há mais de 2000 anos já se sabia!

Cuidado! Vê o que acontece se não participares. Já Platão o sabia. Quantos mais milhares de anos serão necessários para tu também o saberes?

A injusta repartição da riqueza!

Consideras justa esta repartição da riqueza? Então o que esperas para reinvindicares uma mais justa? alguém que o faça por ti? Espera sentado/a!

Não sejas mais um frustrado/a!

Não há pior frustração do que a que resulta da sensação de que não fizemos tudo o que podiamos!

Robots Vs Humanos

Hoje de manhã, dia 28 de Dezembro de 2011, num dos órgãos televisivos do nosso regime político manipulativo (já evoluiu, antes era opressivo!), não me recordo de qual, fui confrontado com uma espinha na garganta que me impediu de saborear o pequeno-almoço da melhor maneira. Logo a refeição do dia de que mais gosto!

Que espinha era esta? Será apenas na minha garganta? Não, é na garganta de todos nós!

A peça noticiosa era sobre as manipulações, mentiras, desmandos, oportunismos e devaneios ditatoriais desse filho da podridão reinante que é o Alberto João Jardim. Tratava-se de opinar sobre a dívida da Madeira e das suas políticas desastrosas ao longo de mais de 30 anos (falava-se de dinheiro, portanto).

Um fulano, qual licencioso guarda-livros, de quem não refiro o nome, pois a responsabilidade pelos pessoais ditos é algo que muito me apraz, mas no rebanho cabresto imperial, todos os nomes são iguais e todos os animais têm o mesmo nome (o do dono do rebanho), veio, na sua limitada, ortodoxa e extremista percepção referir quais, na sua opinião, seriam as causas da actual situação da Região Autónoma da Madeira.

Este senhor foi, oficiosamente, apresentado como fiscalista. Mas, bem vistas as coisas, se o apresentassem como: auditor de contas; contabilista; técnico oficial de contas; financeiro; consultor financeiro; engenheiro contabilístico, ou, em linguagem capitalesa, “Tax, Finance and Accountancy Consultant”, também qualquer destes títulos deveras “corporate” lhe assentavam que nem uma luva. Para mim, numa simples actividade poderíamos resumir todas estas, a do guarda-livros. Isto, claro, arriscando sujeitar os senhores guarda-livros a uma inominável ofensa para a dignidade da sua profissão.

E o que dizia tão “sapiente” personalidade? Bem, o seu discurso começa por referir “as auto-estradas, as empresas criadas…”. Mas, como se tivesse recebido do além (seria dos “mercados”? dos “investidores”?) uma mensagem clarificadora e iluminada, concluiu a sua verborreia com um exemplo que fez questão de sublinhar e repisar vezes sem conta, como sendo o exemplo último e paradigmático da desgraça financeira madeirense (podia falar dos vices riquíssimos do AJJ, dos clubes milionários, do offshore, da prostituição de luxo, da falta de liberdade politica…). Nas suas palavras, a Madeira tem “demasiados museus” e “centros culturais”, que estão “em todas as ruas” e são “insustentáveis”.

Boa! O problema é da cultura. O problema é do conhecimento! O problema é da sabedoria! O senhor começou com a construção de auto-estradas e navegando pelas mesmas, já ia nas empresas favorecidas pelo Alberto João, só que, os seus deuses do além fizeram-no lembrar que esse, esse não foi dinheiro mal gasto. Afinal, foi canalizado para quem lhe paga. O dinheiro mal gasto foi o dinheiro para a cultura, a educação e o saber. Essas coisas “demoníacas” que dão ao povo. Essa coisas insustentáveis, porque não são auto-suficientes, blá, blá, blá. “Desde quando o povo tem de ter direito a tais coisas”? É claro que é só um exemplo, como o senhor em causa referiu. Mas entre tantos exemplos de maior voluptuosidade e mais badalados politica e criminalmente, porque foi ele buscar “o” exemplo em questão? Será que o que gastam os museus e centros culturais chega sequer a uma milésima parte das ajudas que o governo dá a empresas como as SAD’s dos clubes da região, ou às empresas dos seus vices? Será que estes centros de cultura se comparam em termos de despesas aos enormes benefícios fiscais e outras tenças atribuídas por AJJ ao seu séquito, incluindo algum do continente? O problema é que, como os museus e centros culturais nunca farão parte do “core business” de uma qualquer “corporation”, ou, como nunca serão actividades de grande fôlego especulativo praticado por viciados no jogo, talvez seja esse o problema de tão “demoníacas” actividades que têm no progresso social e cultural o seu âmago e paradigma. É esse preconceito dilacerante e radical (extremista) contra tudo o que é de todos e não de alguns, contra tudo o que é publico e não privado, contra tudo o que é democrático e não autocrático (como o é a propriedade privada), contra tudo o que é bem público e não bem privado e contra tudo o que é pago por todos para todos e não por todos para alguns, é esse estado patológico psico-social desta prole numérico-dependente que me assusta. Mais me assusta ainda, em período de crise sistémica, esta gente não conseguir sequer ver um passo à frente do olho e identificar que é o paradigma, o seu paradigma que está errado. Nunca será este o paradigma da emancipação humana. A emancipação humana não poderá nunca, nem deverá, tão pouco, estar entregue ao pragmatismo indiferenciado do número e do recurso. Isso é demasiado redutor para possibilitar a realização da transcendência do sonho. É demasiado mesquinho e vil.

Afinal…os problemas da madeira são fáceis de resolver. Acabam-se com os museus, os centros culturais e mais tarde com as escolas e universidades e, eis que o problema está resolvido. Aliás, esta trupe salazarenta diminuiu de 5% do PIB em educação no OE de 2011, para 3,8% em 2012. Será para nos elevar enquanto povo? Será para promover a nossa competitividade humana de forma qualitativamente superior? Ou será aquela visão mesquinha e pequenina de quem é pequenino, pequenino terá de continuar a ser? Será que foi assim que chegámos ao império marítimo? Como salazarismo bolorento e ultrapassado? Ou foi com investimento humano? Há coisas que ninguém nos precisa de ensinar, a história encarrega-se de o fazer. Pelo menos, a quem se interessa por história, cultura, museus e centros culturais…Claro, não é o caso destes senhores. Os senhores da vista curta, da cegueira dos sentidos, da poupança no recurso e no pensamento. A poupança energética também chega ao pensamento.

