Imaginem, um movimento de gente anónima, uma amálgama de crenças, das mais reaccionárias às mais
libertárias, das mais equalitárias às mais liberais... Imaginem um movimento de gente mascarada, ninguém é ninguém, nãos e sabe quem é quem... Imaginem um movimento anti sistema mas que, de tanto o combater, torna-se um dos seus instrumentos, manipulado e condicionado pela sua própria "inorgânica". Imaginem um acto sem responsável, uma palavra sem boca, uma ideia sem cara. Sofisticado, persuasivo, imponente, pretensioso e descomprometido, demais para ser verdade. São eles... O "Anonymous".
Anonymous, sinónimo de “anónimo”, “escondido”, “secreto”, “obscuro”,
“despersonalizado”.
" Brasil rima com Guerra Civil. Vejam
quanta fome, enquanto eles rapinam o nosso dinheiro. Vejam os farrapos,
enquanto eles usam ternos. Vejam como essas pessoas vivem na sarjeta,
enquanto eles habitam palácios de mármore e ouro."
Mas quem são os “Anonymous”? Que é que comanda esta massa
aparentemente “disforme”, “inorgânica” e “volúvel”, que faz da acção directa a
sua pedra de toque da contestação social.
Quem comanda estes seres mascarados, quais fantasmas
materializados no meio de multidões desatentas que, numa lógica quase “nihilista”,
adoptando um discurso anti-sistema político, agregam jovens, na sua esmagadora
maioria despolitizados que, vêem neste movimento um forma de dar alguma consequência
ao seu descontentamento.
Mas será a “consequência” directa, uma característica da acção
“directa” dos “Anonymous”? E será que os “Anonymous” controlam as consequências
“directas” dos seus ataques? Mais… Será que os “Anonymous” controlam o seu próprio
movimento?
Primeiro gostaria de deixar bem claro, duas coisas:
- O grupo “Anonymous” tem muita gente “boa”, participativa,
militante e interessada no progresso social…
- O movimento “Anonymous” não é todo igual, concentra
diversas facetas e matizes sociais que, numa lógica contestatária, se traduzem
numa amálgama indiscriminada de crenças, pseudo-ideologias, que tornam o
movimento muito volátil…
Não podemos confundir a “genuinidade” de muitos adeptos
deste grupo inorgânico com a utilização, indiscriminada, que terceiros fazem do
mesmo. São coisas diferentes que têm de ser tratadas de forma diferente.
Deixo aqui alguns dados à reflexão.
uma imagem hollywoodesca, apelativa e impetuosa |
1.O carácter inorgânico dos “Anonymous”
Este começa por ser o primeiro problema deste movimento. Uma
natureza inorgânica, e por “inorgânica” leia-se “sem organização” interna (o
que julgo apenas aparente, nestes dias), começa por ser o primeiro perigo deste
movimento.
O facto de ter nascido “inorgânico” e de ter permanecido “inorgânico”,
torna-o um perigo enorme, ao contrário do que se poderia supor a partir da
ideia de “liberdade organizacional”.
Sem um centro de decisão centralizado, reconhecido e
consequente, este movimento tornou-se, desde o início, muito vulnerável às
segundas intenções de muitas organizações. Falta saber se, a sua criação nestes
termos, não tenha sido já ela, um resultado dessa situação.
O que é visível, actualmente, é que este movimento integra
gente muito diversa e com objectivos diversos. Se visitarmos as páginas deste
grupo, encontramos desde o racista mais empedernido, ao anarquista mais romântico.
E desta convivência, meus caros, não pode vir nada de bom. Querem-me agora
dizer que, no fundo, todos querem o mesmo e todos têm os mesmos interesses?
Por outro lado, a utilização deste tipo de grupos que, mais
não fazem do que agregar o descontentamento e a rebeldia de quem está
despolitizado e absolutamente perdido do ponto de vista ideológico, por gente
mal intencionada, está nos anais da história. Principalmente o fascismo sempre
o fez. Utilizar grupos aparentemente contestatários, que tinham como objectivo,
a desestabilização social, de forma a justificar a aplicação de medidas
draconianas contra os direitos e liberdades dos cidadãos.
A verdade é que, se, mais uma vez, nos debruçarmos nas páginas
deste grupo, encontraremos uma amálgama inexoravelmente contraditória e
definitivamente inconciliável, de ideias sobre a sociedade. Este paradoxo é que
torna este grupo perigoso para a democracia e liberdade. Reflecte a falta de
orientação, de consequência, de consistência, de exigência e de credibilidade
do grupo e, julgo, que pior do que sermos mandados por grupos de mentirosos e
aldrabões com objectivos definidos, pior do que isso, muito pior, é sermos
dominados por gente que não conhecemos, anónima e desorganizada, sem programa
aparente e aberta a todo o tipo de ideias, mesmo as mais reaccionárias (que não
são partilhadas por todos os seus membros, eu sei). Numa selva destas, quem
mandariam seriam sempre os fisicamente mais fortes, obscuramente mais
organizados, como em qualquer caos.
