EUA... Terra do verniz que estala!

Democracia made in US
EUA, país de oportunidades, de sonho “Americano”, terra prometida da “democracia” e da “liberdade”, baluarte do “mundo livre”. EUA terra de riqueza sem fim, sofisticação de vanguarda e tecnologia avançada. EUA, terá de imagem, néons, luz. EUA, terra de luz que cega, de luz que esconde níveis de pobreza, criminalidade, miséria, violência, desigualdade, ao nível do 3.º mundo. EUA, terá de verniz que estala e descobre uma pele escamada, composta por racismos, xenofobias, corporativismos e feudalismos… Terra de imagem sem substância, império sem história, cultura sem raízes... EUA, país do sonho ganancioso, país do pesadelo social… País de contrastes inultrapassáveis e inaceitáveis, no qual a riqueza não serve a sociedade, serve o ego individualista daquele que se contenta em ser livre… Sozinho!



Ontem, numa notícia num qualquer telejornal (as TV’s para mim são todas iguais que nem fixo os nomes dos canais, ponho num qualquer e pronto), fazia-se referência à tragédia que se abateu sobre uma mãe, a quem o bebé (!!!!) de dois anos (!!!!) matou com uma arma de fogo. Bem, a criança, como qualquer criança, brincava com a mala da mãe quando, no meio da brincadeira… BUMMMMM.

A análise jornalística subsequente apontava, essencialmente, para o facto de a mãe ter sido descuidada, de a mãe, sabendo ter uma arma guardada e pronta a disparara (!!!!!) na bolsa, ter deixado a criança brincar ou mexer nas suas coisas.

Será esta a questão fundamental? Não para mim… Para mim, a questão fundamental é a seguinte: Como é que no país mais rico do mundo, mais avançado tecnologicamente e mais poderoso militarmente, as pessoas “normais” sentem necessidade de andar armadas? Que raio de desenvolvimento é este?

Esta questão reporta-me os pensamentos para os programas de “reality show” que vemos na ultra-reaccionária “Fox”, “NBC” ou outras…

Olhemos para o programa “Cops”. Polícias estilosos, bem armados e treinados, fortes, jovens e com uma imagem de implacável competência… Resultado? Os EUA têm uma taxa de criminalidade ao nível dos países do 3.º mundo!

Já, por exemplo, no programa “Street Gangs”, faz-se toda uma promoção da imagem do Gang de rua… Aparecem tipos musculados e tatuados a dizer que são “muita” maus! Que matam tudo e todos e não têm medo de nada. O próprio programa coloca polícias novos, armados até aos dentes e bem armados a dizer: “estes tipos não são para brincadeiras”! No programa, ou fora dele, nãos e pensa nem um minuto no tipo de mensagem que se está a passar e do seu efeito numa sociedade selvagem com mais de 30% de pobres e com dois milhões de crianças a viver na rua!

Por outro lado, se olharmos para o “Américan Prisons”, observamos mais uma vez, uma população latina ou negra, polícias novos, bem armados e quase todos brancos, em prisões sobrelotadas, desumanizadas e extremamente violentas. Nem por um momento o programa reflecte no porquê de os EUA, maior império mundial, ter uma taxa de prisioneiros por 100.000 habitantes, superior a muitos países do 3.º mundo!

Mesmo os noticiários, interrompem reflexões (enviesadas) sobre economia, política e sociedade, para darem perseguições policiais em directo, nas quais o inevitável polícia novo, forte, branco e bem armado, persegue um latino, asiático ou afro-americano em fuga.

Já para não falar das horas de directos sobre massacres estudantis em que crianças e jovens, pegam nas metralhadoras (!!!!!) dos pais e toca a matar tudo o que mexe! Não, isto não acontece nem sequer no 3.º mundo!

Podíamos falar do muro do Texas e dos dinheiro que os EUA gastam em policiamento do mesmo, ao mesmo tempo que elogiam a queda do muro de Berlim. O muro de Berlim separava visões políticas do mundo, o muro do Texas separa ricos de pobres… Esse não lhes causa urticária!

Podíamos reportar aos vídeos do youtube em que soldados americanos imberbes fazem pontaria a seres humanos muçulmanos e apostam, avidamente, se os conseguem matar ou não! Ou poderíamos, ainda, falar das dezenas de séries policiais americanas que mostram, quase fielmente, o quão desintegrada, atrasada, selvagem, desequilibrada e medieval é a sociedade dos EUA.

Quando adiciono às vistas anteriores o facto de ¼ da população dos EUA não ter acesso a um sistema de Saúde, aos milhões sem pensões, sem casa, sem educação… Sinto uma revolta enorme! E sinto uma revolta tão maior quanto mais assisto à alienação, a que a igreja moderna (A média propagandista) submete uma população que não pergunta: "Mas o que é que estamos a fazer mal"? Bem... Há que pergunte, há quem questione... Mas o sistema não incorpora essa crítica... A sua "democraticidade" não o permite!

Mas a minha revolta é maior quando oiço um político, especialista, professor, economista ou empresário europeu a darem os EUA como exemplo de organização de um país… Elogiam a sua economia, a sua riqueza, a sua grandeza e a sua (in) cultura. E fazem-no plenamente convencidos de que os EUA são o modelo a seguir!

E eu pergunto: mas mesmo que um país seja rico e produtivo, será que essa riqueza e produtividade justificam a selvajaria que lá se vive? Será que um modelo económico tão socialmente devastador deve ser seguido? Em nome do quê?

No outro dia um economista (guarda livros!) dizia que uma das vantagens da economia americana em relação à europeia era a de que as empresas americanas são mais flexíveis Nos EUA 20% das empresas crescem muito e outros 20% morrem. Extremos, portanto! Na Europa, dizia ele, as empresas são mais estagnadas… E apresentava isto como uma desvantagem!

Desvantagem para quem? Para os trabalhadores que mantêm os seus postos de trabalho? Para as suas famílias que, em virtude da segurança social que sentem, podem evoluir e dedicar-se ao seu crescimento humano? Não, a desvantagem não é para estes… É para os 0,7% da população mundial que domina quase 40% da riqueza mundial. A sua riqueza não serve para mais do que alimentar o seu ego e a sua ânsia de poder!

Os seus lacaios defendem-na no pressuposto de que nunca estarão nas 20% de famílias que vêm os seus postos de trabalho destruídos…

E isto porque para esta gente o dinheiro e a economia não serve para satisfazer necessidades humanas, não serve para gerir, com humanidade e justiça, recursos escassos. A riqueza, serve-lhes tão só, para alimentar a sua sede gananciosa de poder, o seu (di)stresse monetário profundo. Nem por um momento se interrogam… Como é que um país tão rico tem tanta desgraça e pobreza? Que riqueza tem esse país afinal?

Deixem-nos sonhar e não nos impinjam como bom e avançado, um sistema obscuro, anti-democrático (que democracia existe num país que auto vigia e que gasta 80 mil milhões anuais em actividades secretas e que trata como traidores aqueles que informam a população destas perversidades?), um sistema cuja sofisticação é meramente superficial, o qual, abaixo da pele deixa antever uma catadupa de desgraças sociais em massa, as quais, nunca, nem por um momento, são questionadas pelos mesmos pilares sociais (ou anti sociais) que a produzem… Não… O que temos é muito melhor e mais avançado, não deixemos que o estraguem como já o fizeram com o fim da USSR. O último muro entre os EUA e o progresso é o muro do “estado social europeu”. Também esse vai abaixo?


P.s. Se os nomes dos programas não coincidirem... Não estranhem, não estive para ver o nome real. Mas, quem sabe, percebe!

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