Rir? Pois é, dá vontade de rir. Mas de raiva nervosa. Dá vontade de partir para a violência, é o que é. Dá vontade de rir de escárnio por tão grande ignorância e imbecilidade. É que esta classe de “guarda-livros” que faz as contas entre o público e o privado e o que vai para o povo e o que vai para a elite hiper-burguesa, é inculta, insensível, intelectualmente miserável, de personalidade descolorida, de uma futilidade torpe e atroz, de um seguidismo “carneiresco” pseudo militar, de uma incultura estupidificante, de uma ignorância auto-induzida e de uma imbecilidade santificada pelos deuses monetários do além humano e de uma visão desumana e desumanizadora da realidade.

Coitados dos guarda-livros que apenas faziam a conta ao deve e ao haver. Publico ou privado. Estes, fazem as contas, mas não entre o deve e o haver, em absoluto. Fazem as contas entre o deve (dinheiro a direccionar para o sector privado que nunca é demais) e o haver (dinheiro a tirar do sector público e social, que é sempre demais).

Estamos a falar dos senhores do número. Do índice, da conta e do factor. Estamos a falar de gente despersonalizada. De gente educacionalmente deformada e desumanizada. A humanidade nunca se sobrepõe ao número. O ser nunca se sobrepõe ao ter.

Estamos a falar de rebanhos sem ovelhas negras. De democratas sem povo. De seres sociais que não querem pessoas e de liberais telecomandados de forma Wireless. Estamos a falar de seres “chipados”, “quitados”, a quem extirparam a sensibilidade, a emoção, o pensar e o reflectir. Estamos a falar de seres desprovidos de capacidade crítica e autocrítica, de capacidade analítica e de questionar a realidade, de autómatos incapazes de se voltar contra quem os comanda. Estamos a falar de máquinas a quem o sistema educacional neo-liberal e ultra-conservador (de renascentista tendência reaccionária) extirpou a humanidade, deixando apenas o animal (o animal não transforma a realidade, adapta-se a ela). O animal submisso ao líder e à realidade que lhe apresentam como ultima e com “a-histórica”. Um líder corpóreo escondido sob uma capa de indeterminação conceitual a quem atribuem características vagas e relativas como, o global, o competitivo, o mercantil, o rentável, o produtivo, o reprodutivo e ao qual se atribui milagres tão importantes como, a mais-valia, o produto, a riqueza e o investimento. O líder esconde-se atrás dos “mercados”, dos “investidores”. Deuses pagãos do além, que se movimentam por entre as trevas obscuras da desumanidade latente. Destes não esperamos amanhã, destes só esperamos o agora. Destes não esperamos o progresso, apenas o regresso. Destes não esperamos a revolução, apenas a reacção. Para estes aquilo que é, sempre será. Os “deuses” fizeram os ricos e os pobres. O divinos “mercados” e “investidores” fizeram, o homem não muda nem pode mudar.

Senhores como este,m reflectem a sociedade das sombras, da aparência e do materialismo bacoco, da uniformidade, da normalidade e do cinzentismo. A sociedade da “corporate culture” em que quem está fora, está feito. A ditadura da manipulação. A sociedade em que a hiper-borguesia chama democratizar a economia à destruição do erário público. A sociedade da criação de multimilionários que resultam do domínio monopolista e oligárquico das áreas de intervenção estratégica do estado. A sociedade da submissão ao reflexo condicionado economicista mais primário. Primário? Sim. Primário, no sentido em que voltamos à lei do mais forte. Estes não condenam a mentira, nem a manipulação, nem a corrupção, nem o tráfico de influências, chamando-lhe até de “lobying”. E quando o governante eleito mente? É porque não sabia da realidade, estava equivocado. É “perfeitamente” admissível e aceitável.

Senhores como este são os ceifeiros dos nossos sonhos de liberdade e democracia. Dos sonhos de emancipação da nossa humanidade. Senhores como este simbolizam o passado atado à riqueza material. O tempo do umbigo. Simbolizam a incapacidade de o homem ascender na sua humanidade.

Senhores como estes Guerreiros, Lourenços, Delgados e outros, simbolizam os tentáculos (sim, tentáculos, porque não têm vida ou existência própria) de um sistema ultrapassado mas que insiste em perpetuar-se contra as ansiedades de libertação de toda uma humanidade que se tem vindo a afastar da política por se considerar manipulada (as ditaduras também são as da manipulação!). Senhores como este simbolizam a tentativa histórica das facções reaccionárias em voltarem ao modo de produção anterior, ao feudalismo. Afinal, os resquícios do passado existem e existirão sempre no futuro. É por isso que a luta não pode parar nunca. Porque o abrandar da luta humana pela libertação equivale ao deixar a reacção retomar a sua perdida pretensão de dominação. É algo de muito humano. De desumano, apenas os senhores autómatos atrás referidos.

Destruamo-los pela força das ideias e dos ideais!
Vida. Quanto vale?
Vejam esta imagem. Agora...imaginem que a apanharam no final de um dia de fantástica pescaria, depois de acordarem às 3 da manhã e após 12 horas num barco. Imaginem, também, que estão naquele vai-vem mental, entre a vigília e o sono mais profundo. Mal conseguem pensar. Mal conseguem manter os olhos abertos. Eis que...num relance de lucidez, olham para trás, para o mar que vai ficando. Depois... num lento despertar, olham para o horizonte e absorvem os resquícios valiosos de uma luz solar que desaparece para mais tarde, reaparecer em todo o esplendor (o sol também dorme!). No final...olham mais para cima ainda. E vêem as gaivotas seguindo o barco, sem nunca o apanhar, servindo de mensageiras da luz. Absorvem todo este esplendoroso quadro. Constatam a revelação e pensam...Isto sim, isto é vida!

Quem não o viver, não o sabe e quem não o entender não vive. Quanto dinheiro é necessário para encontrar algo assim? Dá que pensar, não dá?

Boa vida a todos vós
Retorno 2 - A luz e a Escuridão



Façamos uma reflexão! O que têm em comum os seguintes conceitos: a cobardia; o laxismo; o clientelismo; o conformismo; o seguidismo; o oportunismo; o desleixo; a incapacidade; a imbecilidade; a irracionalidade; a irresponsabilidade; o cinismo, a hipocrisia; a vaidade; a futilidade; a ganância; a ingratidão; a indiferença; a parcialidade; a cegueira; a miopia; o "graxismo"; a indecisão; o obscurantismo e tantos outros "ismos" e "ades", em comum? O que têm todos estes comportamentos em comum, para lá da sua natureza humana e potencialmente destrutiva?


