Praticamente...nada!
Zé Manel, o mais perfeito exemplar de um antropóide da categoria nacional mais representativa, o Homem Light, ou como diria Saramago, o Homem Duplicado, nas suas diversas verborreias de café, lar ou trabalho, sempre que questionado, até num mero fórum Internet, sobre a sua (In) consciência religiosa, responde sempre:
- Sou Católico, Não Praticante!
É engraçado! Desde o Zé Manel da tasca ao Zé Manel da festa Jet 7, cuja tromba sai escarrapachada na revista “Trombas” ou na “Nova (Indi)gente”, de acordo com o princípio Universal da lei do Mais Fácil, a resposta a esta pergunta é sempre igual, :
- Sou Católico, Não Praticante!
Até custa a crer que ovelhas destas, muitas delas tão tresmalhadas que só se lembram que são do rebanho quando, numa manhã de sobriedade pós crepúsculo festivo, se dão conta de que estão dentro de uma igreja, numa qualquer festinha de casamento, baptizado ou funeral, onde são capazes até de largar uma lágrima ou duas, se auto denominem de Católicos, com toda a sua muito limpinha, brilhante e assinada lãzinha.
Claro que se calhar não são só Católicos Praticantes. Se calhar, se formos bem a ver, são apenas…Praticamente Não Católicos! Digamos que, para que toda a gente possa pertencer ao rebanho de carneirada que age por reflexo condicionado, a igreja católica decidiu criar duas categorias de ovelhas:
- Os católicos praticantes, ou seja, os Beatos
- Os católicos não praticantes, ou seja, os católicos light ou os Praticamente Não Católicos.
Numa era da superficialidade, do faz de conta, do diz que disse e do que parece mas não é, até deus parece que existe. Para todos os querem parecer bem, agradáveis à vista, dá um jeitaço haver uma categoria de Católicos Light. Se até há chocolate light! E manteiga light! Porque não um Católico light? Afinal, Católico Não Praticante é isso mesmo, é Na Prática Não Se Ser Católico. Uma espécie de “Sou Católico, Mas Na Prática Não Sou” ou melhor ainda “Sou Católico Mas Não Sou”. Contradição? Nem por isso. Tudo o que parece ser…não o é. Aparentemente uma regra, com algumas aparentes excepções, mas mesmo assim, pelo menos, aparentemente, uma regra.
Já viram se a igreja não tivesse uma versão Católico Light, uma espécie de Aparentemente Católico? O que seria dela? A regra Católica é tão dura que não sobraria nenhum, nem o Papa se safava. Pelo menos é o que parece, quando vemos o estado da Igreja Católica e dos seus ministros.
Zé Manel da Tasca, o Católico não praticante, de dia católico, à noite ateu, dos mais ateu que se pode ser, teria de prescindir do seu vinho diário, da porrada na Maria, da fuga aos impostos, da Inveja do vizinho do lado, do gosto desmesurado por tudo o que envolve dinheiro, do consumismo, da conivência com a injustiça, da cobardia no trabalho… A sua Maria teria de prescindir da novela com cenas quase pornográficas, das cusquices sobre a vida alheia…Os dois teriam de prescindir das aparências, das ilusões, da inveja e da língua também.
Já o Zé Manel do Jet 7, incluindo aqueles Zés Manueis que tudo fazem para vir a pertencer a este Jet 7, ou pelo menos, que tentam fazer parecer que pertencem ao Jet 7, teria de prescindir da superficialidade da sua vida em detrimento de um conceito mais espiritual, mais esotérico, ou…alegadamente, mais cristão. Teriam de prescindir da cultura do corpo, para passar à cultura do espírito. Teriam de prescindir do consumismo compulsivo, das festas regadas a álcool e parece que a açúcar branquinho, a prescindir do mixing sexual, das mentiras, dos bicos de pés, da inveja, do gosto desmesurado por tudo o que envolve dinheiro, das novelas com cenas quase pornográficas, da palmadinha nas costas… As Marias também teriam de prescindir disto tudo, mais da cusquice (os Zés do Jet 7 também) e de outras coisas sem fim que, aparentemente, de cristão e católico nada têm.