"Se nas próximas legislativas
conseguirmos mais de 50% de
abstenção estaremos a caminho da libertação
deste sistema corrupto e dos seus executores".
Anonymous Portugal
Este caos que são os “Anonymous”, reflectido na convivência
acrítica de ideias paradoxais e inconciliáveis, torna-o permeável aos
agitadores, agentes encobertos e contra-informadores. Gente que é paga para
lançar uma ideia, que se propagará por uma população despolitizada, crente e
confiante de que está num grupo “descomprometido” e “desinteressado”.
É engraçado que, se virmos o rol de lutas mais populares e
emblemáticas dos “Anonymous”, vamos encontrar:
- A primavera Árabe que tão bem coube na doutrina do “Caos
Criativo” da CIA e MOSSAD
- Os eventos de Maidan, que tão bem couberam na estratégia Yankee
e Germânica de domínio do leste e diabolização da Rússia
- Os eventos do Brasil contra a Dilma, que tão bem cabem no
ataque que os EUA pretendem fazer aos BRIC e na sua estratégia de domínio da América
Latina (leia-se Venezuela, Argentina, Equador, Bolívia e Cuba)
- Os eventos de Hong Kong, que tão bem cabem na estratégia
dos EUA de “infecção” da China com as ideias “democráticas” ocidentais, num
ataque sem tréguas aos BRIC, ao seu banco e ao que este comportará para o FMI
RESULTADO: os “Anonymous” estão a ser manipulados pelo próprio
sistema que dizem combater!
ataque aos sites Russos pelo Anonymous |
Ou seja: a Dilma é criticável? Sim, obviamente! Mas
confundir o papel, para o perpétuo domínio dos EUA e do capital, da Dilma com o
da Marina ou com o do Aécio, é estar mesmo muito perdido da cabeça.
A China tem de melhorar? Provavelmente! Mas achar que a transformação
da China num lacaio dos EUA, através do cavalo de Tróia Hong Kong, fará melhor
ao mundo… Isso é andar completamente à toa! Primeiro, em Portugal, são contra as eleições, na China já as querem! Consequente, não acham?
O Putin é mau? Sim, é! Mas achar que o melhor é tirá-lo de lá
e meter no comando os neonazis do Svoboda ou do sector direita… Isso é de uma
irresponsabilidade atroz!
Poderia continuar com os exemplos, para dizer apenas que, o “Anonymous” encontra-se a prosseguir tudo, menos os princípios, que alguns dos seus membros
julgam prosseguir. O seu carácter inorgânico torna-o indiscriminado, manipulável
e moldável aos diversos interesses. Afinal, quando encontramos neonazis nas páginas
do “anoymous” e ninguém os manda de lá para fora (compactuando com essa convivência),
o que é que impede de lá chegar um espião da CIA, da MOSSAD ou do MI6 e desatar
a desenvolver operações encobertas?
Depois de Marina, de Aécio, o “Anonymous” vem com “Brasil
rima com Guerra Civil”! Portanto, se o capital mais selvagem e imperialista
perder para a Dilma (e eu nada tenho a ver com a Dilma!), vai apostar uma vez
mais na arruaça, na desobediência civil, na Guerra! Em que é que isso vai
melhorar as nossas vidas?
Muito cuidado com isto, meus caros, neste grupo, nada parece
o que é!
"Os conceitos de ESQUERDA E DIREITA
não passam de
engenharias ideológicas para te manterem polarizado e
subserviente a quem
se profissionalizou a defender uma medida por
oposição a outra e quer
chamar a si a responsabilidade de decidir por
ti".
Imbecilidade retirada de Anonymous Portugal
2. A contestação sem consequência politica directa
Outro aspecto relevante do discurso “Anonymous” é o discurso
anti-sistema. Contudo, nesse discurso nunca encontramos duas coisas:
a) Uma responsabilização directa de quem realmente manda na
política. Ou seja, dos interesses económicos, financeiros, etc., dominados
pelos EUA
b) um apontar de um caminho futuro, de uma orientação política,
de uma ideia de sociedade, de algo que reflicta uma luz para o futuro se se
afaste de uma lógica meramente destrutiva e nihilista
E é aqui que falha este grupo. Acreditar que, numa sociedade
limpa de “políticos corruptos”, que, nas suas palavras são todos, isto depois é
uma maravilha, e todos somos felizes para sempre… É de uma ingenuidade
demasiado infantil para que eu acredite nela!