Na minha modesta opinião, baseada na humilde observação dos comportamentos sociais e individuais, julgo resumirem-se, para lá de outras lateralidades, a dois aspectos individuais fundamentais para o funcionamento do colectivo. Esses dois aspectos são, a ética e o carácter. 

A sua falta ou existência, reflete, posteriormente, todos os comportamentos anteriormente identificados e listados. Arrisco mesmo a dizer que, o nível ético e de carácter de uma sociedade, determina o seu estágio de desenvolvimento e progresso.

E porquê a ética e o carácter juntos? Não bastaria a ética? Sim, teoricamente, bastaria. O problema é que o comportamento de cada individuo é sempre, mas sempre, moldado pela capacidade que este tem de se impor perante os demais. Ou visto de outra forma, o comportamento individual é sempre moldado pelo espaço social que os demais indivíduos lhe conferem. Ou seja, o nosso comportamento resulta sempre de uma interação de forças opostas que equilibram a relação social. A força que temos contra a força que nos deixam ter. Dessa interação surge a síntese, que consiste no equilibro de forças conseguido.

Esta ideia reflete, em toda a extensão, a aplicação social e material da dialética filosófica Hegeliana (ser, antítese, síntese), tão sabiamente aplicada à evolução humana e social pelo "ocultado a força" Karl Marx. A "sua" luta de classes, como motor da história, não seria mais do que essa interação (ou oposição?) de forças opostas, que resultam, em cada momento histórico, num equilíbrio (numa síntese), resultante da relação de forças presente. 

Digo eu, então, que esta luta de opostos é determinada, não apenas por processos colectivos (que obviamente, estão, necessariamente, presentes), mas também por processos comportamentais individuais, perante a realidade, que, no seu conjunto, moldam a força e a natureza do colectivo, refletindo-se depois, a sua ação, na relação de forças que leva, posteriormente, a um dado status de evolução social. Aliás, o próprio Marx vem, de alguma forma, fundamentar esta minha ideia, através do estabelecimento dos princípios da crítica e auto-critica que tão importantes são na aplicação prática de toda a ideologia marxista. 

Contudo, devemos questionarmo-nos sobre o porquê de, neste momento histórico preciso, de não ser possível ainda um equilíbrio social, humano e politicamente, mais avançado do que temos atualmente. Aliás, porque é que, por um lado, a classe dominante continua a dominar tanto e por outro, mesmo nas experiências históricas conhecidas, não se conseguiu criar aquilo que seria a ideia de um homem novo. O que é que faltou?

Em primeiro lugar, terá faltado uma correta transposição prática e politica de uma doutrina ideológica tão perfeita (filosófica e cientificamente fundada) quanto a Marxista. Um dos grandes problemas terá sido, sem dúvida, a incapacidade para os homens, todos eles, terem permanecido revolucionários, mesmo numa situação de domínio do poder politico. E porque é que, os revolucionários num determinado momento, não conseguiram, souberam ou foram incapazes de se manterem como tal? 

É aqui que entra a importância do comportamento individual em interação com o colectivo (mais uma vez, como resultado da aplicação dialética Marxista). É que Marx não aplicou, apenas, a dialética filosófica hegeliana, aos processos colectivos sociais (levou-a do espirito para o homem). Aplicou-a também, aos processos individuais e grupais. O Marxismo não exige apenas uma identificação ideológica teórica. Exige, acima de tudo uma identificação deontológica prática. Marx, por outras palavras, através dos princípios da critica e autocritica, vem aplicar o principio inerente à luta de classes (a interação de opostos  para a produção de um equilíbrio que é uma síntese dessa luta de forças opostas) à relação individual e grupal de cada ser humano.

Assim, o que faltou (ou falta), em suma, para que as pessoas envolvidas nos processos revolucionários, se mantenham revolucionárias é, precisamente, a aplicação prática (e não apenas teórica) da critica e auto-critica. Sem elas não há vanguarda. Só há vanguarda de em cada momento, nós, os revolucionários, conseguirmos questionar, derrubar e ultrapassar, os nossos limites, barreiras e incapacidades. E isso faz-se através de um processo critico (heterogêneo e exógeno) e auto-crítico (individual e grupal, endógeno). Só através desta reafirmação constante dos princípios da critica e autocritica, será possível um progresso interno e externo permanente. Só assim é possível uma síntese perfeita, em cada momento, que reflita um progresso em relação ao status evolutivo precedente. E este processo, chamamos de, isso mesmo, vanguarda. E o contrário disto é a retaguarda. Só assim é possível a revolução por oposição à reação. Com a reação voltamos atrás, com a revolução andamos para a frente. Para que tal aconteça, temos de ser capazes, em cada momento, de questionar e autoquestionar a nossa própria ação. Para que ela não se transforme em reação.

Contudo, sobra uma questão. E porque é que, em determinada altura, os movimentos revolucionários são incapazes de aplicar a critica e autocritica? Porque faltam os modelos comportamentais individuais adequados. Esses modelos são a ética individual e o carácter. É que sem a ética de quem domina, para que domine de forma justa, transparente e participada, sujeitando-se a uma avaliação e critica constantes, e sem o carácter de quem é dominado para que imponha a quem domina um comportamento ético correto (revoltando-se contra as indignidades, injustiças, parcialidades...), não existe nenhuma ordem estabelecida que seja colocada em causa.

A verdade é só uma e deve fazer-nos pensar. Embora a transposição ideológica do Marxismos pressuponha uma certa ordem, nenhuma ordem social ou politica é revolucionária por si mesma. Quem são revolucionárias são as pessoas e quanto muito, os colectivos. Qualquer ordem estabelecida só visa uma coisa, perpetuar e aplicar o poder de quem a estabeleceu. Marx previu-o tão bem que veio dizer que, para que a ordem estabelecida não se torne autocrática, ela tem de ser permanentemente questionada pelas pessoas que a integram, através dos princípios da critica e da autocritica. Só assim essa ordem evoluirá em vez de morrer.

