Uma
população sem pátria, sujeita a recolher obrigatório, rodeada por um mar e por
um muro, sujeita a um embargo económico, privada de exercito para se defender,
privada de trabalho, dos mais básicos direitos humanos, espoliada das melhores
terras, das melhores reservas de água e de energia (agora ficaram sem central eléctrica)
… Jovens
e crianças sem futuro, sem liberdade, com as famílias presas, oprimidas,
refugiadas, deportadas ou mortas, sem qualquer perspectiva de vida e com um
sentimento de impotência enorme face ao opressor…
Num
quadro destes é de admirar que sejam as forças extremistas a ganhar terreno político?
Por acaso, a posição mais tolerante da Autoridade Palestiniana na Cisjordânia,
trouxe o tão ansiado respeito pela existência do estado Palestiniano? Trouxe o
fim à opressão Israelita?
Todo
este conflito Israelo-palestiniano – tragédia humana inominável – possui, pelo
menos, a virtude de trazer a lume os argumentos, de quem se assume como
defensor da violência perpetrada por Israel, contra os argumentos esgrimidos
pelos partidários da paz e da harmonia entre todos os povos.
E
notemos que, quando refiro “partidários da violência de Israel”, refiro-me também
a todos os que, sob uma falsa capa de “compreensão”, “moral superior” ou,
simplesmente “enquadramento histórico” ou “visão global”, são cúmplices inconfessados
(ou não) do esmagamento étnico a que temos vindo a assistir nos últimos dias.
E,
neste rol de “cúmplices inconfessados”, podemos incluir todos os que, por
identificação politico-partidária, religiosa, ideológica, ou, simplesmente, por
intolerância com tudo o que é diferente, toleram, aceitam, “compreendem”, a
atitude do governo Israelita.
Imaginem
que, até alguns que se dizem de “esquerda”, de um certo partido, o qual, um dos
candidatos a líder diz “pensa como a direita”, se têm vindo a assumir como
partidários da “causa” Israelita. Também estes são “cúmplices inconfessados”.
Os
argumentos, desde os mais radicais, aos mais farsantes, são diversos, mas
todos, todos, reflectem sempre o mesmo tipo de sintoma: complexo em relação ao
que é diferente.
Eis
alguns desses argumentos, acompanhados de uma exposição que revela a sua
contradição:
1.º
Israel é a única democracia do médio oriente, portanto, está mais próximo de nós
Este
ouvi-o ontem, na televisão, proferido por uma representante da comunidade
judaica em Portugal.
Bem
sei que Israel é uma democracia que expulsa deputados Muçulmanos do seu
parlamento, prende protestantes Israelitas anti-guerra, persegue jornalistas e
membros de ONG’s que estão contra a sua politica sionista, possui uma das mais
poderosas, torpes e insidiosas polícias políticas do mundo (a Mossad) e promove
o Apartheid racial dentro das suas fronteiras (não me refiro ao muro) entre os
judeus e os muçulmanos Israelitas.
Mas,
aparte estas “limitações” das democracias (para mim paradoxais), eu deixo uma
questão: mesmo que tudo à volta seja ditadura, desde quando é que a solução,
para um país civilizado e democrático, passa por fazer sofrer o povo, já de si
tiranizado, matando-o, privando-o das condições mais básicas de sobrevivência e
encerrando-o entre muros, numa prisão sobre-lotada a céu aberto? Alguém fica
mais pacifico depois de passar por uma prisão?
2.º
Israel é o país da região com um estilo de vida mais “Ocidental”!
Voltamos
à diferença, ao medo do que é diferente. Desde quando é que, por alguém ter um
estilo de vida diferente significa, para pessoas “civilizadas” e “democráticas”
que não tem direito às mesmas coisas?
3.º
Todos os árabes querem Israel fora do mapa!
Se
bem que seja questionável esta afirmação, porque não me parece que assim seja
(basta ver a Arábia Saudita, Jordânia, Egipto…), a verdade é que, se um país “civilizado”
e “democrático” se quer afirmar, nunca o poderá fazer, exclusivamente, pela
força.
Vejamos:
Israel tinha direito, pela convenção de 47, a 55% do território. Actualmente tem
mais de 85% e continua a crescer. Para além disso, durante a administração
Obama o número de colonatos cresceu 133%, rasgando o que resta do território Palestiniano
com autoestradas, postes eléctricos, condutas de água e outras infraestruturas.
Tudo
isto tem sido feito pela força, em incumprimento de todas as orientações da ONU
e do Direito Internacional, em geral. Todos estes colonatos implicam que os
Palestinianos, nesses locais, fiquem privados das suas casas, terras, etc.
E eu
pergunto: depois disto e depois de tudo o que sucedeu desde 47, como é que vocês
queriam que os Palestinianos vissem Israel? Como o estado providência?
4.º
Os árabes são todos terroristas e ditadores.