A história diz-nos que a seguir ao caos e ao colapso dos
sistemas, ou existe uma orientação, ou o que vem a seguir ainda é pior. Esta é
que é esta! E este desconhecimento histórico demonstra a inconsequência, a
despolitização ignorante (pretensa e falsa?), de quem comanda este grupo.
Seria milhões de vezes mais útil se participassem num
qualquer partido existente (mesmo que fosse a direita), do que neste grupo.
Custa a crer? Olhem que não! A participação neste grupo, como a história o dirá,
ou é estéril ou será altamente danosa para a nossa liberdade!
3. A “descredibilização” dos políticos e da politica
Disse Maquiavel (eu sei que a maioria dos membros do “Anonymous”
não sabem quem é, senão não faziam o que fazem), que se um déspota quer perpetuar
o seu poder, o primeiro passo é desacreditar a política.
Porquê? Porque a culpa será dos políticos e da sua má
qualidade e não de quem manda neles!
Esta tem sido uma estratégia do grande capital financeiro.
Criar nas pessoas a ideia de que todos os partidos e políticos são iguais. São
todos maus! Porquê? Porque assim as pessoas colocam a culpa no local errado.
O que temos então, é o “Anonymous” a servir, abundantemente,
de agente desta estratégia de domínio social. Desta estratégia de ditadura e
tirania. Desta estratégia de farsa democrática assente num estado de classe
burguesa e mercantil?
É por isto, também, que desconfio dos “anonymous”. Não
confundir com as pessoas que eu sei, bem intencionadas, que aderiram. Desconfio
da eficácia e do efeito colectivo do grupo.
4. A ideia de desresponsabilização dos actos pelo anonimato
Outro aspecto que me repudia é o do anonimato. Em democracia
mostramos a cara, dizemos quem somos e ao que vimos. Em democracia participamos
lealmente, frontalmente, porque só assim é que podemos assumir as nossas
responsabilidades enquanto seres sociais.
Queremos mudar a política e os políticos? Boa. Então
participemos activamente na sua construção. Nomeadamente nos mecanismos existentes
para o efeito. Estes são insuficientes ou são ineficazes? Criemos outros. Temos
liberdade de associação.
Em democracia e em liberdade é assim! Damos a cara e
assumimos as nossas responsabilidades. Como homens e mulheres crescidos que
sabemos o que queremos e para onde vamos. Não como putos mimados que o que
querem é descaregar a raiva da sua impotência contra o meio circujdante,
desobedecendo, partindo e destruindo, para depois… Maravilha das maravilhas!
Para depois fugir! É isto que queremos? Gente sem responsabilidade? Gente a
quem não possamos imputar a responsabilidade dos seus actos? Já pensaram numa
sociedade assim? Já existiu uma sociedade assim. Chamava-se sociedade medieval,
em que o estado e a ordem eram a dos mais fortes.
Tirem a máscara, dêem a cara e depois falamos!
A ideia de libertação pelo anonimato tem um nome: chama-se
libertinagem! A liberdade de fazer mal sem se ser responsabilizado.
não seriam os primeiros... |
6. O perigo democrático da acção directa indiscriminada e
desorientada
Por fim, a acção directa indiscriminada e desorientada só
pode ter um resultado: repressão!
Não confundam o que este grupo anda a fazer, com a
actividade de guerrilha ou contestação social revolucionária.
Na guerrilha, o grupo tem um nome, uma cara e um programa.
Na contestação revolucionária, a mesma coisa. Esse programa visa a transformação
da sociedade existente.
Estes “Anonymous” nem pensam nisso. Podemos chamá-los de
meninos rebeldes, o que não podemos chamá-los é de revolucionários. Falta-lhes
o programa de transformação. Não chega deitar abaixo, é importante reconstruir,
e aí, meus caros… Nada apontam.
Regra geral, a acção directa desorientada tem servido para
que os poderes instituídos adoptem a repressão social como meio de dominação.
Vejam o que o Hitler fez. Pôs fogo ao parlamento, disse que foram os comunistas
e zás… Tomou o poder.
A história está cheia disto e estará sempre.
O que fazer?
Este grupo tem alguns membros válidos, despolitizados, mas
militantes. Temos de informá-los, cultivá-los e integrá-los. Uma vez
informados, estes membros saberão distinguir o trigo do joio e correr com a amálgama
de neonazis, criminosos cadastrados, agentes secretos e agentes
desestabilizadores que aparecem no seio do grupo.
Ou seja, o caminho é sempre o da politização. Cada um tem de
saber o que quer e para onde quer ir. Senão o souber, por muita vontade que tenha
de andar, correrá o risco de andar para o lado errado. Como um cego à derivo e
sujeito a todo o tipo de aproveitamentos!
Abram os olhos!
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