Agora eu pergunto. Será que nas ordens estabelecidas, passadas e presentes, alguém tem a ética de questionar e progredir? Alguém tem o carácter de nãos e limitar a segui-la? Quem estabelece a ordem, permite que a mesma seja questionada e criticada? Será que a ordem é participada de baixo para cima? da base para o topo? Da infra-estrutura para a super-estrutura, como previu Marx. Ou, cada vez mais, que dirige, apenas olha para quem tem acima e ao lado e não para quem tem abaixo? Será que quem dirige molda o seu comportamento eplas necessidades da base, ou pelas do topo? E será que quem dirige questiona e critica essas orientações? Com que frontalidade? Com que sinceridade? Com que caracter? E que estabelece as normas? fá-lod e forma transparente para que as mesmas se sujeitem à critica da base? E quem está na base? tem caracter para o denunciar? E todos nós, autocriticamo-nos? E fazendo-o, moldamos o nosso comportamento a partir daí?

Será este um problema típico dos movimentos revolucionários? Não, não é. Antes de ser destes, é um problema das classes dominantes e dominadas. Tenho em crer que, mesmo assim, os movimentos revolucionários são os que menos sofrem (mesmo que sofrendo muito), desta limitação óbvia do atual estado de desenvolvimento cultural humano da nossa sociedade contemporânea. Mas sim, estes problemas são transversais aos seres humanos e a extensão como cada sociedade, cada pais, cada organização, cada grupo, cada comunidade, sofre deles é que determina, em cada momento histórico, o seu desenvolvimento e progresso social.

Posto isto, teremos nós, a ética e o carácter necessários a uma critica e autocriticas que nos dirijam para um processo revolucionário (interno e externo) que nos coloque na vanguarda do progresso social?

agir em vez de reagir

revolucionar em vez de reformar

questionar em vez de seguir

ultrapassar em vez de perseguir

avançar em vez de retornar

progredir em vez de regredir

mudar em vez de estacionar

abaixo o situacionismo, viva a revolução das mentes (a das instituições vem depois)



Retorno 1


De volta às lides "blogueiristícas" após prolongado interregno, provocado por uma doença mental pós-moderna da qual, infelizmente, também padeço e que se chama "workaholite aguda irreversível". Bem, antes esta do que a "carneirite aguda" ou a "cobardite hereditária genética". Estas duas últimas, verdadeiros flagelos sociais contemporâneos, caracterizam-se por vários comportamentos perfeitamente tipificados e precocemente diagnosticáveis e caracterizáveis, vejamos:

- Quadro geral de "lamentação" espontânea e continuada. Os indivíduos que padecem desses males da urbanidade consumista, lamentam-se continuadamente de tudo o que os rodeia. Do governo (normalmente, do partido em que votaram), do patrão (perante o qual se calam e baixam a cabeça), do salário (que nada investem para o melhorar), dos preços elevados (que não os impedem de consumir compulsivamente), do estado (essa entidade para-material da qual nunca se queixa e relativamente à qual não exercem os mais básicos direitos e deveres de cidadania), e muitas outros factores de lamentação, que mais não são do que a expressão real da sua própria incapacidade para aletrar seja o que for.

- Quadro geral oportunismo instintivo latente. Estas pessoas, situadas nas entranhas da sociedade (no centrão), habituaram-se ao oportunismo como forma de expressão da sua existência. Normalmente, olhando para a realidade social como um bolo que querem comer,  ficam à espera das fatias que uma meia dúzia de inconformados conquistam, e das migalhas que os poderosos deixam cair quando se lambuzam ou, apenas, quando, por descargo de consciência, deixam propositadamente cair.

Estes seres, são a expressão máxima do oportunismo patológico social, na medida em que, sabendo de antemão que, mal ou bem, beneficiarão sempre das conquistas de quem dá o corpo ao manifesto na luta pela repartição mais equitativa do bolo de riqueza, optam antes, por tentar sempre, mas sempre, por se encostar a quem deixa ou pode deixar cair as migalhas. É das fatias que vivem, mas encostam-se a quem lhes dá as migalhas, por que como têm garantidas as fatias, optam por renegar que lhas dá, engraxando quem lhes possa garantir mais algumas migalhitas para adicionar às fatias que outros lhes deram. Na maioria dos casos, até se colocam contra os que, à custa do seu suor, lutam por fatias maiores. A justificação é sempre a mesma. "Quem luta pelas fatias, fá-lo por oportunismo e não por causas". Oportunista que vê ao espelho e não lhe desagrada a vista, vê tudo por igual. Contudo, se tivessem razão nesse silogismos bacoco, passariam todos a contestatários, uma vez que, no oportunismo, ninguém os bate. Está tão intricado, o oportunismo, no seu ego, que a maioria, nem se dá conta do quanto são dominados por ele. Já está no domínio dos instintos.Nessa medida, numa atitude de profunda ingratidão, viram as costas a quem por eles luta e vendem-se aos que os exploram, por umas míseras migalhinhas de poder. Sabem porque é que o fazem? Porque não lhes custou nada o que têm e os direitos de que usufruem, para si, estão sempre garantidos. No dia em que os estiverem a perder, o que fazem? Lamentam-se e pedem migalhas. Lutar? Revoltar? Reivindicar? Opor? Questionar? Criticar? Transformar? Nunca são opções.

- Quadro geral de ausência de consciência politica. A maioria destes seres não vive, sobrevive. Não escolhe nem opta, aceita. Não se opõe, submete-se. A contradição nunca é opção. O seguidismo é o lema, a correção formal dos actos políticos é a sua filosofia de vida e a ausência de moral, ética, racionalidade e de compromisso construtivo são os seus princípios de vida. Os fins justificam todos os meios. Hoje votam num, amanhã no outro. outros votam por hereditariedade sem se questionarem sobre a direção do voto. Outros, votam por votar. Muitos votam escolhendo sempre o caminho mais fácil, nomeadamente, aquele ou aqueles partidos que não representem um compromisso ético de qualquer espécie, sejam conservadores ou progressistas (não se tratam apenas dos partidos da AR, podemos estar a falar de partidos sociais diversos, em associações, colectividades...). Nunca avaliam o melhor caminho, escolhe sempre o mais fácil e aquele que tiver menos custos pessoais, mesmo que o ganhos seja pouco. Em virtude da sua falta de consciência politica e social, escolhem sempre partidos e movimentos que não representem qualquer ideologia, ou cuja ideologia seja muito volátil. O que é importante é não estarem minimamente comprometidos com nada nem com ninguém, mesmo que esse alguém, sejam eles mesmos. Assim podem sempre falar mal e da asas à capacidade de lamentação e oportunismo continuados. E, claro, podem sempre passar, nos seus locais de trabalho e nas suas interações sociais, como seres inofensivos e sem responsabilidade.