Já perceberam? Ser Católico Light é poder fazer isto tudo e muito mais. Pode roubar-se, matar-se, violar-se, mentir-se, burlar-se, defraudar-se, tudo está ao alcance de um Católico Light. Basta olhar para os nossos conterrâneos católicos (se calhar não estão lá muito católicos). Desde a Tasca ao T-club, passando por aquelas casas de maus hábitos que são o Palácio de S.Bento e da Ajuda. Nestes, os Light misturam-se com os Hard e vejam o que sai de lá. Alegadamente, uma grande hipocrisia, cinismo, corrupção, Tráfico de influências, Lavagem de dinheiro, peculatos e outros actos de correspondência quantitativamente quase perfeita, em termos éticos, à crença que dizem possuir por deus, por Cristo e pelo espírito santo.
Se Católico Light é não ter de fazer Jejuns (Já não há Jejuns na Igreja Católica? Mas havia). Jejuns? Agora basta não comer carne de animal terrestre na 6ª feira Santa. Ser Católico Light é não ter de viver em função do espírito e fazê-lo em função corpo e da matéria (principalmente do vil metal). Aparentemente até ainda temos a a bula das indulgências. Basta dar dinheiro à Igreja e praticar a caridadezinha. Ser Católico Light é não ter de fazer sexo apenas para procriar (já não é assim? Basta só não usar preservativo). É não ter de ir à missa ao domingo etc. Aparentemente, desde que se reze, penitencie e confesse, podemos prescindir de qualquer plano ético de sobrevivência. É pecado? Não interessa, aparentemente, basta o arrependimento De facto, que Deuzinho tão bom!
Mas há mais. Um católico light até pode, quando está com os copos, emitir grunhidos satânicos e sacrilégios diversos. Pode até ser pedófilo (Ai, os católicos Hard também?). Podem explorar o próximo, desde que seja para obter lucro etc. As Santas casas da misericórdia, as Legiões, As boas vontades, estão cá par ajudar com a cardidade, a limpar o lixo para debaixo da cama. Afinal, basta parecer que se está limpo, porque arrependendo-se, até deus se engana.
Espera aí, estou a constatar que a própria Igreja Católica é uma Igreja Light quanto baste para se poder dizer…sou católico não praticante! Como é que alguém pode ser algo que na prática não é? Se calhar a Igreja Católica é que é light e os católicos não praticantes, são…Católicos Diet. Ou Católicos Slim, ou Mini-Católicos. Uma espécie de Meia ovelha, meio lobo.
Afinal, tudo isto não importa, porque seja que tipo de católico for, do Light ao Diet, afinal só tem de se arrepender. Se se arrepender, deus perdoa, se não deus não perdoa. Ou seja, podemos cometer toda a espécie de barbáries, podemos mesmo renunciar à nossa humanidade e à nossa consciência (aliás, todos os dias ouvimos as ovelhas dizerem: - Que Inconsciência!), porque no fim, basta, em consciência, arrependermo-nos. Estamos perdoados e vamos para o céu.
Ora porra! O que ando eu aqui a fazer com problemas de consciência? Respeitar o próximo, ajudar o próximo? Vou mas é ser Católico Light, Diet, Mini ou seja o que for, pois tudo será mais fácil, a consciência dos meus actos nem precisa de ser a minha. Basta a consciência de Deus, é ele que me perdoa no fim. O peso de consciência é Dele. Que jeito que isto dá a tanta gente. POR isso há tanta Inconsciência. Ah! Portugal, depois de tudo, afinal…basta o arrependimento.
Viva a era do Light, até já há religião Light para pessoas Light.
Hugo Dionísio