Vampiradas - Mais uma dentadinha

Hoje, muito a propósito com o título que tenho escolhido para as peças que escrevo, relacionadas com a extorsão aos portugueses e ao estado, surge o jornal "O Diabo" a  denunciar mais uma "suculenta" operação de extracção e sucção da nossa riqueza, com fluxo directo para os grandes capitalistas nacionais e angolanos.

Segundo o noticiado, e por mim verificado a partir de outras fontes, o BPN foi comprado pelo BIC, por 40 milhões de Euros (até aqui sabíamos), através do recurso a um empréstimo  atribuído pelo próprio BPN??!!!??? Confusão? Nem por isso. Está mais para "pouca vergonha", banditismo, chico-espertice, golpes de javardos sem ponta de escrúpulo ou respeito...nem sei por quem. Se por nós, se por eles mesmos! É preciso descer muito baixo para chegar tão alto!

É isso mesmo que muitos já estarão a pensar que o BIC comprou o BPN com dinheiro do próprio BPN. Ou melhor, como o BPN estava nas mãos do estado e o estado é que o capitalizou (terá custado à volta de 8 mil milhões), em suma, fomos nós todos que o pagámos - por nós todos, leia-se, quem paga impostos.

Quer dizer, o BIC, detido por angolanos e pelo amorim, comprou o BPN por uma pechincha de 40 milhões de Euros, garantindo à partida que o estado já o havia capitalizado, saldado as dívidas e estruturado, e garantindo também, que o o mesmo estado "gastador" e "despesista" assumisse os custos com os despedimentos a efectuar (cerca de 700 trabalhadores).

Não contentes, provando que a ganância é um poço sem fundo, Amorim e o BIC, na sua insaciável ânsia de riqueza, ainda conseguiram comprar o BPN sem gastar ou investir um cêntimo. Para tal, conseguiram que a direcção do BPN "publico" lhes aprovasse um empréstimo no valor da quantia de compra do banco. Uma espécie de negócio do tipo: vou comprar os CTT com o dinheiro dos CTT. Se eu soubesse, tinha oferecido 41 milhões pelo BPN e hoje em vez de estar aqui a protestar tinha-me tornado uma sanguessuga normalizada (=banqueiro).

Bem, para a além do descaramento, da falta de decoro, da falta de ética, moral ou qualquer indício de dignidade e respeito para com o país, os portugueses e o estado, esta situação ainda se torna mais insólita se tivermos em conta os seguintes aspectos:

- O BIC é um banco Angolano, controlado por gente que estava, provavelmente, sob investigação no Ministério Público e que, recentemente, depois da intervenção do sr. cavaco, mais uma vez se arquivou o processo. Bem ao sabor de cavaco e de acordo com o que tem sido o seu padrão de justiça, ao serviço da, muito sua,  "causa" pública. É uma espécie de amor incompreendido.

- O BIC, com relações muito próximas com o grupo amorim - talvez impossíveis de descortinar, tal o fluxo de capitais, acções e spgs disseminadas por paraisos e off-shores -, garante um banco capitalizado e com um "reset" realizado ao qual o sr. ricardo amorim devia 1,5 mil milhões de Euros, de um empréstimo que o tornou no homem mais rico do país.

- Durante o processo de "recuperação" do BPN e do "salvamento" de cavaco, da injuria publica, que seria tornar-se o 1.º presidente da República a ir de "cana", nem por  uma vez, se pensou em investigar o empréstimo de amorim, em que termos foi aprovado e para que tipo de operação. Estamos perante o que mais não terá sido - isto digo eu - que uma operação para descapitalizar o banco, antes que ele caísse de vez nas mãos do estado. A descapitalização poderia ter sido feita através da distribuição de dividendos, mas como isso seria muito "vergonhoso", tendo em conta a situação que se conhecia, estes cérebros de sanguessuga lá decidiram fazê-lo através de um suposto empréstimo, transferindo para o sr. amorim (o que ele lhes fez depois não sabemos, nem saberemos tão cedo) o que haveria ainda de sólido nos activos daquele Banco. Para além dos 8 milhões, adicionem-lhe mais 1.5 mil milhões extraídos do banca, desta forma, uma vez que tal empréstimo impediu o estado, aquando da nacionalização, de se apropriar de mais esse activo, ou, em ultima análise, foi o estado que honrou esse empréstimo. É nisto que o centrão se junta.

-  Em virtude do passo anterior, a alienação do BPN coube que nem uma luva a quem o comprou. Ou seja, BIC e amorim, garantiram a possibilidade de apagarem e controlarem completamente todo o processo de mega fraude que foi o BPN. Assim garantindo o branqueamento do roubo descarado de milhares de milhões de Euros a clientes, ao estado e à segurança social (que perdeu 800.000.000 de euros).

Para além destes importantes factores, que comprovam a dimensão da extorsão de que somos alvo e a falta de controlo, decoro e qualquer principio ético, por parte dos nossos capitalistas e seus lacaios governamentais (nesta republica das bananas funciona tudo ao contrário, o rei é que é lacaio - por rei leia-se 1.º ministro e seus comparsas), ficamos também a saber um conjunto de outras coisas:

1.º Para a direita e para os ultra-liberais (estes não os classifico de direita porque para mim esta gente está, ainda, em estado selvagem), o estado só é "gastador" e "despesista", quando se trata de serviços públicos e funções sociais. O dinheiro para, as PPP's (mais de 1.6 mil milhões de Euros), as rendas da EDP, o dinheiro e perdões fiscais para a banca, as dezenas de motoristas assessores e outros "amigos" do gabinete de passos coelho, etc., só estes é que não entra nas contas do déficit.

2. Para os ultra-liberais, cavacos e afins, a sociedade humana ainda está numa fase de ausência de contrato social, ou então, nos seus primórdios, nomeadamente, num estádio evolutivo, no qual o estado de direito não existe, nem a justiça se aplica, universalmente, a todos os seres humanos

3. Chega a parecer penoso que o PS de seguro, perante tal descalabro do estado de direito, do estado social e perante o que chamo de "golpe de estado encapotado" que implicará, a curto prazo, se não o travarmos, uma mudança de regime politico, da democracia para a ditadura austeritária e monetarista conservadora-liberal, dizia eu, é ultrajante que o aparelho do PS, como partido de esquerda que diz ser, não se mobilize para a luta, para a denúncia e para a rejeição desta situação. O que é que os impede? Quais as amarras que o prendem?

Esta situação torna-me pessimista, mas ao mesmo tempo aumenta a minha rebeldia. Nunca como antes, o nosso país necessitou do contributo daquela meia dúzia de pessoas que sabem o que andam cá a fazer e e percebem como funciona a sociedade. O que me prova esta situação é que, de facto, há demasiada gente que não sabe que papel há-de assumir enquanto ser humano. Mais, muitos, nem sabem que têm de assumir um papel. Quem sofre é a democracia, dominada e violada por aqueles que, mantendo o poder, se alimentam da falta de consciência democrática dos demais.

Poucos, mas bons...A luta nunca foi tão necessária como agora.

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