- Quadro geral de amnésia permanente e espontânea. Elegem-se os governos e depois fala-se mal deles. Desgraçados, são sempre enganados, sempre! Isto porque, de uma legislatura para a outra, esquecem-se da anterior. Os coitados, chegam mesmo a votar hoje no seu partido de eleição (aquele que fizer a melhor campanha ou o que lhes parecer mais conformista e menos desafiador para si próprios) e passado um mês, vêm dizer que nem votaram, sequer. Aplica-se a esta gente a máxima, o que hoje é verdade, amanhã é mentira. o partido A) governa e falam mal dele, vem o B) e faz igual, mas como é o B) e não o A), falam mal dele, sem entenderem que se trata da mesma governação, mas com caras diferentes. Nas suas mentes só lhes ocorre uma coisa. O situacionismo. A mudança nunca é opção. O que é importante é dar seguimento ao rame rame diário.

- Quadro geral de ausência de reação, critica e autocritica. Nunca se criticam, nuca se autocriticam, nunca reagem à adversão. Reagir contra a injustiça não é opção. Quando injustiçados, optam por dar graxa ao injustiçador. A frontalidade não é uma característica da sua personalidade (existem excepções). O seu comportamento nunca origina lamentações, só o dos outros. O seu espelho é demasiado baço para que possam observar-se em toda a extensão e profundidade. Nem aos filhos dizem não. SE estes abusam, a culpa é dos professores, pois eles nunca a têm.

- Quadro geral de superficialite aguda. A sua superficialidade é doentia. Só interessa a forma, o pacote, a embalagem, a aparência. Se fazem desporto, é para emagrecer. Se têm uma dieta saudável, é ara emagrecer e isto é, se não deixarem antes de comer. Quando leem, tem que ser light, para não pensar muito. Se vêem filmes, é só para entreter, para pensar é que não. Deixam de comer para andar de carro. Endividam-se para se vestirem bem. Nunca se trata de conteúdo, nunca se trata de convicção. Tudo é efémero, tudo é material, tudo é bacoco.

- Quadro geral de utilitarismo extremo. Os fins justificam os meios. O que importa é o resultado final. Só conta o prazer. Só conta o dinheiro. Só conta a matéria. Só conta o umbigo. Os outros, são figurantes.

- Quadro de despersonalização comparada. Todos se lamentam uns dos outros. De um lado ouvimos "ninguém trabalha", do outro ouvimos "já não há decência". De outro ouvimos "não há justiça, são todos ladrões", do outro "isto é só lambões". Todos apontam os erros uns ao outros, sem se darem conta de que anda em círculos a falarem deles mesmos (se um fala do outro, o outro, fala do um!)

- Sindroma do equalitarismo indiferenciado. "São todos iguais". A ausência de convicção faz com que não analisem o carácter dos diversos políticos. Assim, quando votam, podem sempre dizer, que tem de ser como é. Desta forma, nunca erram, nunca se comprometem com os maus resultados do país.

Poderia continuar. Normalmente estas pessoas não percebem que a força da democracia está na contradição e na diversidade. Quando o seu partido está no poder queixam-se da critica alheia. Pudera, acham que o seu seguidismo é que é o exemplo. Acham que participar democraticamente é fazer tudo o que o seu partido manda e não percebem que, em democracia, participemos contra ou a favor, e já estamos a contribuir para o futuro, pois a democracia é isso mesmo, a síntese consciente das contradições. Não são pro-ativos porque não gostam de arriscar ou de se comprometer com perspectivas diferentes. A Cidadania participativa para eles não existem , porque acham que não devem nada à sociedade. Se um partido ou uma pessoa assume uma linha ideológica vincada, então é extremista. Porque o que está bem é não ser, nem carne, nem peixe. É estar no centro e não entendem que o radicalismo faz falta para dar cor e ideias à sociedade. O que devemos combater é, precisamente, o sectarismo (achar que só uma visão é que é correcta), o seguidismo, suporte de todas as ditaduras e a cobardia, filha de todos os abusos.

O problema é que, tudo se resume a dois sintomas, ausência de ética (para não fazer o que se considera errado) e ausência de carácter (para reagir ao que se considera errado). É este o problema. O chefe berra e eles calam-se e depois o mau é o que se revolta. Porque assim, engraxa-se o chefe. Impressionante, não é?

No final, estas pessoas, resumem-se  a três grupos:

1. os que não votam, porque não lhes interessam
2. os que votam, se não estiver dia de praia
3. os que votam, por votar e não por convicção
4. os que votam sempre no mesmo, só porque sim.

O facto é que, ao longo da história, aqueles que lutaram pelo progresso (sim, os direitos resultam da luta, não são dados por ninguém), sempre foram as ovelhas negras, os radicais, os marginais e até, por vezs, os terroristas. Apelidos atribuídos pelos que são conservadores e querem conservar o seu poder. Apelidos que são veiculados e gritados por aqueles que mais perdem com o conservadorismo e mais ganham com o progresso. Sempre foi assim e sempre o vai ser. Porque os lideres, os conscientes e os lutadores (sejam progressistas ou conservadores), aqueles que defendem causas e vivem e morrem por elas, serão sempre, mas sempre, uma minoria. A maioria, será sempre indiferenciada, será sempre a multidão, os arrastados, por uns ou outros. Estes, até se sabem manipulados, mas desmontar essa manipulação, dá muito trabalho. Como dizia Kierkgard (filósofo cristão, que no meio de uma carrada de baboseiras disse algo de certo). Na multidão, está a mentira. A verdade está em cada um de nós. Mas vale sozinhos que mal acompanhados. Mais vale a minha verdade do que a mentira de todos. São estes os seus ensinamentos.

Como animais, seremos sempre assim. Os que mandam, os mandados e os marginalizados. De facto, ser chamado extremista, radical e sectário, pode ser, como vêem, afinal de contas, um bom elogio. Desde que não me chamem de ladrão, oportunista e aldrabão, já estou por tudo.

Assumamo-nos, porra!
ValorSul ou valor sem norte?

Ontem desloquei-me à ValorSul SA, incineradora de S. João da Talha. Ainda me lembro, em miúdo, da discussão que foi a instalação desta incineradora, neste local. Independentemente das vantagens ou desvantagens da operação, o que reclamou a minha atenção foi um facto de outra ordem. De um ordem superior.