Bem,
quanto ao terrorismo, não podendo aceitá-lo como estratégia de combate, por ser
tão indiscriminado como os assaltos Israelitas (ou americanos) a escolas e a
hospitais, podemos, contudo, analisá-lo quanto à génese.
Uma
população sem pátria, sujeita a recolher obrigatório, rodeada por um mar e por
um muro, sujeita a um embargo económico, privada de exercito para se defender,
privada de trabalho, dos mais básicos direitos humanos, espoliada das melhores
terras, das melhores reservas de água e de energia (agora ficaram sem central eléctrica)
…
Jovens
e crianças sem futuro, sem liberdade, com as famílias presas, oprimidas,
refugiadas, deportadas ou mortas, sem qualquer perspectiva de vida e com um
sentimento de impotência enorme face ao opressor…
Num
quadro destes é de admirar que sejam as forças extremistas a ganhar terreno político?
Por acaso, a posição mais tolerante da Autoridade Palestiniana na Cisjordânia,
trouxe o tão ansiado respeito pela existência do estado Palestiniano? Trouxe o
fim à opressão Israelita?
Todos
os dias continuam a ser empurrados contra a Jordânia, sem que possam fazer nada
para o impedir, porque a maior força do mundo (Israel apoiado pelos EUA) incide
sobre um povo desarmado.
Pensem
numa Europa em crise económica, na qual os movimentos de extrema direita
começam a proliferar. Agora multipliquem isso por mil. É assim tão difícil de
se colocarem na perspectiva do outro lado?
5.º
Os árabes pensam que ao morrer vão para o céu para o lado de Allah.
Acreditar
que esta é a causa do terrorismo é o mesmo que branquear os crimes Israelitas só
porque eles são pró-ocidentais. Nem a maioria dos terroristas acredita nisso,
nem os que acreditam, são terroristas por causa disso. O terrorismo é a
resposta extrema do sentimento de impotência. Perante o desespero provocado
pela perda de tudo, o ataque torna-se indiscriminado. O inimigo passa a ser
visto como um todo.
Os
perigos da generalização também acontecem do lado Israelita ou Ocidental,
quando se chama terrorista a qualquer muçulmano (nos EUA, outro país cheio de “liberdade”,
os muçulmanos são todos escutados e seguidos pela CIA e FBI).
6.º
Israel tem direito a existir, por causa da convenção da ONU.
Bem,
isso é tudo verdade. A convenção da ONU assim o determinou. Mas digam isso a
quem ficou sem nada. A quem teve de ceder as suas casas, terras, empregos e
vidas, para que o estado Israelita pudesse crescer e impor-se.
Acham
que chega uma convenção da ONU? A verdade é que a única coisa que sustenta
Israel é o suporte dos EUA, o que os torna ainda mais odiosos à vista dos seus
inimigos.
7.º
Os árabes não gostam de nós Ocidentais, queriam ver-nos mortos.
Bem,
ainda se admiram que não gostem de nós? Pudera, depois das cruzadas, das ocupações
e colonialismos e, agora, das ocupações americanas e Israelitas… De admirar
seria que gostassem. Os únicos que nos toleram são os Sauditas, por causa do
dinheiro do petróleo. Mas, por outro lado, temos os Sauditas como os principais
financiadores da Al-quaeda e do ISIS.
Depois,
como eles não gostam de nós, matamo-los a todos? Uma espécie de guerra
preventiva? Ataquemo-los antes que nos ataquem a nós? Será próprio de
sociedades avançadas e civilizadas? Será próprio de quem se arroga de possuir
uma moral superior?
Uma
coisa eu sei: O caminho da violência fez-nos chegar até aqui. Nunca se
conseguiu parar violência com mais violência. A violência só cria
ressentimento, vingança e revolta.
O
futuro só pode passar pelo humanismo e pela humanização das sociedades. O
futuro, inclusive, de Israel, nunca poderá passar pela força. O que sucederá a
Israel se um dia, um Paquistão vira de campo, ou o Irão consegue a tão almejada
bomba atómica? O que acontecerá ao mundo, se o caminho continuar a ser este?
Neste
momento, o mundo vive num contexto de retrocesso que nos levará ao caos. Os EUA
comportam-se como destruidores de países (Iraque, Líbia, Síria, Ucrânia,
Afeganistão…) e Israel, com o seu governo neoliberal e de direita, coloca em
campo o seu único argumento, o da força!
Até
quando terão essa força?
Todos os defensores da estratégia Israelita, sejam os mais inconfessados ou os mais sectários, partilham de um sentimento identificativo: uma visão do tempo da guerra fria - o "nós" contra "eles". Todos são pró-ocidentais, pró capitalistas e, de alguma forma, pró Imperialistas. E continuam a olhar para o mundo, tal como quando olhavam para a URSS e diziam: "lá estão os outros"!
Este sentimento divisionista, não será, com certeza, o caminho da paz. Isso eu sei!
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