoiados pela URSS.
Ao
contrário da URSS que apenas apoiava movimentos de “esquerda”, revolucionários
e progressistas, no caso dos EUA, estes meninos jogam a mão a tudo o que é
reaccionário, ultra conservador, fascista, retrógrado e ultra liberal. Só
apoiam extrema direita. Não há um exemplo de um movimento revolucionário de
esquerda e libertário, apoiado pelos EUA. Nem um, e é por isso que, depois do
fim da URSS, não se poderia esperar por mais democracia. Porque a derrota da
URSS foi a derrota de todos os movimentos de esquerda socialista e, inclusive,
da própria social-democracia, substituída pelo neo-liberalismo. Isto, não
apaga, contudo, os erros e problemas que o bloco soviético tinha. Mas, esses
problemas eram problemas de índole humana, não de índole socialista. Se assim
fosse, os EUA só apoiavam movimentos democráticos, o que não é, como se sabe,
nem de perto nem de longe, verdade.
- O caso israelita é outro que tal. A convenção da ONU de 1947 criou o estado de Israel, em cima da Palestina. Atribuiu-lhe o direito a ocupar 55% do espaço.
Passados
todos estes anos, Israel ocupou mais de 85%, continuando a crescer, e
continuando a encarcerar, a céu aberto, os Palestinianos deslocados. Os
sucessivos governos Israelitas, governos de direita conservadora, pró
capitalistas e neo liberais, têm vindo, sucessivamente, a incumprir todas e
mais algumas resoluções da ONU (nenhum se iguala). Têm vindo a cometer os mais
bárbaros massacres e crimes contra a humanidade, despojam Palestinianos das
suas casas, vilas, aldeias e cidades. Impedem-nos de trabalhar e até o direito à
pátria lhe negam, mas, depois disto tudo a comunicação social de “referência”
aponta Israel como a vítima e os Palestinianos como os agressores.
Como
é possível aceitar que, depois de tudo o que foram despojados, nem uns míseros
foguetes possam mandar ao ar. Aliás, a comunicação social de “referência” até
transformou foguetes feitos em caso em “mísseis” do Hamas. Qualquer dia chama
bomba atómica a uma bomba de Carnaval.
- Outro exemplo, ainda, é o da Ucrânia e o que se passa com o avião abatido.
A
comunicação social de “referencia” apressou-se a apresentar uma versão em como teriam
sido os separatistas a abaterem o avião Malaio. Até referiram uma mensagem do
Twitter, na qual, o chefe da milícia se regozijava com o sucedido. Mais tarde,
descobriu-se, através e graças à comunicação social alternativa, que a mensagem
foi enviada de uma conta falsa, nãos e sabendo quem a teria forjado.
Desmentidos? Nem um.
No
dia seguinte, passava uma gravação de uma chamada telefónica na qual o chefe
separatista mandava esconder as caixas negras entretanto encontradas. Engraçado
é que, mais tarde revelou-se que a chamada era falsa, mas, desmentido, nem vê-lo.
Mais incongruente, ainda, foram os jornalistas de “referência” dizerem, durante
vários dias que os separatistas só entregariam as caixas a Putin. Na linha de
Obama, seriam os Russos os que queriam esconder qualquer coisa. A verdade,
verdadinha, é que, no final do dia, as caixas foram entregues, não aos
holandeses contratados por Kiev e aos quais a EU e EUA queriam que as caixas
fossem entregues (porque seria?), mas às autoridades Malaias, as donas das
mesmas. Faz todo o sentido, não faz? Para os EUA e a sua comunicação de “referência”,
não faz sentido nenhum.
Ou
seja, mentira após mentira, todas de acordo com o jogo dos EUA, todas
desmentidas pela realidade. Nenhum destas alminhas se pergunta (ou pelo menos não
o podem perguntar) porque é que:
a) O avião foi desviado da sua Rota, como vieram agora as autoridades
Malaias confirmar, tendo os controladores aéreos de KIEV alterado a rota e
mandado o piloto descer a sua altitude de 35.000 pés para os 33.000;
b) Porque é que, naquele local, se encontrava um SU-25 Ucraniano, equipado
com mísseis terra ar, detectado pelos satélites russos?
c) Porque é que a EU, os EUA e a
junta neo-nazi de Kiev estavam tão interessados que fossem os peritos
holandeses analisarem as caixas?
d) Porque é que os EUA, a EU e Kiev tanta pressão fizeram a Putin para
intervir e obrigar os separatistas a entregarem as caixas a uma comissão “independente”?
e) Porque é que os EUA não acompanharam o pedido de Putin para que fosse
criada uma comissão Internacional politicamente independente?
f)
Porque é que, se os satélites dos
EUA viram o rasto de fumo do Míssil, não conseguiram ver de onde veio?
g) Porque é que, os satélites dos EUA não viram um avião durante 5 horas
no pacífico e agora já vira o rasto de um míssil?
Como
sempre, a comunicação social de “referência” não pergunta nada disto.
Conclusão.
Desta exposição passo a concluir que a propaganda ocidental se está a afunilar
e a estereotipar. Cada vez as informações que chegam através dos órgãos de “referencia”
são mais alinhadas, menos críticas e menos consubstanciadas num trabalho jornalístico
de qualidade. Cada vez, passam mais “fait diver”, vindos da Reuters e de outras
agências noticiosas ocidentais, nas mãos do mesmo poder que determina, autoritária
e despoticamente, a vida e morte de milhões de cidadãos.
Para
estes não há culpa, responsabilidade criminal ou qualquer outra. Para estes só
há poder, fazer, intervir, determinar e anular toda a verdade que se impõe.
Pode concordar-se ou não com as diversas versões dos factos, mas que o regime
está a endurecer o seu discurso e a afiar as suas garras…
Poder
absoluto corrompe absolutamente.
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