A ValorSul SA labora com 50 trabalhadores (mais coisa, menos coisa). Sabem quantos directores tem? Poderia enviar-vos ao site Internet, para observarem por vocês mesmos, no majestoso organigrama, a que ponto pode chegar a lata, falta de vergonha e desrespeito pelo erário público. Mas poupo-vos o serviço. A ValorSul SA tem, nada mais, nada menos que 15 directores e um director geral. Acima está ainda, esse mesmo, o conselho de administração, que deve contar com mais uns quantos iluminados, todos pagos a peso de ouro, ou antes, de platina. Agora vejam bem, 50 trabalhadores e 15 directores, 15!. Sem contar com o resto da maralha.

Mas posso-vos ainda acrescentar o seguinte, a ValorSul tem os seus 50 trabalhadores divididos em equipas de 10, cada uma delas com um turno diferente. Assim, temos que, por turno, arriscamo-nos a ter 25 a 30 pessoas na empresa, e mais de metade são directores.

Ah, produtividade! Mas mais…querem reduzir o n.º de trabalhadores. E mais, alguns do que lá estão, para actividades de manutenção, etc, estão em regime de outsorcing. Até se fala em substituir, a equipa que controla a entrada dos camiões de lixo, por securitas. OU seja, o dia em que os directores se atropelarão e serão em número esmagador, está próximo.

Sabem que mais, todos têm direito a carro, telemóvel, salário chorudo e tudo mais. Quem paga isto tudo?

Pois é, não é o ser público que está mal, o que está mal é a clientela destes vampiros que reclama alimentação. E não é de pão que falamos, é de caviar.

Depois reduzem salários aos funcionários públicos e dizem que esta é a única solução possível. Está-se mesmo a ver. Que tal começar por aqui? Não? Pois…é mais fácil começar pelos mais fracos. Onde é que eu já vi isto?


Hugo Dionísio 
Homens de celofane. Os “para-seres” da moda.

Já tinha sido o sr. Hilfiger, já todos tinham levado e apanhado com as verborreias malcheirosas dos “modistas” das nossas praças…Agora foi Galliano, o reputado designer de Christian Dior.

Julgo que não nos devemos admirar destas duas coisas: Uma, que este tal de Galliano tenha expelido as intestinais dejecções verbais que todos ouviram; Duas, que Dior o tenha contratado e depois o tenha despedido (o que está no meio, na essência e na relação entre o fim e o principio não conta).

Afinal o que é que esperam deste tipo de seres? Coerência? Profundidade? Sabedoria? É disso que vivem? Para mim o que me custa mais no meio disto tudo é que existe uma franja enormíssima da nossa população que segue à letra, quais ídolos duplicados em série, exemplos propagados por seres como estes. Isso é o que me desilude, isso é o que me estupefacta. E não os impropérios trauteados por “incerebrados”.

Afinal, quais são os valores que a industria da moda propaga? Serão os valores da ética? Serão os do conhecimento? Serão os do progresso? Serão os da Fraternidade? Serão os valores humanistas?

Não serão antes: as impressões do efémero (a moda muda com as estações!); as impressões da aparência; as impressões do egocentrismo; as impressões do corpo…

A moda não é habitada por valores, mas por impressões; a moda não é habitada por princípios, mas por fins; a moda não é habitada por ideias, mas por aparências; a moda não é habitada por carne, sangue e massa encefálica, mas por pele; a moda é epidérmica, superficial, plástica, profana e banal…

Mas mais, a moda não é habitada por seres humanos, a moda é habitada por seres (ou “pareceres”, ou antes…para-seres?), não das obscuras profundezas, mas das mais invisíveis, porque encadeantes, luzes da ribalta. A moda não é a luz, é o foco. A moda não é o ser, mas o parecer. A moda não é o que começa, mas o que acaba, a moda não é a vida, é a morte. A morte da cultura, a morte do ser humano.

De que se admiram?
O leilão

No outro dia, berrava a tóxica televisão nacional que a operação de leilão de dívida pública Portuguesa tinha sido um sucesso. Afinal, a procura tinha sido tão elevada que o Governo decidiu aumentar, em mais 500.000.000 de Euros, a oferta de venda. Depois disseram, que afinal, nem tinha sido necessário leiloar, pois a divida havia sido vendida a um sindicato bancário. Por fim, depois de orgasmos intelectuais, regozijos, gritos histéricos de prazer e espasmos com origem na prol económico-financeiro-contabilistica convidada para comentar a operação, lá veio o senão, numa pequena notinha final, muito envergonhadinha, por parte da jornalista que forçosa ou forçadamente não queria estragar o prazer colectivo registado. Afinal, através de rápidas palavras de anúncio de financiamento, por entre a bruma, o fumo e o ruído imperceptível da informação subliminar, consegui registar que a dívida havia sido vendida por uma taxa de juro algo elevada. Ninguém disse, contudo, quão elevada seria essa taxa.

Claro que faltava o sinal de Perigo de Intoxicação Intelectual (PII) que deveria estar presente em cada Noticiário da comunicação social corporativa nacional.

Mais tarde, encontrei uma referência a essa taxa de juro. Essa taxa foi de 6,5%. Se aparecerem ao pé de quem tem dinheiro e lhe disserem que podem ganhar 6,5% ao ano, com a compra de dívida e nem têm de ir ao mercado, pois se forem arriscam-se a perder a hipótese de a comprar, quem irá recusar uma oferta dessas? Mais ainda, quando esse consórcio bancário, o mais certo é ir buscar o dinheiro ao BCE a 1% ao ano. Já viram se isto funcionasse para qualquer cidadão? De certeza que todos nós estaríamos interessados nesse óptimo negócio. Pedíamos 100 Milhões e ao fim do ano tínhamos certos 5,5 milhões para nós. É fácil enriquecer não e? Experimentem fazê-lo. Depois falamos.

Na notícia em que se falava dos tais 6,5% de taxa de juro, apontava-se esta taxa como baixa, pois o jornalista reportava uma operação recente de venda de dívida a médio e longo prazos, do estado Português, em que o juro chegou aos 7,65% e mesmo assim não a venderam toda. Venderam 30% a longo e 60% a médio prazo. Engraçado, não se dizia qual o montante de dívida a vender. Como podem ver, afinal o negócio ainda pode ser mais rentável, não tão certo como o anterior, mas mais rentável.

O problema é que após os orgasmos e espasmos da primeira notícia, surgiram as convulsões, choros, baba e ranho da mesma troope económico-financeiro-contabilistica. Portugal, Irlanda e Grécia estão a ser alvos da especulação dos “mercados”, estão a ser alvo do alarmismo e dramatismo das “agências de rating” e da desconfiança descontrolada e aleatória dos “investidores”.

Entraram em paranóia e depressão colectiva. De certeza que a venda de Pozac aumentou bastante nestes dias. Mas não foi para eles. Pois, esses seres desprezivelmente rastejantes logo começaram a falar das suas receitas infalíveis:

- Baixar os salários
- Baixar o valor das indemnizações
- Flexibilizar os despedimentos
- Descaracterizar o Código Laboral e pô-lo a proteger as empresas em vez de proteger os trabalhadores
- Baixar os impostos à banca e às empresas (ouviram aquela dos 1,4 mil milhões de lucro da banca suportados por um decréscimos de 56% no montante de IRS a pagar?)
- Dar porrada nos funcionários públicos
- Privatizar a saúde e a educação e todas as empresas lucrativas do estado

Tudo receitas que nós já conhecemos, experimentámos e…não gostámos.

A verdade é que nenhuma tem funcionado, cada vez há mais dívida para vender porque o estado já não tem as enormes receitas das empresas privatizadas (dos 350 milhões de Euros recolhidos em impostos em Janeiro, 90% foram de IRS e IVA) e cada vez mais tem de cobrar essa receita a quem não a pode pagar. Afinal, se um “investidor” pode comprar dívida Alemã a 5,7%, porque haverá de comparar Portuguesa a 6 ou a 7%?

Pois é, as receitas são sempre as mesmas e ouvimos sempre a mesma lenga lenga do Sócrates, Coelho e a seu exército de paus mandados:

- O estado não tem receita, é preciso cortar, é preciso acabar com isto e com aquilo, sem o dinheiro não há estado social….Verdade, Verdade, Verdade. Querem saber a receita?

- Aumentem o IRC dos Bancos e das Grandes empresas (não eles não fogem para lado nenhum, porque não querem perder o mercado, isso é conversa)
- Tributem as operações em Bolsa, todas elas e não apenas as dos investidores individuais (estou a falar das SGPS e estrangeiros que ficaram de fora e são os maiores)
- Acabem com as concessões que garantem receitas mesmo que estas não existam
- Combatam a evasão fiscal, não apenas a actual, mas a passada (este anos vai baixar enormemente o valor gasto com a Inspecção das Finanças…)

Poderia continuar, serenamente a enumerar medidas que sabemos resultarem, trazerem mas justiça social, precisamente porque são injustas e resultados de férias, jantaradas e demais presentes que ou pagam riquezas ou ricas campanhas eleitorais. Depois…quem regula quem?

Mas o que mais me revolta ainda é que, esta tropa fandanga (como dizia a minha Avó), ainda não falou disto:

- Acabar com os off-shores e com os paraísos fiscais, para os capitais não fugirem e causarem evasão fiscal que depois vai sobrecarregar a classe média (já ouviram o Sócrates defender isto no Conselho Europeu perante do Durão Barroso?)

- Acabar com a vergonha de o BCE emprestar dinheiro aos “Investidores” a 1% para depois estes lucrarem à nossa conta, comprando a dívida a 6, 7 ou 8% (já ouviram o Teixeira dos Santos insurgir-se contra isto?)

- Acabar com as agências de Rating, corporações privadas americanas, detidas por especuladores, que, com se sabe atacam tudo o que mexa e como na lei da selva, atacam primeiro os mais fracos (já ouviram alguém falar disto?)

Poderia continuar, mas, meus caros, para as costumeiras medidas da ordem é preciso lata e vergonha, para estas últimas é preciso Moral e coragem. É preciso não querer pactuar com a exploração e com a injustiça. É uma vergonha, que em toda a Europa, nenhum Governante fale disto. Governantes eleitos, com os nossos votos, dizendo que iriam resolver os nossos problemas. O conforto que atingimos tem de se elevar através da repartição da riqueza e não através da exploração dos mais pobres, sejam pessoas, sejam países.

Já chega de conversa fiada.
O ansiolítico

Há um ou dois dias, ouvia eu, como de costume de passagem, um telejornal matutino da SIC Noticias, quando uma notícia em particular exigiu aos meus sentidos que reclamassem a minha atenção: “A UNICEF decidiu não contratar a publicidade à camisola do Barcelona, mas fazê-lo, em vez disso, ao espaço proporcionado por uma fundação do QATAR, pagando para tal os prometidos 30 Milhões de Euros”.

A UNICEF, aquela entidade que diz que ajuda criancinhas, pagou 30 Milhões de Euros a uma entidade, para lhe fazer publicidade? Quantas criancinhas poderia, a UNICEF, ajudar com esse montante? Em vez de encher os Bolsos de um qualquer clube de futebol ou de uma qualquer fundação interessada na promoção do QATAR?

É claro que o justificativo normal, para esta troca comercial, se encontra no trivial: “esta publicidade permite-nos encaixar mais fundos”.

Mas…estaria em enganado, não seria a UNICEF uma entidade que conta com a solidariedade alheia para prosseguir o seu objectivo? Desde quando é que a Solidariedade é um negócio? Para quem a vende e para quem a compra?

Afinal, aquelas imagens que nos entram pelos olhos adentro do Figo, do Ronaldo, do Messi, que aparecem como solenes e globais embaixadores da UNICEF, tudo isso também não é mais do que um negócio?

Podemos sempre dizer que uma coisa puxa a outra e que, mesmo tratando-se de um negócio a UNICEF, aplica grande parte das suas verbas na prossecução do seu objectivo inicial, o de ajudar crianças necessitadas. E existem muitos negócios que o não fazem. Pois é…digamos que é o melhor dos males, se a tal se pode atribuir essa classificação.

Contudo, é o principio que me magoa, é a subversão da imagem do que se convencionou constituir a UNICEF que me transtorna, é a transformação da solidariedade e da fraternidade, esses princípios universais da humanidade, em negócios, é a sujeição da nossa humanidade ao jogo e ao jugo do dinheiro.

A solidariedade, a fraternidade, a compaixão e a vontade de lutar e denunciar as injustiças deve ser algo nobre, algo que nos orgulhe, algo que esteja associado aos princípios da Civilização contra a Barbárie.

O que seria valoroso era a UNICEF conseguir recolher fundos, não porque a sua imagem é tão forte que ajuda a vender melhor (porque é bom estar-lhes associado), mas porque as entidades e as pessoas o fazem por amor, compaixão e vontade de contribuir para um mundo melhor.

Podem tentar dizer-me que, no fim o resultado é o mesmo. Não, não é! Associar a solidariedade ao negócio é perpetuar o negócio e todos os males que pode trazer. É tão bom a Nike, a Adidas aparecerem associadas à UNICEF quando depois exploram essas mesmas criancinhas que era suposto ajudar, na Índia, na China, no Vietname e onde lhes aprouver.

É tão bom uma Hugo Boss aparecer associada à UNICEF, quando depois vem utilizar peles de animais exóticos, trucidados para tal, para produzir as suas roupas. É tão bom a BP aparecer associada à UNICEF (e quem diz a empresa diz o seu dono) quando depois vem destruir o nosso ambiente promovendo a utilização do petróleo e impedindo ou travando a utilização de energias limpas.

O que era valoroso seria a UNICEF dizer: “Não! Eu tenho uma imagem tão forte que não me quero associar a esse tipo de gente, de hipocrisia, de exploração quer perpetua a pobreza e a injustiça”. Seria esta a minha imagem da UNICEF. A UNICEF tem de ser ajudada por quem, voluntariamente, a quer ajudar. Por quem, moralmente, a pode e deve ajudar.

Caso contrário, mais não é que uma peça da engrenagem da exploração, um obstáculo ao progresso dos seres e dos espíritos. Mais não é que a face da industria da pobreza e da caridadezinha que nunca resolver nada, só perpetua. Mais não é que o instrumento daqueles que, fazendo o mal e promovendo o caos, mesmo assim, necessitam de um ansiolítico que os deixe dormir com a consciência menos pesada. “Exploramos as criancinhas e depois pagamos-lhes a comida”. Aliás, a nossa sociedade, tem muitos exemplos disso mesmo. Sujeita-se um trabalhador ao Stress e depois dá-se-lhe um curso de “Gestão do Stress”. Sujeita-se um trabalhador a movimentos repetitivos e dá-se-lhe uma lição de ginástica de descompressão.

É bom que percebam que quem luta pelo progresso não pode nunca pactuar com aqueles que fomentam a barbárie. O progresso é a luta da civilização e do humanismo contra o caos e a desordem da lei da selva. É isso que o progresso é.


Hugo Dionísio

P.S. Todas as organizações aqui relatadas são-no a título meramente exemplificativo.
Pílula contra-esquecimento.

Este mês inicia-se com a resposta a mais uma demanda desse poder unilateral, parcial e inatingível pela via da democracia, que é o da a Comissão Europeia, o "dos mercados" e o do BCE. A tão aclamada revisão da legislação laboral! 

Poderia aqui contar a história do Direito Laboral, escrita a sangue, suor e lágrimas. Poderia aqui falar das lutas, das privações e das perseguições daqueles que, em tempos não muitos distantes (nos ventos de omega um século é um segundo) lograram oferecer a sua vida, conforto e saúde à batalha pelo reconhecimento do ser humano que o trabalhador constitui.

Tempos houve em que não havia direito do trabalho, tempos houve em que as leis escritas por quem governa e domina permaneciam mudas, quando se tratava de restringir a autonomia privada individual de quem retira a mais valia, daquele que trabalhando para viver, morre a trabalhar.

Entre esse século liberal, o século XIX, durante o qual  o obscurantismo burguês-monetarista sucedeu ao iluminismo e humanismo renascentista, e o nosso século XXI (repararam  na curiosidade da coincidência na grafia numérica romana?), mediou o século XX, um século de progresso e conquista social. Ao humanismo do século XX, durante o qual, mais uma vez, o iluminismo revolucionário derrotou o obscurantismo fascista resultante do liberalismo, sucede o neo-liberalismo financista e alto-burguês do século XXI. E o que temos em comum?

O que temos em comum é a filosofia de que o respeito pelo ser humano não deve constituir obstáculo pronunciado à constituição e acumulação da riqueza. Se no século XIX,  o capitalismo não queria a consagração do Direito Laboral, no século XXI, esse mesmo capitalismo quer o fim do mesmo.

O primeiro passo para o seu final é filosófico e já foi dado pelos governos ocidentais, aqueles que no século XX foram obrigados, pela força (nunca esquecer isto!), a consagrar o direito do trabalhador a ser tratado como um homem e não como uma máquina. Que passo foi esse?

É do passo da subversão que falo. O Direito Laboral nasceu de parto forçado para proteger os trabalhadores, da cegueira gananciosa provocada pela sede, nunca saciada, do lucro. Não nasceu para facilitar, nem a exploração dos patrões, nem a insaciável fome de ouro dos mercados. Foi, precisamente para as travar, para as dominar. 

O que é que sucede quando se revê a lei laboral para responder à ansiedade dos mercados, dos patrões, do BCE, do FMI e da CE? O que é que sucede quando se coloca o lápis verde monetarista a censurar as letras timbradas à força de um código laboral? 

Pedir que um código do trabalho proteja o capital e a economia é o mesmo que pedir a um código penal que proteja o criminoso. É o mesmo que pedir a uma lei fiscal que proteja quem não paga impostos. É o mesmo que pedir a um Código Civil que proteja os desordeiros e os vigaristas. Eu sei...Eu sei...

O que é que acontece quando um Código Laboral, pede a um trabalhador que pague, ele próprio, um seguro que garanta o pagamento da sua própria indemnização, penalização aplicável ao patrão, por despedir esse mesmo trabalhador? Onde chegará o insulto ao estado de direito? Pedir à vitima que pague a pena?

Atropelamos alguém e ele é que tem de possuir o seguro contra danos pessoais? Alguém rouba o nosso carro e nós é que temos de ter um seguro para o ter de volta, senão vamos presos? Matamos alguém e o familiar do morto é que vai preso? Ou...até, o próprio morto?!?!

Será uma sociedade engraçada esta, a que nos estão a preparar!

O exercício dos nossos direitos e deveres, como cidadãos, como trabalhadores, como seres humanos, é a melhor forma de respeitarmos e perpetuarmos a memória daqueles que, de forma inverossímilmente altruísta (aqueles que por não sermos como eles nos é mais fácil apelidarmos de oportunistas, radicais, conflituosos... só para ser simpático...) contribuiriam com grande sacrifico pessoal para termos e sermos o que somos e temos hoje. A liberdade de escrever este texto, por exemplo.

Quem não conhece o seu passado, não compreende o presente e não tem futuro!


Hugo Dionísio